[10] CONFUSO

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MALVADO

— Já pensou o que vai em fazer com ela? — Ouço Leal perguntar, de repente.

Ergo meu olhar para si, lhe encarando duvidoso. Levo alguns segundos para entender sobre quem ele está falando, porém, quando entendo que é sobre a coroneia, seriedade sobe a mente.

A maneira que a pergunta foi feita e saiu de sua boca, me deixa com uma puga atrás da orelha. E eu nem entendo o porquê disso. Confio a Leal minha vida, mas esse seu interesse na situação da mulher... não sei.

Não sei o que pensar.

— Na televisão já estão dando ela como morta. — Comento, cruzando os braços sobre o peito.

As reportagens desde o dia da invasão são sobre a ausência da coroneia e como a polícia estava quieta. Foram várias teorias criadas nos últimos dias, e o ápice para os jornalistas foi uma notícia vazada, sobre a coroneia não ter saído viva da favela da rocinha.

— E pra piorar os vermes se negam a dar informações para imprensa. — Leal, completa.

— Já era esperado que isso acontecesse.

— Acha que eles sabem que ela tá viva? — Pergunta, sério. Sei que se refere a polícia.

— Não sei. — Sou sincero. — Se suspeitam logo vão mandar recado. Vamos aguardar.

Termino de falar e o silêncio domina a sala. Leal fica quieto, mas noto a inquietude que se instala em si com poucos segundos pensativo. O conheço bem o suficiente para saber que há algo que ele quer falar.

— Fala. — Mando.

— O quê? — Me encara, confuso.

— O que tu quer perguntar.

— Ah... — Passa a língua entre os lábios. — E quando ela acordar? O que vai fazer? Não dá pra manter ela aqui na boca pra sempre.

É minha vez de ficar pensativo. Meus planos para mulher ainda são inexistentes. Mas Leal tem razão, depois do descaso que descobri existir ontem, não dá para deixar a coroneia aqui na boca. É arriscar demais.

— Vou prender ela em alguma casa pelo morro. — Respondo. Pelo menos, até decidir se vou matá-la ou não.

— É — Pausou, parecendo raciocinar. — Isso é melhor. Tem alguma notícia dela?

— Nada.

Ontem, depois que soubemos o estado da coroneia, tivemos que resolver algumas situações. E como não sou bobo nem nada, mandei um soldado vigiar o postinho, caso a mulher tente alguma merda quando acordar.

Quero me manter informado de tudo o que acontecer.

— Tenho que voltar pro morro. — Leal avisa, me fazendo franzir as sobrancelhas.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não, nada. Tenho algumas coisas pra resolver.

Penso em perguntar sobre, mas minha atenção é atraída quando a porta da sala é aberta, revelando o Baixada, que entra na sala e se joga no sofá de canto.

— Folgado do caralho — Digo, lhe fazendo rir.

— Sempre, meu compadre. — Responde com um sorriso convencido, antes de encarar Leal com diversão. — Lealzinho, Lealzinho, tá bem, irmão?

— O que tu quer? — Leal lhe encara.

— Nada, nada. Vai me dizer que não tá sabendo dá fofoca?

Erro PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora