[06] CORONEIA

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MALVADO

Nos becos em que passamos os moradores ainda correm para seus barracos, alguns caindo, se machucando e outros já machucados. Queria poder ajudar, mas não tenho tempo.

Os barulhos dos tiros ainda são distantes. Sinal que os vermes ainda não conseguiram entrar nem na metade do morro. Mas me pergunto até quando isso vai durar. Pela intensidade de disparos que ouço, parece que vieram mais preparados que as últimas vezes.

— Porra, não achei que isso fosse acontecer hoje.

Ouço Leal falar, enquanto corremos.

— Os filhos da puta nos pegaram de surpresa de novo. — Me frustro.

— De surpresa, não desprevenido. — Lembra, sério.

Fico quieto. Leal tem razão. O erro que cometi antes, fiz tudo para não cometer agora. Podem terem nos pegado de surpresa, mas não desprevenidos.

Fico alerta quando saímos do último beco em que estávamos pegando atalho. Avisto a rua da boca fumo vazia, sem nenhuma segurança. Paro, manejando a pistola na mão e pegando o radinho da cintura. 

Leal me encara atento quando trago o objeto boca, falando.

— Quem tá fazendo a segurança da boca? — Pergunto, sério.

Encaro Leal, que parece ter entendido a situação. Alguns segundos de silêncio se passam, até que obtenho a resposta da minha pergunta.

— Eu tô aqui, patrão. — Ouço o soldado falar do outro lado da linha.

— Tô colando aí com o Leal. Já tô aqui na frente, fica atento. — Aviso pra não correr o risco de tomar uma bala de graça.

Não espero uma resposta. Volto a guardar o rádio na cintura, ouvindo os disparos distantes.

— Quer que eu vá na frente? — Leal, pergunta.

— Não. — Respondo, seco. Nunca arriscaria a vida desse filho da puta.

A polícia pode não ter invadido essa área ainda, mas não vou arriscar. Esses vermes são sujos. E o helicóptero não está tão distante de onde estamos. Não podemos revelar a boca de mão beija.

— Vou primeiro e te dou cobertura. — Aviso, tirando minha camisa e cobrando o rosto.

Atento, quando o helicóptero nos dar a costas, corro e atravesso a rua. Por sorte nada acontece. Aparentemente a área está mesmo limpa. Leal passa em seguida.

Assim que entramos na boca avisto o soldado vir a nosso encontro.

— Quem tá contigo? — Pergunto. — Não vi filho da puta nenhum escondido lá fora.

— Tá só eu e mais cinco, patrão. Nós se dividiu pra fazer melhor a segurança. Tem dois de olho na rua de trás, dois próximo a mata e um aqui comigo. — Responde.

Aumento o aperto da minha mão sobre o cabo da pistola, me controlado.

Novamente puxo o radinho da cintura, dessa vez puto.

Quero proteção aqui em cima! A nossa primeira prioridade é a boca. Esqueceram disso, porra? — Grito no radinho.

Nem espero por respostas. Sei exatamente quem eu coloquei para fazer a segurança aqui encima. Se os filhos da puta não colaboram, só resta um caminho. Caminho esse que não me agrada seguir.

Coloco a boca como prioridade porque é ela quem me dá dinheiro para bancar os custos aqui de dentro. É daqui que vem o dinheiro para ajudar a comunidade e os moradores. Sem dinheiro não tenho como fazer isso  funcionar.

Erro PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora