Um fato constatado por mim e por qualquer pessoa com ao menos um neurônio era: não daria para correr dele. Ao seguir a trilha das penas, nos distanciamos do festival – o suficiente para que não desse para voltar antes que o Hyde nos pegasse.
Com seus olhos vingativos, ele não olhava para mim, e sim para Xavier. Senti uma sensação já não mais estranha em minhas mãos, e ao olhar para elas vejo o que eu já imaginava, correntes elétricas saindo por cada uma.
— O que você está fazendo? — pergunta Xavier.
Nem eu sei, acredite.
Quando eu ia responder, o Hyde começou a correr até nós – ou melhor, até Xavier, pois seu olhar ainda estava apenas nele.
Não pensei muito, me coloquei em sua frente e aproximei as minhas mãos, logo em seguida as afastando para que a energia saindo de mim crescesse.
Meu olhar estava fixo no Hyde. Eu não sabia direito se as correntes eletrocinéticas poderiam causar algo horrível nele, aliás, eu não tinha total controle sobre elas. Mas sabia que iriam atrasá-lo.
— Corra — digo para Xavier, que me olha sem entender. — Eu vou atrasar ele, corre!
— Você tá maluca? Eu não vou te deixar aqui — exclama.
Não tinha tempo para papo, ele já estava perto demais. Quando eu estava pronta a jogar toda carga elétrica que acumulei, o mesmo parou, agora com seu olhar fixo em mim.
Ele parecia hesitar. Por que?
Minha cara é uma confusão por completo. Eu não o atacaria se ele não tentasse nos atacar – se decidisse não o fazer, eu que não arriscaria em deixá-lo furioso novamente.
Seus olhos já não mais enfurecidos em mim, sua respiração pesada. Parecia... confuso. Desordenado.
Então, como se nunca tivesse estado aqui, virou-se e correu, adentrando-se mais na floresta. Cerro as sobrancelhas e assim que me acalmo, meus poderes fazem o mesmo, dissipando-se das minhas mãos.
— Eu não sei, porra — falo, meu tom já alterado.
Após o Hyde ir embora, não falei mais nada com Xavier, apesar de ter ouvido chamar o meu nome. Veio atrás de mim em silêncio, até que eu alcançasse Enid, ainda com Ajax.
Já estava a ponto de me enfurecer com tantas perguntas vindo da loira, em seguida do seu ficante-namorado-não sei o quê e até mesmo de Xavier.
Por que ele não atacou você?
Será que era mesmo o Tyler?
Você já o conhecia?
Será outra profecia?
Todas direcionadas a mim. Diabos, como eu saberia? Estava aqui não fazia uma semana e quase fui destroçada por aquele monstro. Quem deveria saber de algo seria eles, não eu.
Se estavam confusos, eu estava mil vezes mais.
— O que está rolando aqui? — Wandinha se aproxima.
Conto para ela o que contei a Enid e ao Ajax: eu, Xavier, floresta, sangue, monstro.
— Não pode ser coincidência — Wandinha fala e a olho confusa.
— Há exatos 6 meses foi a quando alguém viu o Hyde pela primeira vez e sobreviveu para contar, a Wandinha — fala Enid. — O festival era para ocorrer só daqui a um tempo novamente, exato um ano. Mas com tudo acontecendo, quiseram fazer antes para... sei lá, uma noite para a população se esquecer que a merda do monstro ainda está a solta por aí — suas últimas palavras foram apressadas, com um pouco de raiva, eu diria.
— Mas vocês tem certeza de que esse Hyde é o Tyler?
— Sim — diz Enid.
— Não completamente — fala Wandinha e todos olhamos para ela. — A chance de ser o Tyler é enorme, mas ter certeza? Não temos. Nem sabemos se era apenas ele e a Laurel ou se tinha alguém a mais.
— Mas dois hydes? Acho que não — diz Ajax.
— Possa ser que não. Só estou falando para não descartarmos essa possibilidade — responde.
— Se não o Tyler, então algum conhecido — digo. — Quero dizer, provavelmente. Ele olhava com fúria para você — olho para Xavier, que assente.
— Será que é a mesma pessoa que está mandando mensagens para você desde aquele dia? — questiona Enid a Wandinha, que a olha como se tivesse falado mais do que deveria.
— Pode ser — a olhamos e ela quase revira os olhos. Sabe que agora tem que falar algo que sabe e que não sabemos. — Quando eu estava voltando para casa no final do semestre passado, recebi isso — então mostra uma conversa em seu celular.
— Espera, como? — pergunta Xavier. — Eu tinha...
— Acabado de me presentear com o celular — completa Wandinha. — Eu sei. Também estou tentando desvendar isso.
Ele deu um celular para ela?!
— Não acha que sou eu, né? — Xavier questiona. — Digo, porque se formos lembrar o semestre passado você jurava que eu era o assassino.
Enquanto Wandinha fala que foi um erro e que não descarta nenhuma possibilidade de ser qualquer um a sua volta, penso o porque ela achar que era ele o Hyde. E o porquê dele ter ficado tão na defensiva agora.
— Obviamente não poderia ser você — digo. — Estava comigo quando o Hyde apareceu.
— Isso não significa que talvez ele não esteja o ajudando. Pode ser o Hyde e — Wandinha enfatiza na última sílaba. — Outra pessoa. Igual quando a Laurel o ajudava. Alguém de dentro.
— Tá de sacanagem comigo, Wandinha — resmunga.
— Não estou dizendo que é você. Só que eu não duvido de ninguém e não descarto nenhuma possibilidade de ser qualquer um daquela escola. Nenhuma. Agora, pare de agir como criança — fala e ele bufa, parecendo não acreditar no que estava escutando. — Onde está o muro com sangue que você mencionou? — pergunta olhando para mim, e vamos todos até o local.
Como eu fui me envolver nisso?
E porque por tudo que é mais sagrado ele deu um celular para Wandinha? Era tão apaixonado assim por ela?
Mas a real pergunta que não quer calar:
Por que o Hyde não me atacou?
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𝐓𝐇𝐔𝐍𝐃𝐄𝐑 | Xavier Thorpe - HIATUS
Fantasi𝐓𝐑𝐎𝐕𝐀̃𝐎 || "você nunca foi meu" Tempos depois que Wandinha salvou Nevermore, uma nova garota chega à escola dos excluídos. Elektra Saltman tem habilidades diferentes do que estão acostumados a ver, sendo elas eletrocinéticas ao gerar e manipu...