- E ai, como foi? – a garota perguntou assim que seus pés tocaram o piso no topo do prédio.
- Normal...
Ela sorriu e seus olhos de íris púrpura se agarraram a imagem dele sentado sobre a murada, com os pés para fora, observando as luzes da cidade abaixo e as nuvens de chuva cobrindo o céu acima.
- "Normal." – ela repetiu fazendo uma careta. - Você e essas respostas vazias... Que foi? Que cara é essa?
- Nada. Só lembrei de alguém.
- Homem ou mulher?
- Mulher.
- Ah é?! Ora ora... Mas que coisa rara, não é mesmo? – ela deu uma corridinha e se sentou ao lado dele fingindo um sorriso e o encarando com ciúmes no olhar. – Quem? Quero nome e endereço.
Ele por sua vez ficou completamente em silêncio, observando o movimento das pessoas e carros nas ruas até o tapa descer sem aviso diretamente de encontro a sua coxa esquerda fazendo um estalo.
- Anda! – ela falou quando seus olhares se encontraram.
- Não é nada disso! – ele sorriu. – Ela deve ser, sei lá... Mais de trezentos ou quatrocentos anos mais nova que eu.
- Qualquer um nesse mundo deve ser mais de trezentos ou quatrocentos anos mais novo que você, seu idiota. – e o beliscou.
- Tá! Tem razão! – disse enquanto se soltava do ataque e entrelaçava seus dedos junto aos dela. – Mas eu já disse, não é nada disso. Somos apenas parecidos.
- Parecidos como? Ela também faz encontros noturnos no alto de prédios com entidades magicas?
- Não... – e riu. – Ou pelo menos não que eu saiba.
- Tá... E por que estamos aqui então? – acabou perguntando depois de perceber que não obteria maiores informações.
Ele desviou o olhar e observou as luzes nos apartamentos ao redor.
Algumas estavam acesas, outras apagadas. Em alguns deles havia apenas o brilho colorido da televisão.
- Eu só queria te ver. – falou de repente e a garota entrelaçou ainda mais firmemente seus dedos junto aos dele. – Respirar, longe de tudo... Mas junto de alguém que realmente me conhece...
- Atípico. – ela falou com leve preocupação e então se aconchegou junto dele, apoiando sua cabeça em seu ombro e recebendo seu abraço. – Mas se é só isso, então é fácil.
Acima de tudo e de todos, apenas sentindo o vento soprar, os dois permaneceram quietos por longos minutos.
- Você sabe que eu vou te seguir até descobrir de quem você estava falando, não é? – ela disse enfim e o viu sorrir.
