[01] PROPOSTA

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LEONA BLANCO

Após o encerramento de mais um plantão o meu cansaço é notável até para mim mesma.

Hoje foi um dia calmo, porém o esforço e estresse dos dias anteriores me atingiram em cheio.

Estico os braços deixando minhas costas caírem na cadeira, preguiçosa, sentindo o desconforto em meus seios.

Dou um breve olhar para área de meu busto, que está coberta pela farda, preocupada. O dolorimento na região me faz querer xingar.

Por mais que anos tenham se passado, eu nunca irei me acostumar com o peso que o leite materno me causa até os dias de hoje.

Ao começar a produzir leite materno, eu sabia dos altos e baixos. Entendia que poderia ser doloroso, mas que também seria uma experiência única. O que realmente foi. Mas apenas de lembrar qual foi o final dessa história, minha raiva ameaça subir.

Comecei a produzir leite ao me solidarizar com a situação de uma amiga. Conheci Camila, em uma balada. A mulher chegou em mim totalmente extrovertida me perguntando se eu precisava de companhia, e eu aceitei acanhada em negar.

Digamos que eu não era o tipo sociável naqueles tempos. Jovem adulta, dívidas, trabalho, enfim.

A companhia da mulher foi boa, admito. Mas havia algo estranho nela. Minha intuição não falhou. Na época eu achei normal a desconfiança, até porquê eu não lhe conhecia, e também porquê naquela época eu a via acabado de entrar para polícia. Basicamente, desconfiança era o meu sobrenome.

Eu não cheguei a contar a Camila sobre minha profissão. Eu não a conhecia bem, então por quê lhe contar algo tão importante sobre minha vida?

No final da balada nós duas acabamos trocando telefone. A mulher quase nunca me contatava, e nem eu a ela. Mas depois de quase um ano e meio ter se passado, ela me mandou mensagem. Nós conversamos e ela pediu para nos encontrarmos. Eu aceitei seu pedido e foi quando tudo começou.

Em nosso encontro descobri que ela teve um bebê, uma menina. Camila me contou que infelizmente não conseguia alimentar a criança, pois tinha baixa quantidade de leite materno.

Eu realmente me solidarizei com sua situação. Quem não faria? Admito que era estranho, de fato, mas eu lhe entendi antes mesmo dela pedir minha ajuda.

A mulher disse que eu era a única pessoa na qual ela podia contar naquele momento delicado. E eu aceitei sua proposta desesperada de produzir leite para amamentar seu bebê.

Foi a coisa mais louca que já tinham me pedido. Mas eu aceitei pela criança.

Camila me passou um remédio, mas, antes de me medicar eu quis contatar um médico. A mulher aceitou e disse que pagaria minha consulta. Não aceitava não como resposta, já que eu iria lhe ajudar.

Ela própria escolheu a clínica e nós fomos. Segundo o homem de jaleco era totalmente seguro fazer uso daquele medicamento. Então comecei a tomar o remédio e o resultado foi bem rápido.

Eu comecei a produzir o leite materno, tranquilamente. Estava sendo bem fácil e até divertido. Eu alimentava o bebê e ajudava a mulher a cuidar da menininha. Mas depois de um tempo as coisas mudaram. A vadia foi sumindo aos poucos, até que, puf, desapareceu com a criança.

Fiquei sem entender o por quê dela ter feito aquilo. Deixei de tomar o remédio, mas o leite nunca deixava de vir. Então resolvi contatar um médico. Após alguns exames descobrirmos que o remédio que tomei eram burlados, e que isso causou uma alteração em meus hormônios.

Erro PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora