- Você sabe qual é o seu problema?
A voz da garota não se elevou nem por um momento.
Não... Ela nunca...
Ela odiava discussões e gritaria.
Então, mesmo com raiva, sua voz era baixa e fria como o gelo.
- Você espera demais das pessoas.
Ele a encarava nos olhos. Sabia o quão assustador podia ser quando não fingia, mas simplesmente não se importava mais.
Um olhar firme por trás de um par de mãos entrelaçadas em frente ao rosto.
- Demais? - sua voz também era baixa, mas soava como ácido fervente. – Eu esperei demais de você?
- Sim.
Seus olhos se contraíram numa expressão de raiva que foi contida de imediato e a garota recuou um passo enquanto ele se levantava. Apenas dez centímetros mais alto que ela e ainda assim parecia um monstro com duas vezes o seu tamanho.
- Eu te dei tudo. – continuou a falar, se aproximando lentamente passo a passo. – Nem mais e nem menos que tudo. Minha alma, meu coração, meu passado, presente e futuro. Eu te dei meus sonhos e derramei sangue e lágrimas por você. Arranquei dragões do céu. Fui ao inferno e voltei... Tomei estrelas com as mãos... Criei e Destruí... TUDO! E ainda assim...
Com as costas contra a parede e pressionada por sua presença, ela se esforçava para parecer forte. Se recusava a desviar os olhos mesmo que por um segundo, mas sentia seu corpo tremer e enfraquecer.
Houve um tempo em que soube que ele nunca lhe faria mal. Mas e agora?
Depois de tanto tempo ainda poderia apostar na sorte?
- Ainda assim... Aqui estamos. – ele falou, se curvando e aproximando seu rosto do dela para que pudesse a encarar no fundo olhos, vendo cada pedaço de sua alma nua. – Então, me diga... O que você fez por mim?
Silêncio.
Ela sentia como se estivesse desmoronando por dentro.
- O que eu esperava de você? O que poderia ser esse "muito" que você falou?
O calor emanava de seu corpo junto de uma vibração que se espalhava entre eles como uma corrente elétrica.
Ele voltou a se erguer, afastando seu rosto e então lhe dando as costas.
- Você me deu feridas...
- Eu...
- ...Quando a única coisa que eu queria era que estivesse ao meu lado.
Ela se calou.
Sabia que era verdade.
- E sabe... Essa é a parte curiosa.
Novamente ele se virou em sua direção.
Estava sorrindo, mas não de um jeito bom.
- Mesmo que isso fosse pedir muito... Você poderia simplesmente ter ido embora. Poderia ter sido sincera e dito que eu não deveria esperar isso. Mas não...
O sorriso morreu em seu rosto e todo sinal de qualquer emoção simplesmente desapareceu.
- Você preferiu me ferir.
De repente o ar pareceu ficar pesado e denso, como se a tensão entre eles se tornasse quase tangível e sufocante.
- ...E assim, quando eu achava que não havia mais o que pudesse te dar, você tomou mais um pedaço... A parte de mim que tive de matar apenas para continuar existindo.
Ela desviou o olhar e sem qualquer aviso ele voltou a se aproximar.
Rápido, com movimentos tão bruscos que a garota não viu outra opção senão se encolher contra a parede, de olhos fechados e tremendo, morrendo de medo de que ele a fosse ferir.
- Está com medo...? Bem... Você deveria... – ele sussurrou em seu ouvido. – Mas eu não vou te machucar. Não... Afinal... Deve ser bem pior pra você não é mesmo?
Ela sentiu o toque quente e gentil de sua mão sobre a sua cabeça como alguém que apazigua uma criança. Um gesto tão arrogante que a fez preferir que ele tivesse lhe dado um tapa.
Aquela condescendência a fez se fez sentir pequena e insignificante. Atacada em seu ego e orgulho.
- Você nunca valeu a pena, afinal. O erro foi todo meu.