Prólogo

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Não era nem sete horas da manhã quando eu  afundei a mão entre os meu próprios cabelos loiros ao ver aquela pilha de papéis em minha frente, me questionando o quê que eu estava fazendo da minha vida.

Sinceramente, eu não sabia.

Suspirei antes de voltar a tentar entender cada relatório e documento dispostos na grande mesa de Jacarandá, sabendo que era uma guerra perdida: sozinha eu não conseguiria chegar a lugar nenhum.

A luz do sol clareava a sala por causa das enormes janelas de madeira abertas. Dei uma rápida olhada em todo aquele verde lá fora e lembrei das palavras de Mufasa para Simba: "Tudo que o sol toca é o nosso reino."

Ri sem divertimento algum.

Meu nome é Soraya Thronicke e eu sou herdeira da falida Fazenda Olimpo, uma propriedade de cerca de dez mil hectares localizada no coração do Mato Grosso do Sul. Com mais cabeças de Gado do que um cérebro humano é capaz de contar, cinco currais para ovinos e o melhor Haras da região.

Quer dizer, tinha o melhor Haras da região.


Não é difícil se questionar como uma fazenda tão grande conseguiu ir à falência, e eu julgo que a incompetência da administradora  que vos fala teve enorme parcela nisso tudo.

Eu nunca quis ser responsável por uma Fazenda. A bem da verdade, eu nunca quis ser responsável por nada, talvez nem por mim mesma. Quando meu pai morreu, eu, como a única herdeira da família, fiquei responsável por isso tudo aqui e olha onde estamos: com uma notificação extra-judicial ameaçando desapropriar parte da Fazenda para que vá a leilão, caso as contas não sejam pagas.

Eu nem sei por onde começar, para ser sincera. A minha formação acadêmica em Direito me dava uma breve noção de que estava fodida, mas nada além disso.

- Quer um café, menina So?

Levantei a cabeça para olhar nos olhos da dona daquela voz. A responsável por manter a sede da Fazenda, Dona Fairth Tebet, me encarava com seus olhos negros. O cabelo preso no topo da cabeça, num coque perfeitamente puxado para trás, as mãos cruzadas na frente do corpo e o sorriso acolhedor me fizeram bem, mesmo que por alguns instantes.

- Olha, eu vou ter que aceitar, viu. – Sorri ternamente para ela. – A senhora que fez?

- Acabei de passar, está fraquinho e sem açúcar, do jeitinho que a menina gosta.

Fairth era como uma mãe para mim. Havia crescido com ela na Fazenda, já que ela trabalhava com meu pai desde antes de eu nascer. Bem, dona Fairth era casada com o incrível Ramez, meu antigo gerente de confiança. Enquanto Fairth era responsável por cuidar da sede, Ramez cuidava de tudo relacionado à criação de animais – e eu nunca havia visto em minha vida um peão tão competente.

Infelizmente, pouco antes de eu assumir os negócios, Ramez sofreu uma queda de cavalo e nunca mais foi o mesmo. Aposentamos ele e hoje ele vive feliz em seu pedaço de terra, coladinho com o nosso, cuidando de suas galinhas e dando dor de cabeça para Fairth com sua teimosia incessante.

Os dois hoje vivem sozinhos, mas a família não se resume a eles. Possuem uma filha e um filho, Simone e Carlos César. Simone era bem mais velha do que eu, devia estar na faixa dos quarenta, enquanto o doce Carlos César era apenas três ou quatro anos acima de mim. Não tenho muita lembrança dela, já que saiu da Fazenda com dezesseis anos para estudar na Capital e nunca mais voltara.

Já Carlos César era um capítulo a parte. Não muito feio, mas definitivamente não muito bonito. Acho que ele é apaixonado por mim desde... bom, desde sempre. Atualmente ele cumpria o papel que fora de seu pai, e gerenciava a criação de animais do local.

- Ai, Fairth... – me derreti ao dar um leve gole na bebida fumegante. – Obrigada. Eu estou a dois passos da loucura.

Ela puxou uma cadeira ao meu lado e sentou-se, interessada em saber exatamente o que estava acontecendo.

- Quer compartilhar o que está acontecendo?

- Além da minha total incompetência para tudo que diz respeito à Fazenda? – Devolvi a pergunta e ela sorriu com carinho, como se compreendesse o meu desespero.

Dei outro gole no café, tomando cuidado para não queimar a língua.

- Não fale isso de si mesma, So. Você não é incompetente, você só não... – Ela parou um pouco, como se estivesse pensando na melhor palavra para usar naquele momento. – Só não encontrou um meio ainda, mas tenho certeza que vai encontrar.

- Como, Fairth? Olha essa notificação aqui, tenho trinta dias para levantar cinco milhões de reais ou vão tomar parte da Fazenda para leiloar. – Entreguei o papel branco carimbado com um enorme "Notificação Judicial" na frente.. – Eu tenho esse dinheiro na conta, mas...

- Mas o quê, querida? Use.

Eu ri. Queria que fosse simples assim. Ela lia o papel atentamente, assim como eu havia feito minutos antes.

- Eu posso usar, mas isso geraria uma catástrofe financeira maior. Veja bem, a Fazenda precisa ser capaz de se sustentar, e isso não está acontecendo. – Eu tentei pensar num modo de explicar de forma que ela pudesse entender, sem usar termos jurídicos ou administrativos que nem eu era capaz de entender. – Assim, eu tenho a minha conta pessoal e a Fazenda tem a própria conta no Banco. Se eu for tirando dinheiro da minha conta pessoal para cobrir os gastos da Fazenda e não tiver como repor, o que, diga-se de passagem, eu não tenho, o dinheiro da minha conta pessoal vai acabar...

- Aí a gente vende algumas cabeças de Gado e você recupera, So.

Eu sorri com a inocência dela. Queria que fosse fácil desse jeito, eu já teria resolvido.

- Isso poderia ser feito, sim. O problema é que nosso gado não está procriando do jeito que eu queria, então, se eu vender, pode ser que não haja reposição o suficiente para mantê-los.

- Eu acho que sei quem pode te ajudar, vou conversar com o Ramez e já volto. – Assim como sentou, Fairth se levantou. Num pulo.

Eu fiz um vinco na testa, sem entender nada.

Voltei a tomar outro gole do café, sabendo que aquela seria uma longa manhã.

Oi, pessoal! Tudo bom?

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Oi, pessoal!
Tudo bom?

Espero que tenham gostado do prólogo, é só uma introdução para que vocês fiquem por dentro do contexto de tudo.

O primeiro capítulo virá, no mais tardar, no domingo a tarde.

Vejo vocês lá.

Grande abraço,
bia 💙

FAZENDA OLIMPO [Simone | Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora