Trigésimo quinto capítulo

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"Ódio. O que seria ódio no coração de alguém que busca ser amada? Talvez Lilith devesse sentir ódio do aprendiz que matou seu pai, porque assim a sua mãe não teria entrado em uma fase de luto e a abandonado. Ou sentir ódio de sua tia, que a batia para educar. Ou sentir ódio de Wera, que a enganou e a fez adquirir uma dívida de servidão.

No entanto, ódio era uma palavra forte demais.

Ela nunca sentiu ódio da caçadora, mesmo que dissesse repetidas vezes que a mataria. O efeito era contrário, porque Lilith desejava morrer. Mesmo que a marcasse várias vezes com a espada, fazendo odiar as cicatrizes. Ela odiava as cicatrizes, e não quem as fez.

Lilith só queria amor em meio a tanto ódio. E ela sentia amor, e queria dar esse amor a alguém."

Lilith Breckett

Bebo gim mais uma vez assim que chego em meu quarto. Essa é uma comemoração por Bryanna ter achado o Elixir, mesmo que eu não possa tomar ainda. E eu gostaria de comemorar junto com ela, mas aquele príncipe a deixa presa. Ao menos, sei que em breve poderá estar junto comigo. Sei que ela não tenta mais me matar e parece... Me amar, embora nunca tenha falado.

Fecho os olhos um instante, segurando a taça que carrega o gim. Minha mente vaga sobre seu sorriso e a forma que me olhou. Tão intensamente.

Ouço a porta do meu quarto se abrir. A figura de Corine surge das sombras, andando devagar até chega onde estou.

- Procurei por você a noite toda - Ela diz, me olhando nos olhos. - Onde estava? No castelo Orkin, com sua humana?

- Por que isso interessaria a você?

As garras fazem um furo em meu terno quando ela as coloca ali, e de repente seu olhar se torna odioso.

- Porque você esteve muito tempo sozinha. Você não tinha ninguém, e eu me importei com você. Agora me trata como se não me conhecesse - Sua voz está embargada. Ela desvia o olhar. - Como pode ter esquecido as vezes que vim até seu quarto em noites de tempestade? Sempre estive ao seu lado, Lilith.

- Mas não é você quem eu amo - Seguro seus pulsos devagar, tirando suas mãos de perto de mim. - Preciso ser grata pelo que fez por mim, mas detesto a forma que você se tornou um lacaio de Wera.

- Você não era diferente! Seguia suas ordens de cabeça baixa.

- Eu tenho um dívida porque fui idiota o suficiente - Balanço a cabeça e solto a taça no chão. - Mas eu tinha onze anos, como saberia o inferno que minha vida iria se tornar?

Seu olhar assume uma expressão fria, como a de Wera.

- A partir do momento que se apaixonou por aquela humana sua vida se tornou muito pior.

Quero dizer que está errada, mas quando penso em falar algo, a imagem de Wera e Ryben aparecendo na porta me fazem paralisar e deixar minha respiração entrecortada.

- O que é isso, Corine? - Pergunto, um provável terror no olhar.

- Um vampiro se apaixonar por uma humana caçadora qualquer... - Ryben anda devagar até mim. As costas curvadas, as mãos para trás do corpo. - Eu não posso admitir que uma de minhas criações tenha esse ato de desobediência contra mim - Seu indicador toca meu queixo. - Então, minha cara, sua destruição será ver essa humana morrer diante dos seus olhos, lembrando a você de que ela é só mais uma mortal.

- N-Não... - Eu ofego, afastando meu rosto do seu dedo.

Sinto um cheiro forte de sangue, e localizo de onde vem. Wera segura um pedaço de pano qualquer, com um sangue qualquer. Mas estou me tornando um vampiro sem consciência, e isso faz o perigo voltar. Se não me controlar, acabarei sendo tomada pelo lado vampiresco completamente, e não posso perder minhas memórias com Bryanna. Não posso.

Minha garganta aperta, sinto uma dor em meu olho azul, e recuo, tentando lutar comigo mesma para não deixar isso acontecer.

Wera sorri.

- Não acredito que se perdeu por causa de uma humana, filha. - Seu rosto esboça maldade.

Grunho, tentando afastar esse lado de mim, uma agonia se forma em meu peito, eu respiro rápido.

Sei que não é real, mas ouço gritos em minha mente como se fossem Bryanna me pedindo ajuda. Fecho os olhos com força, grito em completa agonia, e Ryben me para, colocando a mão em minha testa.

- Não tente resistir ao seu lado verdadeiro.

Meu peito dói com a força que estou respirando, e tropeço em meus próprios pés quando tento me afastar. Tampo meu rosto usando as mãos, e quando não vejo nada, de algum jeito isso me faz voltar para a realidade.

Controlo minha respiração, olho para o chão, e Ryben se aproxima com ódio.

- Por que resistir?

- Porque ela ainda precisa ver a humana morrer diante dos seus olhos! - Corine responde quase sorrindo.

Quero avisar para Bryanna fugir. Quero pela primeira vez que aquele príncipe a proteja. Eu quero que fique viva. Preciso que fique viva.

- Prendam a rebelde - O líder ordena para Wera e Corine. - Não queremos que ela escape na véspera de um grande confronto.

Your Blood On My LipsOnde histórias criam vida. Descubra agora