Naquele mesmo dia, horas mais tarde chegava no apartamento de frente a praia, Paula e sua filha, Flávia. Na sala estavam as esperando, preocupados Tuninha, Ingrid e Gabriel.
Assim que abriram a porta, os três que estavam no sofá, deram um pulo ao mesmo momento. Paula deu um boa noite singelo, tinha uma cara de quem havia chorado muito e foi para seu quarto, deixando Flávia para trás.
- Mãe! Paula! - Ingrid chamava a mãe, sem sucesso.
- Deixa ela irmã, ela precisa ficar um tempo sozinha. Chorou o tempo todo no carro, mas não me contou como foi a conversa com o terapeuta. Ela só me deu essa receita Tuninha, depois pede na farmácia por favor. - entregou para a avó um papel que o próprio médico a entregou.
- Ele não falou nada com você Flávia? - Gabriel perguntava.
- Ele só disse que primeiro vai conversar com ela umas três vezes e depois comigo e com o Guilherme, já que fomos nós que o contratamos.
- Ela vai ficar bem né? - Tuninha era de longe a mais preocupada, conhecia bem a filha.
- Vai Tuninha, vai ser demorado, mas vai sim! - ela abraça a avó - Depois de amanhã vamos de novo, ele recomendou duas sessões por semana.
- E ela aceitou isso? - Ingrid estava desconfiada dessa atitude da mãe.
- Ela sabe que não está bem….
- E pra achar a minha mãe ela precisa estar bem. - assim que Gabriel falou, recebeu olhares curiosos das três - Na cabeça dela minha mãe ta viva meninas. Se isso da uma motivação pra ela ficar bem, que seja, por hora!Ingrid nessa hora teve uma ideia, duvidosa eu diria, mais ela tentaria tudo para ver a mãe bem, até mesmo mentir.
Os quatro montaram acampamento na sala, queriam estar a postos para qualquer coisa que Paula precisasse. Dito e feito, por volta das 3h da manhã a morena saiu do quarto em direção à cozinha. A princípio pensaram que ela estava com fome, já que não havia jantado, mas não. Ouviram ela falando com alguém.
- Não quero saber cascacu! Você vai comer! Eu fiz pra você! É seu doce favorito! - ela falava pausadamente como se alguém a respondesse. - Anda Carmem, não quero que ninguém acorde! Eu fiz só pra você o pudim! Se a Ingrid souber ela come tudo e não deixa nada pra você! - ela continuava enquanto passava pela sala sem perceber os quatro ali - Amor, para de rir!
- Amor? - os quatro se olharam sem entender nada.Tuninha então resolveu ir atrás, afinal, ela não era Ingrid não teria “perigo” de comer o doce precioso de Carmem. - Filha…Paula, o que você está fazendo acordada a essa hora?
Num pulo, como criança pega fazendo arte, a morena encarou a mãe e gaguejando respondeu - Eu….eu….o que estou fazendo aqui? - ela sabia bem o que estava acontecendo, mas não daria o braço a torcer. O médico explicou mais cedo que pessoas com o quadro de depressão igual ao dela terian instantes de fantasia e ela amava fantasiar com a loira, não deixaria ninguém se meter nisso.
- Não lembra Paula? - a mãe insistia.
- Não! Mas aproveitando que estamos aqui….tem como fazer um sanduíche pra mim? Estou cheia de fome!
- Lógico filha. Vai pro quarto que logo eu levo lá.E assim ela fez, rindo linda para a parede com os olhos de cúmplice de algo que ninguém poderia saber, do seu próprio sentimento, da sua própria fantasia, da sua loira.