High Infidelity (Formula 1 Story)

"Gaslynhada"

Não sei em que momento da noite aconteceu, mas eu virei super amiga do Lewis e do George, tanto que agora estávamos almoçando em um restaurante perto do hotel e conversando sobre a paixão por fórmula. Até que o assunto parou em como fui parar na ESPN cobrindo as corridas.

—Bom, o processo de seleção até que não foi tão difícil. Mas acho que não teria conseguido se não fosse pela redação que fiz para entrar na faculdade.
—E qual foi o tema dela?—Pergunta George.
—O tema era sobre meritocracia e como isso pode ou não afetar as camadas mais baixas da sociedade.
—Isso é tema muito bom, e se você conseguiu ir pra ESPN com isso, definitivamente foi uma redação incrível.—Disse Lewis.
—Eu falei sobre o automobilismo, e como infelizmente é um esporte bastante elitista e, é praticamente impossível chegar ao topo através da meritocracia. Afetando diretamente as camadas mais baixas, seja para quem é fã do esporte ou quem sonha um dia ser campeão mundial.
Tipo, mesmo que tenha casos de incríveis pilotos que vieram de famílias humildes com pouca renda para se investir no início, quando ainda se estava no kart, e a partir daí conseguiu evoluir e chegar às categorias de base, e até mesmo na F1, quem tem mais dinheiro e estiver disposto a pagar, e na maioria das vezes sempre estão dispostos, compram um lugar em qualquer equipe.
Isso realmente não só afeta quem veio de uma camada menos privilegiada, mas também de quem tenta e se esforça pra chegar no topo, e acaba perdendo para pagantes. Mas enfim, eu não falei especificamente sobre e apenas isso, mas usei isso como uma base e me aprofundei mais na questão de meritocracia e a sociedade no geral. Eu me orgulho tanto dessa redação, não só pelo fato de abrir uma importante discussão, mas também pelo fato de ter aberto muitas portas pra mim.
—Ceci...Isso é incrível! Eu não sei nem o que dizer, você ainda tem uma carreira gigante pela frente.—Hamilton diz e sinto que estou prestes a chorar.
—Uau.Você já tinha o meu respeito desde quando calou a boca do Verstappen na conferência, mas com isso ele só aumentou.—Russell fala e eu quase rio com a parte do Verstappen.—Bem que Charles disse que você além de ser uma jornalista incrível, também era uma pessoa incrível que enxerga o mundo à sua volta.
—É...ele também tinha falado sobre um projeto que você tem em mente pros próximos anos.—Lewis diz e eu fico surpresa por saber que Charles comenta sobre mim, e que além disso comentou sobre o HumaniKartying.—Eu achei  a ideia muito interessante, queria saber mais sobre e como que surgiu a ideia.
—Ah, não é nada de mais...É só um sonho que
ainda não saiu do papel.
—Tenho certeza que vindo de você pode ser tudo, menos "nada de mais".—Diz George.

—Esse sonho surgiu quando eu tinha uns seis anos, foi quando meu pai começou a trabalhar nas competições de kart. E eu apenas com seis anos de idade, já conseguia ver as diferenças no esporte e achava muito injusto quando por exemplo, se uma criança com condições mais baixas perdia a corrida,então ela não poderia mais correr por um bom tempo ou nunca mais.Isso me deixava muito frustada, porque muitas das vezes era o que acontecia, ou elas não tinha um carrinho tão bom quanto dos outros ou não tinham condições de bancar mais competições.
Então foi quando eu percebi que quando eu crescesse eu iria lutar muito pra construir um lugar mais inclusivo nesse esporte, porquê eu não queria mais ver crianças largando seus sonhos por conta de dinheiro. Por isso faço de tudo, pra quem sabe daqui a cinco ou dez anos, eu consiga construir esse lugar, onde pelo menos elas possam dar o primeiro grande passo para as  grandes categorias.

       Ficamos um bom tempo conversando sobre isso e no final não sei o que aconteceu, mas Lewis Hamilton acabara de se tornar  meu mais novo sócio...Ainda não era oficial, mas ele fez questão de dizer que irá me ajudar a construir esse mundo no esporte e que vê essa parceria por muitos anos, e que esperaria o break começar para oficializarmos as coisas.
     Hoje foi um grande passo na minha vida, e não seria possível se não fosse pelo Charles.Quando volto pro hotel, corro direto pro quarto de Leclerc agradecer por tudo isso.

