Como o tempo foi covarde, não é mesmo? Já haviam se passado cinco séculos desde a partida de Cron, e de maneira inexplicável, a paz prevalecia e o bem ainda reinava sobre o mal. Naquela altura, Ayumi já não se recordava de que Hideki existia. Ele nunca deu um único sinal de que sua força e liberdade ainda existiam, e por esse motivo, Ayumi dormia com a maior das tranquilidades. Seria esse um erro de grande escala? Bom, até então, não fazia sentido se preocupar com algo que há tanto tempo ficou para trás.
Em seu quarto, ela repousava no conforto de sua cama. Enquanto a chuva caía desenfreadamente do lado de fora, derramando sua fúria sobre os campos embrulhados por uma madrugada fria. Na noite anterior, ela demorou a pegar no sono e, por isso, passou um bom tempo em sua poltrona aveludada lendo um livro. Após muita relutância em fechar os olhos, ela se rendeu ao cansaço, fechou o livro e o pôs numa mesinha de canto antes de deitar na cama. Buscou uma posição confortável e se entregou ao sono, que há muito tempo lhe escapava pelas mãos.
Era por volta das 22h56 quando ela apagou e, ao despertar, alegrou-se só de ouvir o tilintar da chuva caindo lá fora. O dia ainda não havia amanhecido e, estranhamente, o sono que a fazia naufragar nos mais belos sonhos se foi, dando lugar a uma vontade de se levantar da cama. Usando um robe de tecido fino, ela sentou-se à beira da cama, ligou a luz do abajur, espreguiçou-se e, com uma expressão sonolenta, levantou-se. Deu alguns passos à frente, sentando-se novamente em sua poltrona, que ficava ao lado da janela. Procurou uma posição confortável e ficou ali sentada, olhando para a chuva.
Lentamente, as horas foram passando, mas de maneira estranha, um certo sentimento controverso se fez presente ao despertar. "Por que estou sentindo isso? Por que um sonho tão feliz me fez despertar triste desse jeito?", pensou, colocando as mãos no peito.
— Ah! Deixa de bobagem, Ayumi, foi só um sonho — ela se repreendeu. — Esse desejo de ser mãe está te deixando louca... Mas, se bem que... foi tão bom segurar aquele bebê nos braços — sorriu, colocando uma madeixa de cabelo atrás da orelha.
E a chuva continuou a cair enquanto a luz do dia começava a despontar no horizonte. Aquela era uma manhã cinzenta, típica de dias chuvosos.
Ayumi não percebeu, mas acabou pegando no sono. Quando abriu os olhos, a claridade do dia invadia suas retinas causando um certo incômodo. Ela respirou fundo e esticou-se, em seguida calçou suas pantufas e foi direto para o banho. Meia hora depois, saiu e vestiu-se com um lindo vestido vermelho com detalhes em preto. Já vestida, abriu a porta e seguiu pelo corredor, desceu as escadas e, por fim, chegou ao salão de jantar.
Havia certa movimentação, como era comum todas as manhãs. Serviçais andavam servindo aos deuses, enquanto outros varriam os pisos lustrosos, que a cada momento ficavam mais limpos. Ayumi cumprimentou a todos com um saudoso bom dia. Ao chegar ao fim da longa mesa de vidro, repleta de guloseimas, a deusa sentou-se em sua cadeira e aguardou para ser servida. Foi então que sua protegida, Dina, chegou com uma jarra de suco, com a intenção de servi-la. Estava mais alegre do que costumava ser, bom, pelo menos perto de Ayumi, seu temperamento era bem mais sereno do que com Max durante o dia.
— Bom dia, senhora! Vai querer suco? Este aqui é de laranja, mas também temos suco de limão, uva e tangerina na cozinha. Se quiser de outro sabor, é só me falar que eu trago!
— Nada disso, senhorita — repreendeu Ayumi — você vai se sentar e comer aqui comigo! Já te disse mil vezes que você não é uma empregada, meu amor.
Quando ouviu essas palavras, a jovem sorriu sem graça e tentou buscar formas de se justificar perante a deusa.
— Mas, eu gosto de fazer as coisas para a senhora. É o mínimo que posso fazer por alguém tão boa quanto a senhora.
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Kronedon - O Ciclo Ancestral [1° Livro Da Saga Ancestral]
RomanceAyumi é uma deusa bondosa e muito poderosa, que vê sua vida ser abalada após selar um acordo com um fantasma de seu passado que não lhe deixou alternativa a não ser aceitar. Entre as condições do acordo estava a de ser mãe dos filhos de seu pior ini...