FAZENDA OLIMPO [Simone | Soraya]

15. Sequestradora-Hippie-de-Estampa-Floral

Deusdete não era menina.

Simone riu bastante quando chegamos na sede da Fazenda e decidimos que seria uma boa ideia dar um banho nela dentro do meu banheiro, pois o chuveiro era quente – e a Engenheira Agrônoma e Zootecnista se recusava a sujar o próprio banheiro com a lama que o Deusdete estava soltando.

Pretinho e encolhido de frio, desconfiado até a alma, o cachorro aceitou de bom grado quando, depois de banhado, Simone o acolheu em seus braços e segurou-o com uma toalha para que se secasse. Pensou que não seria o ideal usar um secador, pois ele já estava assustado o suficiente para também se assustar com o barulho do aparelho. A cena era fofa de assistir, então, enquanto eu tentava me virar na cozinha fazendo algo que ele pudesse comer, de vez em quando despendia alguns olhares preguiçosos para a morena com o cachorro no colo.
Estávamos na cozinha, eu na beira do fogão e ela sentada numa cadeira afastada, quando me atingiu a ideia do nome.

- Acho que o nome dele vai ser Percy. – Comentei, me esforçando para não queimar o pedaço de peito de frango que julguei ser o ideal para alimentar ele. – É, Percy Jackson.

Simone fez uma leve careta.

- Percy? – Alternava seu olhar entre mim e o cachorro em seu colo. – Eu não entendo muito de mitologia grega, mas tenho quase certeza que não existe um "Percy Jackson" no Olimpo.

Eu ri. Simone tinha razão, não existia Percy Jackson no Olimpo – até porquê Percy abriu mão da imortalidade para viver com Annabeth e... Bom, esse não é o foco.
Precisei pensar brevemente antes de começar a explicar para ela.

- Você nunca ouviu falar em Percy Jackson e os Olimpianos? – Simone balançou a cabeça negativamente. Respirei fundo, teria um longo caminho pela frente. – Okay, resumidamente, é a história de um adolescente que descobre ser filho de Poseidon.

- Do deus dos mares?

- Dos mares e tempestades, Simone. – Falei como se fosse óbvio. – De qualquer modo, a saga conta a história dele e de seus melhores amigos, Grover, o sátiro, e Annabeth, filha de Atena.

Percy se remexeu um pouco no colo de Simone e eu assisti ela murmurando que a comida já vinha, e que era para ele se acalmar. Ela por vezes fazia um tantinho de carinho no topo da cabeça dele com as unhas curtas, e eu fiz uma nota mental de que pediria aquele cafuné mais tarde antes de dormir.

- Entendi... Por óbvio, então, esse Grover e Annabeth vão namorar no final da saga. Tipo Harry Potter, que Rony fica com Hermione.

O lado geek de Simone era engraçado. E era a primeira vez que eu estava vendo.

- Na verdade, não. – Desliguei o fogão e comecei o processo de tirar o peito de frango da frigideira, para então cortá-lo e misturar com arroz. – Annabeth fica com Percy no final. A propósito, não sabia que a senhorita gostava de Harry Potter.

- Não gosto. – Ela deu de ombros e fez um bico. – Mas namorei uma vez com uma pessoa que gostava, aí li para entender o motivo dela gostar. Até hoje não entendo.

- Eu prefiro Percy Jackson. – Comentei, tentando esconder a pequena ponta de ciúme que surgiu quando Simone citou uma ex. – Meu pai me deu os livros quando eu era adolescente, fiquei apaixonada.

- E você já gostava, né? Digo, de mitologia grega. – Simone ficou de pé, ainda segurando Percy no colo. Veio andando até mim, que já havia misturado o jantar dele num pote plástico que achei na dispensa.

Fairth me mataria depois. Por mexer nos potes, por trazer um cachorro para casa, por deixar a cozinha bagunçada.
Por transar com a filha dela.

- Ah, sim. Meu pai sempre amou, e passou para mim. – Entreguei o pote para que Simone colocasse no chão e ela logo entendeu o recado. Pela primeira vez naquela noite, eu vi Percy abanando o rabo. – Acho que ele gostou da minha comida.