- O que você quer de mim? Por que não me deixa em paz?! – e o mundo se partiu ao som de sua voz.
A realidade se fraturou e escorreu ao redor dos dois como se fosse para o ralo.
Todas as luzes morreram e voltaram a nascer.
Teto, paredes e o próprio chão se desfizeram. Como poeira o próprio tempo ruiu e caiu.
De repente, não mais em um lugar, mas em lugar nenhum, eles continuaram a se encarar.
- Por quê?! – e as lágrimas escorreram pela ultima primeira vez.
- Por que eu prometi. Eu jurei. – e ele estendeu a mão.
Os ventos negros sopraram, movendo roupas, cabelos e seus corpos pelos ares.
Por querer tocá-lo, ela se encolheu.
Por querer abraça-lo, ela se virou.
E por querer acreditar, ela mentiu...
- Eu não preciso de você.
- Mas eu preciso...
Frio e gelo. Fogo em fluído.
Como que arrancados de si mesmos, eles se despediram do mundo.
Agora tudo era quietude, em um céu de nuvens tempestuosas sobre um oceano profundo e parado.
Com a mão ainda estendida ele esperou.
E esperaria por toda a vida e muito mais se necessário.
Mas ela sabia...
Sabia que era tarde demais.
- Vá embora! – gritou, se abaixando, caindo, deitando e se encolhendo.
- Eu não posso. Não iria mesmo que pudesse...
E na escuridão, longe do sol, os dois afundaram...
Em um estado de puro pesadelo
Seus medos, inseguranças, temores, ansiedades e fracassos...
Repleto de monstros por todos os lados.
Caminhando nas sombras, eles vieram.
Se arrastando pela escuridão, chegaram.
- Eu não vou a lugar nenhum... – ele falou quando o primeiro golpe o atingiu. – Vou continuar bem aqui ao seu lado.
E ainda que seja um sonho...
Uma fantasia, devaneio, miragem ou alucinação...
Nessa realidade irreal da existência em desamparo.
Em negação, os dois permanecem sempre acordados.
