AURA - Salivia

19. Olivia

Acordei no outro dia saltitando, sem acreditar no que estava sentindo. Nunca pensei que fosse gostar de garotas dessa forma. Simplesmente não imaginava. Talvez eu fosse meio cega. Passei metade da minha infância obcecado por garotas, mas eu sempre achei que era uma questão de comparação. Achava que eu queria ser como aquelas garotas, não tê-las. Mas agora, depois de alguns anos, estou começando a entender que essa obsessão não tinha nada a ver com comparação.

Beijar Sabrina foi, no mínimo, a coisa mais louca que já fiz na vida. Tomei coragem para ouvir meu coração e seguir em frente com o que eu queria, mesmo sabendo que era arriscado fazer isso em público. Amei a adrenalina no meu corpo, os arrepios causados pelo toque suave dos lábios carnudos dela. Gostei da areia nas minhas coxas, das mãos macias no meu pescoço. Amei a sensação de "foda-se os paparazzis". Amei tudo o que aconteceu naquele dia e como Sabrina me deixou ser uma pessoa normal por um dia. Eu, Olivia Isabel.

Eu poderia escrever milhares de músicas sobre aquele momento.

Dando pulinhos de alegria até o banheiro, sorri para o meu reflexo descabelado e peguei minha escova de dentes roxa e o creme dental. Escovei os dentes enquanto pensava em beijar Sabrina outra vez.

Que loucura! Estou completamente obcecada.

Quando tomei banhei e tomei o café da manhã rigoroso que a nova nutricionista contratada por Verônica me passou, peguei minha bolsa e a chave do carro, me despedi de Poppy e corri para fora de casa. Estava um lindo dia ensolarado, mas não estava quente.

Marquei com Gracie de escrevermos pelo menos mais duas músicas antes de começarmos a gravar no estúdio. Dessa vez, vamos escrever na casa dela, onde teremos mais privacidade e silêncio para fazer isso.

Antes de dar partida, abro o aplicativo de mensagens e respondo a mensagem de bom dia de Sabrina. Sorrio enquanto digito as mensagens e envio. Ótimo dia.

🎤

Depois de passar o dia inteiro na casa de Gracie, escrevendo duas músicas, finalmente terminamos. Compusemos com a alma e o resultado ficou lindo. Dessa vez, fizemos algo diferente: Gracie criou uma música, e eu, outra. Quando finalizamos, entregamos os cadernos uma para a outra, analisando e fazendo ajustes. Funcionou muito bem, e as músicas ficaram ótimas. Já estávamos ansiosas para ir ao estúdio no dia seguinte.

── Que tal pedirmos pizza e convidarmos Conan e a sua garota misteriosa para cá? ── sugeriu Gracie, guardando o violão no suporte ao seu lado.

── Minha garota misteriosa? ── indaguei.

── Olivia, não sou idiota. Você usou pronomes femininos em todas as músicas.

Pisquei, percebendo que ela estava certa. Inconscientemente, havia revelado meus sentimentos. Contei apenas para Iris sobre o beijo com Sabrina, e ela surtou de alegria. Não tinha vergonha disso, mas precisava entender o que tudo significava e como terminaria.

── Você tem certeza? Ela não é famosa e...

── Não seja boba. ── Gracie interrompeu.

Revirei os olhos e sorri.

── Tudo bem.

Peguei o celular, nervosa. Não era a primeira vez que a convidava para algo, mas dessa vez era diferente. Não era um local público; era a casa da minha amiga, um ambiente totalmente novo.

── Olivia, oi ── a voz doce e robótica soou do outro lado. Achei que fosse cair na caixa postal, mas ela atendeu após alguns toques. ── Desculpe a demora, estava ocupada.

Levantei-me do chão do quarto de Gracie e fui até a varanda. A cidade estava iluminada e bonita. Uma noite refrescante.

── Não tem problema. Relaxa ── respondi, absorvendo o ar de Los Angeles. ── Estou aqui na casa da Gracie, e vamos pedir pizza para fazer uma noite de jogos ou sei lá. Queria saber se você quer vir. O Conan também vem, e resolvi chamar você.

── Eu adoraria, mas estou com a Maddy em uma livraria. Posso ir depois de deixá-la em casa ou...

── Ela pode vir, não tem problema.

Ouvi risadas animadas do outro lado da linha, que não pareciam ser de Sabrina.

── Sério?! ── confirmei. ── Me manda o endereço, e estarei aí.