Arabella

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As viúvas-negras, filo dos Artrópodes, classe dos Aracnídeos, têm esse nome popular porque, logo após o coito, costumam devorar o macho após a cópula. São aranhas venenosas, que picam assim que se sentem ameaçadas. Seu veneno tem ação neurotóxica, ou seja, a toxina atinge e danifica diretamente o sistema nervoso da vítima. A fêmea tem o abdômen de cor preta, com um detalhe vermelho ao centro. Podem ser encontradas em pequenos arbustos, sempre tecendo suas teias finas e pegajosas.

Mas eu estava vendo uma bem em minha frente.

Jaqueta de couro preta, regata vermelha por baixo. Calças também de couro, escuras como seu cabelo. Os fios ajeitados em um topete para trás, mantendo apenas uma única mecha em sua testa.

As argolas pareciam acompanhar os movimentos que seu pescoço fazia, os lábios sorrindo de canto, acompanhadas dos olhos mirando por baixo.

Foi quando senti uma teia ser tecida em minha volta.

O drink de cor avermelhada foi levado até seus lábios. Reparei em sua mão direita, eram grandes o suficiente para que o copo nadasse ali.

Parecia manter os dedos relaxados enquanto segurava a borda do vidro. As unhas estavam pintadas de preto, de forma preguiçosa. Parecia antigo.

Seus lábios foram lambidos pela própria língua assim que baixou o copo. Percebi, que além de avermelhados pela bebida, eles tinham um piercing no lábio inferior do lado direito.

Suspirei.

Viúva negra abaixou sua cabeça, o olhar se tornou perigoso, tal como alguém que estava no topo da cadeia. Era predatório.

Os orbes me olharam daquele ângulo, a cabeça inclinada para baixo, a pupila parecia se fundir à sua íris.

—Jeon Jungkook. —Hoseok colocou o copo em minhas mãos. O olhei confuso. —Você não é exatamente transparente, Jimin-ah.

Deitei a cabeça em meu próprio ombro.

—O que trouxe para mim? —Perguntei, entediado. Meus ombros doíam do estágio mais cedo. A vida do universitário ia de mal a pior.

—Vodka e energético. Você está precisando se animar, Jimin. —Abri os lábios, indignado.

—Você está tentando me matar, Jung Hoseok?! —Reclamei, revoltado. —Você sabia que, quando se mistura álcool com energético é como ingerir uma bomba para o sistema simpático?! Você quer que eu tenha uma arritmia? E se eu estiver com a pressão alt...

—Eu cuido de você, Park. —Taehyung tinha uma certa mania de flertar. Ele gostava de ver como sua beleza descomunal mexia com as pessoas. E, bem, eu não era uma pessoa muito resistente.

Senti os arrepios indo embora conforme seu rosto se afastava do meu lado esquerdo.

—Além disso, meu colega de faculdade está aqui. —Virei-me em sua direção, dando de cara com a viúva-negra, que, agora, sabia se chamar Jeon Jungkook.

—Você é quase médico, Taehyung. —Apontei meu dedo indicador em seu peito. Percebi que a camisa de estampa animal, de zebra dessa vez, estava com apenas dois botões fechados. Quando levantei meu olhar para seu rosto, o sorriso sacana morava nos lábios quadrados.

Taehyung não valia nada. Ele, ao lado de Jungkook, pareciam como dois anfitriões convidando para pecar.

—Jungkook está a um semestre atrás de mim, confie em nós, Jimin-ah. —Bufei. Olhei para Hoseok, na tentativa de evitar a viúva-negra no meu campo de visão.

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