04 - Sabrina

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Prendi a respiração no momento em que meus olhos avistaram ela através da câmera. Como isso era possível? Era muita coincidência ela está aqui também.
Continuei a tirar fotos da apresentação dela e de Conan, mas parei no momento em que ela olhou para mim e seus olhos demonstraram supresa. Ela me reconheceu?
Abaixei a câmara e observei ela me olhar enquanto cantava, ela parecia totalmente alheia das pessoas ao nosso redor. E eu também estava. Tentei absorver todo aquele sentimento, mas parecia impossível. Olivia sugava algo de mim que nem eu entendia direito o que era, parecia pertencer à ela. E isso me deixava absurdamente frustrada, pelo simples fato de eu não saber o que é.
Céus, o que está acontecendo?

Pisquei repetidas vezes quando ela começou a cantar outra música, desviei meus olhos dos dela e voltei a câmera para a frente do meu rosto, para fotografar os outros convidados e os noivos.

— Ei — uma garota de cabelos rosa me chamou, ela usava um terno e estava de mãos dadas com outra garota de cabelos cacheados. — Você pode tirar uma foto nossa?

Sorri para elas e tentei não lembrar daquele dia.

— Claro.

Tirei três fotos e mostrei a elas, para caso não tenham gostado eu tirar outras. As duas aprovaram e me agradeceram, felizes. Assim que as duas voltaram para seus lugares, vi a família de alguma delas e foi quando a minha mente voou para aquele maldito dia.

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— Amor, vem aqui — August me chamou, quatro anos atrás. Andei até ele com um sorriso no rosto, ele me fazia feliz, pena que não durou. — Vamos tirar uma foto com os noivos.

— Claro, vamos! — ele passou um braço por cima do meu ombro e me guiou até onde Carlos e Ely estavam. Ely era minha cunhada e tinha acabado de se casar, todos estavam felizes, até que aquilo aconteceu.

No exato momento em que o fotógrafo iria tirar a foto, Logan, irmão de August, apareceu correndo segurando o celular na mão. Ele me fuzilou com o olhar, e foi naquele momento em que eu percebi que tudo iria por água abaixo.

Sua vadia imoral! — ele gritou para mim, fazendo com que todos os convidados olhassem. Eu sabia que Logan era conservador, mas não achei que ele fosse fazer um escândalo no casamento da própria irmã. — Como você pode enganar todos nós? — a verdade era que todos os outros sabiam sobre a minha sexualidade, menos ele (por motivos óbvios).

Do que caralhos você está falando? — August interviu, e eu o agradeci mentalmente por isso, mas a merda já estava feita, não dava para voltar atrás depois daquilo.

Você não sabe que a sua namorada é a porra de uma sapatona nojenta? — Eu não pensei que aquilo fosse doer tanto, mas doeu. Doeu como se meu coração estivesse sendo destroçado com as mãos de Logan. Pedacinho por pedacinho.

E foi quando August socou a cara de seu irmão que eu virei para trás e vomitei, aquilo tudo estava sendo demais para aguentar. Carlos provavelmente estava segurando August e os convidados estavam em choque. Mas o que me fez desabar de verdade, foi quando eu senti as mãos de Ely segurando o meu cabelo e dizendo que estava tudo bem e que seu irmão não passava de um completo idiota.

Depois daquele dia eu e August terminamos, não porque o amor tinha acabado, mas sim porque eu estava de coração partido por palavras de seu irmão e não aguentaria mais vê-lo outra vez. E eu prometi que nunca mais iria em nenhum casamento, mas olha onde eu estou agora. Irônico.

📷

Desviei o olhar da mesa delas e voltei a andar pelo salão, a fim de interromper aquela maldita lembrança e de ignorar a voz de Olivia cantando ao fundo. Fotografei tudo que era possível, a decoração, as mesas, as bebidas e comidas, os garçons e alguns dos convidados. Mas quando eu ouvi os agradecimentos de Conan e Olivia, eu soube que não tinha para onde fugir agora. Me vi presa em um labirinto onde eu tentava escapar do Minotauro, e falhava ridiculamente. Por que eu estou tão nervosa? Ela nem sabe quem eu sou.

Senti um dedo cutucando o meu ombro e me virei, assustada. E fiquei ainda mais assustada quando percebi quem era a pessoa que estava me cutucando.

