2. Chata, Mimada, Insuportável e Fofoqueira

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Mamãe não era de me pedir favores, então, quando ligou pedindo ajuda para salvar a Fazenda Olimpo, eu prontamente aceitei.

Ignorei a promessa de nunca mais voltar lá.

Ignorei os meus instintos que diziam que ali não era o meu lugar.

Apenas pedi alguns dias para organizar a minha vida na empresa de consultoria agronômica que eu era sócia em Minas Gerais e, pronto. Peguei minha picape e cruzei parte de Minas Gerais com destino a uma pequena cidade na divisa do Mato Grosso do Sul com o Mato Grosso, chamada Rio Azul.

Vinte anos atrás eu saí de lá sem pestanejar, com a promessa de que não voltaria a pisar os pés naquele lugar de jeito nenhum. Ledo engano. Bastou uma conversa de trinta minutos com a minha mãe no telefone e lá estava eu arrumando as malas para passar trinta dias enfurnada na tão amada Fazenda Olimpo.

Meus pais amavam tanto aquela Fazenda que chegava a correr em suas veias, como o sangue que alimentava seus corpos. Bom, essa seria a única explicação para que minha mãe com pouco mais de sessenta anos continuasse a trabalhar naquela casa.

Eu já havia conversado com ela sobre a possibilidade dela e meu pai se mudarem para Minas e morarem comigo, mas fui prontamente ignorada.

- Não queremos atrapalhar. – Ela dizia.

Eu sempre soube que não era isso, afinal, eu poderia não ser multimilionária, mas tinha capacidade de sustentar os dois sem que eles precisassem trabalhar. Nenhum idoso merece trabalhar e eu tentava colocar isso na cabeça dela, mas o apego àquela família falava mais alto do que seu amor pela própria vida.

Apego a àquela família com uma grande vírgula, seu apego era na verdade à baronesinha Soraya Thronicke, herdeira da Fazenda Olimpo.

Eu conheço Soraya desde o dia em que ela nasceu e até gostava dela, até ela mostrar que tinha parte com o capeta. Chata, mimada, insuportável e fofoqueira: esses quatro adjetivos poderiam resumir muito bem quem era a herdeira da família Thronicke. Por ser mais velha do que ela cerca de nove a dez anos, eu conseguia lembrar muito bem do seu jeitinho mandão e descabido.

Sem contar, é claro, em todos os parafusos a menos que aquela garota tinha.

Certa feita, a sua inteligência superior lhe fez acreditar que seria uma boa ideia abrir o trinco que fechava o galinheiro. De acordo com ela, só queria ver "o passarinho grande voar."

Advinha quem teve que catar galinha por galinha e colocar no lugar?

Soraya era o motivo de eu ter ido embora de Rio Azul sem nem olhar para trás, e, não ironicamente, era o motivo de eu estar voltando.

Ela e sua incompetência para gestão, no caso.

Além disso, eu estava voltando com um plano, chamado: Operação Tirar Meus Pais Do Fim do Mundo. Eu usaria os trinta dias que passaria na Fazenda Olimpo para convencer Fairth e Ramez de que eles deveriam vir para Minas e morar comigo. Largar aquilo ali de mão e curtir a merecida aposentadoria que lutaram por tanto tempo para ter.

Seria questão de tempo para que Soraya afundasse a Fazenda até o ponto em que se tornasse irrecuperável, então nada mais justo do que meus pais saírem de lá antes que o barco afundasse.

Também, como um barco não afundaria tendo o desavisado do Carlos César como gerente.

Carlos César era meu irmão e sobrenome era a única coisa que tínhamos em comum. Aquela criatura nefasta tinha a sorte de ter nascido com dois polegares e poder usar a impressão digital, pois eu tinha as minhas dúvidas de que ele sequer soubesse escrever o próprio nome. Burro de nascença, imprestável por opção.

FAZENDA OLIMPO [Simone | Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora