Capítulo Dezanove

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♫ Yoke Lore- Homing ♫

Baixo a música, bato palmas, dou uns gritinhos de encorajamento e dou por terminada a aula de hoje. Os meus meninos sorriem de felicidade e aproveitam para meter a conversa uns com os outros.

No início, eu dava apenas aulas de dança às segundas, quartas e sextas. Acontece que, tem feito tanto sucesso, que nas últimas semanas tenho dado aulas todos os dias. Duas horas de manhã, duas horas à tarde e nunca parece suficiente. Quero sempre mais e os meus alunos também.

As turmas estão sempre em constante mudança porque há sempre crianças a entrar e a sair, conforme vão começando ou terminando as férias no nosso hotel. No entanto, algumas das crianças que moram perto, pediram-me se poderiam vir a algumas aulas por semana mesmo já não estando de férias aqui.

É óbvio que não consegui negar-lhes isso. O objetivo nunca foi lucrar, faço-o por gosto, pelo que não lhes cobro nada pelas aulas em que vão aparecendo. Recebo um salário justo como professora de dança e por todo o trabalho de escritório que faço e, mesmo assim, não há nada que me faça mais feliz do que o sorriso das crianças à medida que vão acertando mais um passo.

Agora, apesar das constantes mudanças, tenho meninos que vão aparecendo sempre e que vão dando alguma solidez à turma. Uma dessas crianças é a Amélia.

Vejo-a a chegar todos os dias na sua bicicleta rosa, sempre sozinha, e parece-me sempre cansada - o que me indica que o caminho que faz ainda é longo.

Desde aquele primeiro dia em que apareceu a chorar, nunca mais aconteceu semelhante coisa. Integrou-se bem na turma, aprendeu os passos rápido, fez amigos, aparece cá todos os dias e passa todo o tempo a rir.

Ficaria feliz por ela se não conhecesse aquele sorriso, mas conheço-o. Usei-o durante muito tempo. É um sorriso de quem guarda dentro de si muita dor e angústia que prefere esconder e dissimular com felicidade fingida. Podemos manipular o nosso sorriso mas os nossos olhos? Eles dizem tudo e os dela estão fundos e tristes.

Quero tirar-lhe a dor. Gostava de ter esse poder. Talvez tenha, mas não sei como chegar até ela. Sempre que lhe pergunto como se sente, ela dá-me um pequeno sorrisinho e diz-me algo como "aqui estou sempre bem".

Aqui.

Dá-se um clique na minha mente. De todas as vezes que lhe perguntei se ela estava bem, ela respondeu sempre de maneiras muito semelhantes.

"Aqui, sinto-me sempre bem."
"Estou aqui, estou bem."
"Agora sim, estou bem."

Ela faz o esforço de vir até aqui todos os dias porque se sente bem aqui como em nenhum outro lugar, o que me leva a questionar o ambiente que tem em casa.

Cheguei a pesquisar mais sobre os seus pais depois daquele dia e acabei por descobrir que eram donos de uma grande empresa. Acabei por assumir que problemas de falta de dinheiro, não deveria ser.

Vi os pais dela juntos em varias ocasiões enquanto estavam de férias no hotel e tudo me pareceu bastante normal. Acabei por assumir que tinha sido apenas um caso pontual. No entanto, no decorrer destas últimas semanas, percebi que algo realmente se passa. Não posso deixar que isto continue. Se se passa algo com a Amélia, eu quero descobrir.

Dispenso os meus alunos, dou-lhes mais cinco a todos e digo-lhes o quanto foram bons hoje e o quanto os espero ver amanhã. Eles retribuem-me com abracinhos, beijinhos e sorrisos e saem da sala, conversando uns com os outros.

Reparo, mais uma vez, como Amélia me olha sempre uma última vez antes de sair porta fora. Como se estivesse a agradecer-me silenciosamente pelo escape que lhe dou com estas aulas. Ou como se desejasse que eu fosse capaz de a compreender.

Vejo-os todos a sair e dirijo-me à janela que me permite ter uma visão clara da entrada do hotel. Aos poucos, os meninos que já não estão de férias no hotel, vão chegando à entrada e abraçam os seus pais antes de se enfiarem nos carros. Menos Amélia, que vem um pouco mais atrás de todos. Espera que os seus amigos se vão embora antes de se dirigir cabisbaixa até à sua bicicleta.

Quando se afasta, dirijo-me aos chuveiros. Antes de me enfiar no banho, envio uma mensagem ao Lucca:

Desde aquele dia no seu carro e da discussão que ele teve com Bernardo, Lucca tem andando mais reticente

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Desde aquele dia no seu carro e da discussão que ele teve com Bernardo, Lucca tem andando mais reticente. Cruzamo-nos várias vezes ao longo do dia e vamos falando um com o outro mas sinto-o mais afastado de mim, como se tivesse medo de que, se se aproximar de mais, me possa magoar. Sei que a conversa com Bernardo lhe mexeu com a cabeça.

Não tenho tido muito tempo para me focar no que isso me faz sentir mas sei que, independente disso, ele vai lá estar sempre para mim. Daqui a dez minutos em ponto, o Lucca vai estar onde eu preciso que ele esteja. Nesse momento, isso basta.

Tomo banho de água fria, desejando aclarar as ideias.

Não funciona.

O que acham que vai acontecer a seguir? Será Alice capaz de ajudar Amélia?

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O que acham que vai acontecer a seguir? Será Alice capaz de ajudar Amélia?

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