30/01/2023

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Dessa vez a noite estava mais escura que nunca.

Sem estrelas e sem lua, o céu estava inundado por nuvens de chuva que volta e meia deixavam um ou outro relâmpago reluzir.

Os dois, descalços, sentiam a areia sob seus pés.

O mar sombrio só podia ser percebido pelo som do quebrar das ondas na praia e o vento gelado e úmido soprava e soprava, avisando que logo a tempestade chegaria.

- Como você se sente agora? – ela perguntou, com tensão na voz e seus dedos entrelaçados aos dele.

E mesmo sem ver, ela sabia...

Que no silêncio de seu parceiro havia um sorriso.

Não de felicidade e muito menos de alegria.

Mas sim aquele sorriso que ela tanto amava e tanto temia.

Então o vento soprou ainda mais forte e rajadas de areia se chocaram contra seus corpos onde a roupa não cobria.

Raios cruzaram o céu e no meio do clarão ela o viu com a mão direita espalmada para o alto.

Ele encarava seus dedos como se esperasse uma oportunidade para agarrar a própria tempestade.

- As vezes sinto vontade de arrancar a alma do mundo com minhas mãos e torce-la até se partir. – ele disse num sussurro cruel que a fez sorrir. – As vezes eu sinto como se minha própria alma que tivesse sido torcida.

E assim ela também olhou pra cima.

A seu lado ele inspirou fundo, lenta e profundamente, roubando do ar ao redor todos os sons e magia.

Sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando o vento os envolveu num rodamoinho.

Sem perceber, ela apertou cada vez mais seus dedos junto aos dele.

E assim ele deixou o ar sair num sussurro...

Uma palavra antiga... Palavra nenhuma... Com um significado velho ou algo sem sentido...

Talvez uma ordem, um pedido, um desejo... Talvez nada disso...

E quando ela o viu apontar para o meio do mar, relâmpagos vindos de todos os lados cortaram o céu e desabaram sobre a água transformando noite em dia.

O trovão, num rugido grave fez seus corpos tremerem.

A chuva fria então começou.

...Mas eles nem sequer se moviam.

- A maior parte do tempo eu sinto... – dessa vez havia raiva em sua voz. Isso, melhor do que ninguém, ela sabia. – ...Que nada faz o menor sentido.

Sem dizer nada, ela se aconchegou junto a ele e apoiou sua cabeça em seu ombro.

E sentiu seu corpo quente, mesmo em meio aos jatos de água fria.

Sei láWhere stories live. Discover now