- Há um mundo muito maior do que você imagina lá fora, Yue. Com mais coisas do que você seria capaz de ver.
- E dai?
- E dai nada, ué. Estou apenas dizendo que você não é tão grande ou complicado assim.
- Por causa do mundo lá fora?
- Por que toda a imensidão que existe lá fora vai continuar existindo mesmo depois que a gente morrer. E mesmo que alguém se lembre da gente, esse alguém também vai morrer um dia. E ainda assim o mundo vai continuar e continuar até que ninguém mais se lembre de Yue e Danielle...
Havia um sorriso triste estampado no rosto da garota.
Deitados, cada um em sua cama e separados por pouco mais de um metro de distancia, os dois se encaravam em meio a escuridão fria do quarto enquanto, do lado de fora, a neve se acumulava junto a janela.
- E por que isso deveria importar? – o garoto resmungou.
- Pois é! Exatamente isso!
- Não entendi...
- O que é que realmente importa antes de você desaparecer pra sempre?
Yue se calou por alguns segundos.
- Parece que consegui te fazer pensar... – Dani sussurrou feliz consigo mesma e estendeu sua mão.
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Eu sinto esse peso que parece pulsar...
As vezes acho que é meu coração.
Mas a maior parte do tempo eu não consigo o encontrar.
Como se estivesse procurando quem sou.
Como se estivesse tentando me achar.
Olho meu reflexo num espelho, no escuro, sem conseguir enxergar.
Aha... Aha... Ah... Oh não..
Eu sou mais do que esse peso?
Ou talvez apenas isso e mais um monte de "sim", "talvez", "por que não?" e "deixa pra lá"?
O que eu sou afinal?
O que raios eu quero ser?
As vezes da vontade de saber.
As vezes da vontade de desistir de querer.
Afinal, ninguém liga.
E quando eu ligo... Ninguém vê.
Então acho que vou apenas ficar aqui...
"Por quê?"
Eu sou gênio, criativo, demitido, redimido, novamente culpado...
Um culpado assumido!
Um hipócrita perdido... Que foi esquecido...
E que continua lembrando de todos os passados nunca vividos.
Um conformado convicto.
Abandonado e sem o menor juízo.
Apaixonado pelo próprio reflexo nunca visto.
E além de tudo... Esquisito.
Eu sou, sem sombra de duvidas, o contato com o segredo do mundo.
O contrário disso tudo.
Sou o criado que não é mudo.
Sou o óbvio motivo de óbito.
O que não é...
...O que restou.
E o que eu tiver de ser...
