Mad World; Draco Malfoy +18

Inferno

Desde menina, é difícil para mim lembrar de coisas do passado. Parece um borrão em minha vida que é impossível de focar. Parece até que meu passado não existe. Porém ele existe, caso contrário, não estaria no presente.
Observo o teto do dossel de Draco enquanto o próprio estava deitado com a cabeça em meu ombro e o braço por cima de minha barriga. É incrível como Draco tem um sono tranquilo. Desde que voltamos a 2 meses para a escola, eu não dormia mais em meu dormitório. Era contra as regras? Completamente, mas eu conseguia burlar sem que ninguém desconfia-se. Afinal, sou invisível. Nenhum professor, além de Lupin, chamou a minha atenção. O que era um tanto plausível já que depois que voltamos parecia que eu havia me fechado mais. Me escondia mais. Não faltava nenhuma aula e sempre entregava os deveres. Era como se tudo tivesse voltado ao normal de antes, com exceção de Draco Malfoy.
Draco parecia cada vez mais colado em mim do que o normal. Ele sempre me procurava em todos os cantos e sempre que eu fica-se por muito tempo longe dele acontecia alguma discussão. Antes de voltarmos nós tínhamos nossas brigas, mas parece que Draco está arranjando qualquer motivo para isso e para me arrastar por baixo de seu braço por todos os cantos possíveis.
Respiro fundo e olho o relógio, 04:35. Tento me levantar sem acordar Draco, mas foi impossível. Ele levantou a cabeça ainda com os olhos semiabertos e segurou meu pulso que ele alcança já que ainda está com o braço em cima de mim.

- Eu só vou no banheiro, volte a dormir.

- Não vá embora. - choramingou.

- Eu não vou embora, Draco.

- Mas você estava indo embora. Estava... estava...

- Draco, eu só quero ir no banheiro.

- Está bem.

Andei lentamente até o banheiro. Eu estava péssima. Olheiras grandes, profundas e em círculos perfeitos se pronunciavam com "perfeição". O cabelo completamente descabelado. As unhas roidas.
Os pesadelos não paravam. E pelo visto, Draco também tinha pesadelos. Eu não conseguia ler seus malditos pensamentos porque ele sempre os escondia com a oclumência.
Certamente, as pessoas que não possuem o dom da legilimência não costumam se importar tanto com os pensamentos do parceiro (menos pessoas inseguras), e as pessoas que possuem talvez não se importem tanto de uma vez ou outra encontrar alguém ao qual não conseguem ouvir a mente, mas eu não. Draco me deixa cada dia mais agoniada por não conseguir ouvir nem mesmo um sussurro em sua cabeça. Sinto que ele está escondendo algo importante de mim, de extrema importância, na verdade.

Eu não me importaria tanto se fosse outra pessoa, mas é o Draco. Talvez eu devesse rever minha confiança nele.
Ouço os passos abafados no quarto, Draco se levantou. Aperto as mãos na borda da pia até meus dedos ficarem brancos. Três batidas soam na porta do banheiro.

- S/n, volte para a cama logo! - disse Draco através da porta.

- Eu já vou, me dê só um minuto!

O ouço bufando. Meus dedos apertam ainda mais a borda da pia até eu sentir algo machucar meu dedo. Merda. De algum jeito eu consegui rachar a pia e um mísero pedaço da porcelana cortou meu dedo. O levanto na altura dos olhos e vejo o filete de sangue escorrer até a palma. A porta de abre de repente e Draco aparece com o semblante sério.
O rapaz percebe o meu dedo machucado de imediato, segura meu pulso com força e olha nos meus olhos.

- Como fez isso?

- Me cortei na porcelana dessa sua pia chique. - digo amargurada.

Ainda sem tirar os olhos dos meus ele abre a torneira e quebra o contato visual para que ele pudesse limpar o sangue escarlate.
Draco me senta na borda da banheira e sai do banheiro. Escuto as batidas de gavetas uma atrás da outra. Ele tá procurando alguma coisa. Quando finalmente acha, ele volta para o banheiro com um frasco em mãos. Era essência de ditamno. Novamente, ele segura o meu pulso com uma força desnecessária e deposita o ditamno no meu dedo. Ao terminar ele sai do banheiro e eu fico sozinha por uns bons minutos até que me levanto e saio do banheiro. Draco estava com a cabeça apoiada no dossel, os braços e os pés cruzados. O fato de ele estar apenas de cueca me distrai um pouco.