Kronedon - O Ciclo Ancestral [1° Livro Da Saga Ancestral]

11. O monstro do vale

Nessa altura do campeonato, Foxy já estava respirando o aroma doce do pólen que as abelhas e beija-flores desastrados deixaram escapar em meio ao trajeto de polinização, e que agora pairava no ar refrescante e límpido da floresta de pinheiros. Faltavam alguns minutos para o dia dar lugar à noite, e Foxy mantinha seus passos firmes e ágeis pelo solo atapetado de folhas e galhos que outrora o vento atirava no chão.

Enquanto corria, Foxy era acalentada por inúmeras sensações das quais somente a liberdade poderia lhe proporcionar. O vento no rosto e o toque da terra na sola de suas patas eram de deixar qualquer sonho de liberdade possível. Estar ali era como estar em casa. Sensação esta que nunca teve naquele lugar que por tanto tempo chamou de lar.

"Se meus cálculos estiverem corretos", pensou, "faltam aproximadamente uns 5 quilômetros para fazer essa corrida valer a pena."

"Errado."

Nunca na vida a palavra "Errado" soou tão "Errado" nos ouvidos de Foxy. Era como se todas as sílabas tivessem sido arranjadas de maneira a maximizar o desconforto e a dissonância. A palavra ressoou em sua mente, reverberando como um eco ensurdecedor que não podia ser silenciado. A sensação era tão perturbadora que Foxy sentiu um calafrio percorrer sua espinha, seus músculos se contraíram involuntariamente e, por um momento, perdeu completamente o controle sobre os seus passos.

Foi então que tudo desmoronou. Com os sentidos atordoados e a mente em turbilhão, suas patas se embaralharam, fazendo-a tropeçar. O impacto inicial a desequilibrou e, em uma fração de segundo, Foxy estava caindo, rolando descontroladamente pelo chão. A terra parecia ter se transformado em um redemoinho implacável que a sugava, sem dar-lhe qualquer chance de se estabilizar.

À medida que rolava, sua força e tamanho se tornaram uma ameaça. Foxy arrastou consigo meia dúzia de árvores, que sucumbiram sob o peso imenso de seu corpo. As raízes estalaram e os troncos se partiram como se fossem meros gravetos. O barulho da destruição ecoou pela floresta, uma sinfonia caótica de madeira quebrando e folhas sendo despedaçadas. O mundo ao redor de Foxy parecia se desintegrar em um caos de ruínas e destroços, enquanto ela continuava a ser arrastada pela força incontrolável que havia desencadeado.

Quando finalmente parou, o estrago estava feito. A Yokaytan se viu deitada no chão, cercada por uma cena de devastação. Respirava com dificuldade, sentindo o peito arfar enquanto tentava processar o que havia acontecido. A palavra "Errado" ainda ecoava em sua mente, um lembrete persistente do momento que havia desencadeado aquela cascata de desastres.

De barriga para cima, a raposa olhava desnorteada para o alto. "Que merda é essa?" pensou. "Eu devo estar ficando louca", afirmou para si mesma após perceber que perecia sozinha naquela selva. Chegou a essa conclusão facilmente, sem ao menos "fritar" seus neurônios para julgar a sua solidão em meio aos curiangos, que freneticamente pulavam de galho em galho promovendo a ópera à qual Foxy decidiu apreciar por uns instantes. Afinal, era o mínimo a se fazer após arrancar um pedaço da selva com seu tombo.

Um minuto, talvez dois, no máximo três, ela se desligou da sua consciência e se permitiu viver aquele momento. Teria sido horas de entrega ao rugir da natureza, se não fosse por aquela voz esfregando na sua e com todas as letras: "Você se esqueceu que dentro de você eu existo!"

"Esquecer?" pensou, em um tedioso tom de murmúrio. "Esquecer não, eu só não sabia que a gente podia conversar fora da meditação."

"Pois agora sabe," replicou num tom prepotente. "E digo mais: deveria se sentir honrada!"

"Honrada pelo quê?" indagou com escárnio. "Por você ter contribuído para a morte de seis árvores? