O silêncio entre elas nunca fora tão incômodo, estavam no meio da rua em Paris, se encarando nos olhos.
Nos da loira, dava pra ver saudade, arrependimento e amor. Nos olhos da morena raiva, ira, saudades e um sentimento que ela ainda não era capaz de assumir, ainda mais com tanta raiva que sentia por ter sido enganada.
- Precisamos conversar Paulinha. - a loira quebra o silêncio
- Agora você quer conversar? Acho que está alguns meses atrasada! - as palavras saiam de sua boca como farpas.
- Por favor…. - com os olhos marejados Carmem tentava convencer a morena a dar pelo uma chance de se explicar. - Me deixe pelo menos tentar consertar isso! - deu uma passo a frente tentando se aproximar da mulher mais baixa que automaticamente deu um para trás.
- Eu não sei se estou pronta para ouvir qualquer coisa agora Carmem. Só me deixa pensar….- virou as costas e saiu o mais rápido que conseguiu, sem olhar para trás, deixando finalmente suas lágrimas cairem e molharem seu rosto.
Carmem sabia que seria muito de uma vez só, mas tinha um pingo de esperança, afinal, Paula correspondera ao beijo e pediu apenas um tempo para pensar e depois ela a escutaria.
Cada uma foi para seu quarto de hotel. Paula chorou a noite toda com um misto de alívio por saber que a cascacu estava viva e muita raiva por ter sido enganada por tanto tempo.
A noite serviu para colocar aquilo tudo para fora e pensar se valeria a pena escutar oque a loira teria a dizer. Decidiu que sim, já estava ali mesmo, o máximo que poderia acontecer era ela mesma matar Carmem, agora de verdade.
O dia amanheceu lindo, céu claro e um sol tranquilo, apenas dando uma leve esquentada na pele de Paula. A mais nova levantou cedo, tomou um banho demorado na banheira, pediu seu café da manhã e resolveu mandar uma mensagem para as filhas.
“Bom dia meus amores!
Estou bem, não se preocupem.
Talvez mais tarde depois que eu matar aquela cascacu peçonhenta por ter forjado a própria morte.
Sim, ela está viva, a vi com meus próprios olhos!
Volto assim que der!”Voltou a xícara com o líquido quente aos lábios se deliciando com o amargo do café juntamente com a visão de filmes da grande torre.
- Então Carmem, onde você se escondeu nessa cidade? - ela se perguntava em alto tom, como se isso lhe mostrasse onde a loira poderia estar, quando o telefone toca tirando a morena de seus devaneios - Bom dia dona Paula! Fui instruído de passar um endereço para a senhora. A dona Carmem disse que ficaria lá por tempo indeterminado esperando a senhora. - passando em seguida o endereço para a hóspede.
- Esse lugar fica muito longe daqui?
- Não senhora, apenas alguns minutos. Quer que chame um taxi?
- Sim por favor. Em 20 min estarei descendo. Obrigada
Seu coração gostava de lhe pregar peças, apenas a possibilidade de ver novamente aquela loira fazia com que ele acelerasse tanto que chegava a errar algumas batidas.
Exatamente 20 min depois Paula chegava a recepção do hotel. Prontamente encaminhada ao taxi que já estava a sua espera. Depois de aproximadamente 30min ela chega à frente de uma belíssima casa.
Era um sobrado de 2 andares, provavelmente da era renascentista. A construção se assemelhava muito a um pequeno castelo, com suas portas e janelas imponentes, era linda!
Observou atentamente cada pedaço daquela faixada, confirmou o endereço, estava no lugar certo. Respirou fundo e tocou a campainha. Não tardou e uma senhora atendeu a porta.
- Bonjour! Est-ce que la dame cherche quelqu'un? (Bom dia! A senhora procura alguém?)
- Désolé, je ne parle pas bien le français. Est-ce que la dame parlerait anglais? (Desculpe, eu não falo bem francês. A senhora falaria inglês?)
- Sim minha querida! Assim está melhor? - a senhora era muito simpática.
- Sim, muito! Obrigada! - respirou fundo - Estou procurando por Carmem Wollinger, ela se encontra?
A senhora analisou Paula dos pés à cabeça- Você deve ser Paula, a menina Carmem falou que você viria, só errou o horário. Venha, ela está lá atras no jardim. - a senhora pegou nas mãos da morena e a levou por dentro da casa. Paula não pode deixar de olhar curiosa em sua volta. Era tudo muito bem arrumado, chique como a própria Carmem. - Com licença menina Carmem, chegou visita para você! - a senhora tinha um sorriso genuíno no rosto.
Paula acompanhou o olhar da senhora e viu, saindo do meio das rosas, uma figura totalmente diferente daquela que costumava ver. Carmem tinha os cabelos despenteados, vestia uma jardineira preta e tinha as mãos cobertas de terra. E o sorriso? Esse era gigante ao encontrar os olhos de Paula.
- Mein Schatz! Não esperava você aqui tão cedo. Estava cuidando das rosas…elas me acalmam. - sem ter qualquer resposta da mais nova, ela continuou - Eu vou tomar uma banho e volto para conversamos. Qualquer coisa pode pedir para Olivia. - passou pela senhora dando um beijo no topo de sua cabeça e sumiu pelo corredor.
- Venha criança, sente-se aqui - apontou a cadeira a sua frente - Gostaria de beber algo? - a mais nova negou com a cabeça- Tudo bem….eu conheço ela desde garota. Vim trabalhar na casa dos Wollinger muito nova, ajudei a cuidar dela, tenho um carinho como se fosse minha filha. Não se preocupe, dei uma bela bronca nela quando me contou o que fez. Só dê uma chance a ela se explicar….ela realmente te ama!
- Posso saber oque vocês estão falando? - Carmem já retornava de seu banho. Poderia ganhar um prêmio pelo banho mais rápido da história dos banhos.
- Só perguntava a ela se desejava algo para beber menina. - a senhora deu um sorriso genuíno para as mais novas.
- Você quer algo Paula?
- Não, obrigada.
- Pode ir Olivia, qualquer coisa eu te chamo. - a senhora mais velha então as deixou sozinhas.
- Me explica direitinho essa história de fingir sua morte Carmem! - passou as mãos nos cabelos - E acho bom você ter uma boa explicação ou eu nunca mais vou te perdoar!