05 - Olivia

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Abri os olhos quando senti o sol forte entrar pelas frestas das cortinas e atingir meu rosto, me impedindo de continuar dormindo. Joguei as cobertas para longe do meu corpo e me sentei na cama, esfregando os olhos para afastar a sonolência. Se eu não precisasse ir me encontrar com Gracie para um café da manhã e para escrever músicas, eu poderia facilmente voltar a dormir. Mas na vida precisamos fazer outras coisas além de dormir, infelizmente. Me levantei com toda a coragem que consegui reunir no meu corpo e caminhei até o banheiro, pronta para tomar um banho quente.

A água caia tão deliciosa e relaxante pelo meu corpo, me fazendo despertar e aliviar a dor de cabeça que eu havia conseguido ontem, quando fiquei até tarde escrevendo um rascunho. Eu poderia ficar o dia inteiro ali. Mas, na verdade, não podia. Eu tinha compromissos, entrevistas para ir, músicas para compor e testes para fazer. Eu tinha obrigações a qual precisava dar tudo de mim. Extasiante mas exaustivo.

Quando entrei no carro, liguei a rádio para me sentir menos sozinha. Dei a partida e dirigi pelas ruas muito movimentadas de Los Angeles, o tráfego estava agitado pelo fato de ainda ser sexta-feira e algumas pessoas estarem indo trabalhar. Algumas crianças e adolescentes indo para a escola, mulheres absurdamente ricas fazendo compras em lojas caríssimas enquanto outras se matavam de trabalhar em lanchonetes para conseguir pagar a faculdade. Turistas admirados fotografando cada esquina e homens babacas sendo homens babacas.

Estacionei em uma vaga perto da cafeteria combinada e desci do carro, caminhei até a entrada do estabelecimento e respirei fundo antes de entrar. Olhares surpresos me atingiram quando eu comecei a andar até a mesa onde Gracie estava. Tentei agir normalmente, como se aqueles olhares fossem direcionados a outra pessoa. Gracie havia escolhido uma mesa nos fundos da cafeteria, afastada das outras pessoas para nos dar privacidade. Ela se levantou e me cumprimentou com um abraço, quente e reconfortante. Eu não sabia que sentia tanta falta dela até aquele abraço.

— Como foi o casamento? — Gracie me perguntou, voltando a se sentar quando encerramos o abraço.

— Foi lindo! — respondi quando sentei na cadeira a sua frente. — Verônica estava perfeita.

— Ela estava mesmo.

Eu sorri, lembrando de como a minha agente estava linda e feliz em seu casamento. Mas, quando minha mente voltou para a noite do casamento, não foi Verônica vestida em seu lindo vestido branco que me fez suspirar, mas sim ela: a fotógrafa. Sabrina. Sabrina Carpenter.

Joguei todos os pensamentos para longe quando vi Gracie pegar o ukulele, tirei o meu caderno de rascunhos e meu lápis de dentro da bolsa e coloquei em cima da mesa, abrindo na música que eu ficara a noite inteira tentando escrever. Empurrei o caderno para ela ler e dizer se está ficando boa. Eu queria que essa fosse a música principal do nosso álbum. Sim, nós duas iremos lançar um álbum juntas. Estou ansiosa para isso.

Uma garçonete com o cabelo incrivelmente azul se aproximou da mesa.

— Bom dia. Já sabem o que vão comer? — ela perguntou com um sorriso simpático no rosto, mas parecia nervosa.

— Bom dia. Vamos querer panquecas e café, por favor. — olhei para Gracie para saber se ela também queria aquilo, ela assentiu com a cabeça.

— Café expresso ou...?

— Preto. Obrigada.

— Claro. Já já trago o seu pedido.

E então ela voltou para o caixa. Voltei a olhar para Gracie, ela fazia algumas alterações no rascunho. Não me importei, lhe mostrei exatamente para isso. Quando você decide escrever música com outra pessoa, tem que entender que alterações são uma coisa boa. Ela marcou alguma coisa e soltou uma risada, olhou para mim mas não disse nada. Também não perguntei. Quando ela jogou o caderno de novo para mim, a garçonete já tinha trazido as panquecas e os cafés. Bebi um pouco enquanto lia as alterações que ela fez. Mudou falsidade para insinceridade; quando te vi para quando vi seu rosto; viesse para estivesse; só sei que para tudo que sei é que. Ela também marcou em vermelho a palavra "encantada" por causa que usei o pronome feminina e escreveu um hm em cima. Céus. Nem eu tinha percebido que mudei o pronome da palavra. Pelo menos ela não tocou no assunto.

— Essa música está incrível, Liv — Gracie mastigava um pedaço da sua panqueca enquanto fazia uma melodia para a música. — Quer trabalhar mais nela?

— Eu estava pensando que ela poderia ser a destaque no nosso álbum.

Revelei, apreensiva, pensava que ela não iria concordar. Mas, quando ouviu o que eu disse, Gracie abriu um sorriso radiante e assentiu. Ela começou a cantarolar a música baixinho enquanto testava a melodia. Sorri de volta, a melodia encaixava perfeitamente com a letra. Gracie sabia como fazer música. Cantarolei junto com ela e voltei a compor a música. Ainda faltava muito para ela ser finalizada. E aquele pouco que consegui escrever na madrugada não era nem o começo.

— This night is sparkling — ela cantou, completando a música. — don't you let it go — a frase encaixando-se perfeitamente com a letra que já estava escrita.

I'm wonderstruck
Blushing all the way home
I'll spend forever
Wondering if you knew

Comecei a escrever mais, enquanto ouvia ela cantarolando e testando a melodia. Meu Deus, que saudades de compor uma música feliz. Fazia um bom tempo em que eu só conseguia escrever músicas tristes e sobre ex's. Músicas muito boas, é claro, mas eu sentia tanta falta de escrever algo feliz por vontade própria. Escrever algo assim sem me forçar a fazer isso.

This night is flawless
Don't you let it go
I'm wonderstruck
Dancing around all alone
I'll spend forever
Wondering if you knew
I was enchanted to meet you

Continuei escrevendo, como se a minha carreira dependesse daquela música. Eu estava em êxtase por ter escrito aquilo com tanta facilidade. E eu estava feliz por estar fazendo isso com Gracie. Muito, muito feliz.
Depois de muitos minutos, quando já havíamos bebido o café e devorado as panquecas, eu tinha finalizado a música. Analisei ela uma última vez e entreguei o rascunho para Gracie, para ela fazer aquela mágica com a letra. Ela cantarolava a música enquanto seus olhos liam a letra. Quando terminou, não disse nada, apenas me olhou com aquele olhar brilhante e encantador. Gracie era encantadora.

— E aí? Ficou boa?

— Está ótima. Vamos fazer isso acontecer, Liv. Vamos lançar este álbum.

AURA - SaliviaOnde histórias criam vida. Descubra agora