—Por favor, não me mate.—Ele diz ao abrir a porta e eu entro no quarto.
—Por que eu iria querer te matar? Você realizou um dos meus maiores sonhos!
—Fazer parte da fofoca do paddock?—Ele diz confuso.
—Oi?
—Ah...Pensei que você estivesse falando do tweet,deixa pra lá.Qual foi o sonho então?—Ele pergunta tentando me fazer esquecer sobre a tal fofoca.
—Agora não importa, do que você 'tá falando?
—Abre o Twitter.

    Quando abro o Twitter e vou logo ver os trends e me dou de cara com "Gaslynhada" em top5. Sei que nos próximos minutos posso me arrepender de ter entrado na tag, mas precisava saber o que estava acontecendo.
       Por enquanto estava tudo bem, a maioria dos tweets eram falando que achavam que ainda tinham fofocas sobre Mônaco ou citando todas as peripécias que Pierre Gasly fez durante a temporada, até que me deparo com um certo tweet. Ele me citava como "melhor amiga do Charles" e falava sobre o fato do Pierre ter sido visto aos beijos com uma morena misteriosa na mesma festa em que estávamos, e que por coincidência uma semana antes nós estávamos no aniversário do Leclerc.
    Graças a Deus não citaram meu nome diretamente e isso só estava insinuando que tínhamos nos pegado apenas de forma implícita, mas pelo meu azar, Charles Leclerc havia curtido aquele tweet.

—Por que diabos você curtiu?
—Eu não tinha lido direito na hora.—Charles tinha essa mania horrível de curtir as coisas que é mencionado antes mesmo de ler.—Se você quiser eu posso descurtir.
—Não!
—Por que não?
—Seus fãs são doidos, malucos, fora da casinha. Se virem que você descurtiu algo como aquele tweet, aí mesmo que vão especular mais coisas.
—É...Você tem razão.
—Eu sempre tenho.
—Mas agora o que você vai fazer, tipo, isso não vai ser ruim no trabalho?
—Já são quase três horas da tarde e ninguém me ligou ou mandou email falando que fui demitida, então acho que até agora to no lucro.
—Mas se tentarem te demitir, eu vou até o estúdio deles e coloco fogo por demitirem a melhor jornalista que eles já tiveram.
—E aí isso iria pros trends e acidentalmente eu curtiria um tweet falando que viram você lá dentro minutos antes.
—Que ótima amiga.
—Essa seria uma verdadeira Charlinhagem.
—Char o quê?
—Charles e piranhagem, tipo a Gaslynhada.
—E o que seria a Gaslynhada?
—Gasly e piranhada, pinranhada do Gasly.—Eu responde e ele começa a rir com isso, e literalmente o trocadilho mais idiota do mundo e ele se acabou de rir.—Enfim sem querer mudar de assunto,mas graças a você...
—O que foi graças a mim?
—Hamilton vai ser meu sócio no projeto!
—Meu Deus!—Ele diz e me abraça.
—Obrigada.—
—Ceci, isso é incrível! E você não precisa me agradecer por isso.—Ele aperta ainda mais o abraço e então a ficha caiu do que estava acontecendo e as primeiras lágrimas do dia rolaram.

    Depois de horas de um voo extremamente cansativo e de três semanas longe dos meus filhos de quatro patas, eu finalmente estou em casa. Foram semanas maravilhosas, e eu amei cada minuto, eu já tinha visitado o México outras vezes, mas nunca perto do feriado de Dí de los Muertos e a cidade estava a coisa mais linda do mundo, foi surreal.
          Depois de comer alguma coisa, desfazer minhas malas e brincar um pouco com Timmy e Lady, abro o instagram e me deparo com quem em minha Dm? Isso mesmo, o moleque piranha, Pedro Gaseoso, ele estava perguntando se eu iria fazer alguma coisa na próxima terça-feira, e essa era exatamente a data do jogo do PSG, que pela minha sorte ou azar, eu tinha comprado o ingresso.
     Não sabia o que responder, e por um segundo quase entrei em pânico. Independente da minha resposta, ele saberia mais cedo ou mais tarde que eu estaria no estádio e ele não iria perder a oportunidade, e de qualquer forma eu estaria lascada e Gaslynhada entraria novamente em alta no Twitter.Nesse momento eu fiz a coisa que mais me parecia inteligente na hora, liguei pro Charles.