— Desculpe, não queria te assustar — ela sorriu para mim, mas eu conseguia sentir o seu nervosismo. Por que ela está nervosa?

— Hã- Está tudo bem! — gaguejei um pouco ao responder e desejei poder enterrar a minha cara no chão. Que humilhante.

— Você é a fotógrafa, sim? — não respondi porque senti que era uma pergunta retórica. — Qual é o seu nome?

Por que ela quer saber meu nome?

— Sabrina. Sabrina Carpenter.

Respondi, nervosa. Olivia sorriu ladino e cruzou os braços.

— Ouvi falar que você tira ótimas fotos minhas, é verdade?

O que ela estava fazendo? Tentando me provocar?

Ouviu? Para ser sincera, é sim. Você é uma ótima pessoa para fotografar.

Pendurei a câmera no meu pescoço e passei a mão pelo meu cabelo. Isso não estava indo bem. Eu estava nervosa o suficiente para ela perceber, e ainda não havia entendido o que ela estava fazendo.

— Sou? — sua voz tremeu com a pergunta, sinalizei com a cabeça em concordância. — Interessante.

Algo em seu olhar mudou, se intensificou. Eu estava sem jeito, não sabia como me comportar. Estava torcendo para Tayla me chamar para tirar mais fotos. Comecei a observar o salão, as pessoas dançando na pista de dança, a decoração e os garçons passando com bandejas sendo equilibradas em uma só mão. Minha pulsação começou a acelerar de nervosismo e eu desejei sumir. Já havia estado no mesmo ambiente que ela várias vezes, mas isso? Isso era diferente. Ela estava com a sua atenção direcionada à mim, e isso era estranho. Sempre era eu quem a encarava, não o contrário. Não era surpresa que eu sentia uma atração por Olivia, afinal, quem não sentia? Mas isso fazia eu me sentir estranha. Me sentir errada. Era como se eu fosse uma stalker obcecada, e eu estou bem longe disso.

Fui atingida por uma onda de esperança quando Tayla surgiu no meu campo de visão, ela vinha na minha direção. Mas, como tudo que é bom dura pouco, ela foi até a porta que estava há apenas alguns passos atrás de mim e entrou. Minha esperança foi embora com a mesma velocidade que chegou.

Ouvi um estalar de língua e uma risada baixa, quando olhei, Olivia estava com a cabeça levemente abaixada e sorria. Eu realmente não estava entendendo nada.

— O quê?!

Ela levantou a cabeça novamente. Seu olhar era divertido.

— Você está nervosa. É engraçado.

Toquei no cristal pendurado no meu pescoço como eu sempre fazia quando estava nervosa.

— Olha, isso é estranho — comecei. —, estranho pra caralho. Eu não sou uma stalker ou coisa do tipo, juro. Eu vim para esse casamento apenas pra fazer um favor para um amigo. Eu não sabia que você estaria aqui. Eu nem sequer gosto de casamentos!

Eu disse aquelas palavras tão rápido que foi como se minha vida dependesse daquilo. Minha dignidade dependia, pelo menos. Ela juntou as sobrancelhas e me encarou, perplexa. Depois de alguns segundos sua expressão se suavizou e ela colocou uma mão em cima do meu ombro. Um gesto que era para ser tranquilizador, presumo.

— Ei, relaxa. Não acho que você seja uma stalker. Isso é apenas uma coincidência, não é? — concordei, porque de fato era. — Não vim aqui para te repreender, só queria conversar. Tudo bem se conversarmos?

Conversar. Ela quer conversar. Certo.

— Claro.

Não tinha como eu negar aquilo. Era apenas uma conversa.

Sua mão deslizou do meu ombro até as minhas costas e começamos a andar, lado a lado. Eu estava apreensiva sobre essa conversa, nunca fui boa em jogar conversa fora com pessoas fora do meu ciclo. Com Olivia isso seria ainda mais difícil. Ela nos levou até a parte mais afastada, onde não era fechado e conseguimos olhar as estrelas. O céu estava lindo e estrelado. Mas o tempo estava frio e úmido, meus pelos se arrepiaram quando o vento gélido me atingiu e eu me encolhi no meu próprio abraço. Eu e Olivia ficaríamos ali, no tempo frio, jogando conversa fora até que precisassem de nós.

AURA - SaliviaOnde histórias criam vida. Descubra agora