Trigésimo terceiro capítulo

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Quero gritar e chutar essa droga de porta, mas sei que nada vai adiantar. Encosto minha testa contra a madeira e deixo os punhos cerrados ao lado do corpo. Só quero um pouco de sossego. Quero que tudo se conserte, que eu possa ficar em paz, mesmo não tendo lugar algum para ir. Só quero deitar e dormir sem ter medo, e então mesmo com sono, coloco minha camisola, me jogo na cama e tenho vontade de chorar, mas estou cansada de dizer a mim mesma que sou fraca, então me controlo.

Seguro o frasco onde o elixir está e analiso o líquido, movendo de um lado para o outro, pensando se é realmente a cura.

Um barulho na porta principal do quarto me faz levantar e ficar a postos. Escondo o frasco entre os lençóis e olho para a porta abrindo devagar. Se for um guarda ou criado, pretendo gritar pedindo que saia daqui. Então, em meio a escuridão, forço meus olhos e vejo um cabelo ruivo preso em um coque. É Lilith, vestindo roupas ainda mais sérias.

- Achei que precisaria procurar mais - Ela diz, pondo fios rebeldes do seu cabelo para trás, os alinhando. - Acho que é um alívio saber que tem seus próprios aposentos.

- Vai mesmo ficar vindo aqui? - Pergunto. É uma loucura ela fazer isso tendo tantos guardas, e faltam poucas horas para o nascer do sol. Estou começando a achar que perdeu o juízo.

A vampira para, hesitando por um momento.

- Devo ir embora?

Quero dizer quem sim, mas minha mente é uma droga, e me faz balançar a cabeça, fazendo que não.

Em um momento estranho e constrangedor, ficamos nos encarando, seu olhar abaixa por um segundo e depois ela se vira na direção da janela.

Vou até lá, ficando de frente para o vidro, olhando a lua, que está linda mas logo dará lugar ao sol.

- Eu vou me casar na lua vermelha. - Digo, correndo os olhos pelas estrelas e imensidão do céu.

- Você vai realmente... - Ela para, e respira fundo. A vampira encosta sua testa no vidro e cerra a mandíbula.

- Não é que eu queira - Falo, pondo a mão em seu ombro, mas ela afasta e sai de perto de mim. Continuo olhando para fora, evitando uma briga. - Ele que é um louco e insiste nesse casamento.

- Você pode fugir.

- Estou cansada dessa merda.

- Então quer ser a princesa? É isso que você está querendo?

- Quem não desejaria ser uma princesa?

- Com ele sendo seu príncipe? - Ela para um instante, sorri baixo. - Sabe, Bryanna... Acho que vocês se merecem, e eu que sou uma grande burra.

Cerro meus punhos, não gosto que ela pense que eu sinto alguma coisa por Kanata.

- Pare de ser estúpida! - Eu me viro, os olhos me encaram com surpresa. - Eu não gosto desse príncipe. Nunca gostei, e não quero me casar com ele.

- Mas foi com ele naquele baile - Lilith começa, listando em seus dedos. - Está no mesmo castelo que ele e será a princesa dele. - Ela cobre seu rosto um segundo. - Talvez Wera estivesse mesmo certa.

- Nada do que ela diz é certo.

- Ela estava certa quando disse que você nunca desistiria de um príncipe por alguém como... Eu.

- Eu desistiria de tudo isso para ter a minha paz de volta.

- Mas não por mim.

Quero gritar com ela e dizer que tudo isso é uma grande mentira. Quero dizer que eu jamais me apaixonei por alguém, mas acho que experimentei esse sentimento com ela.

Your Blood On My LipsOnde histórias criam vida. Descubra agora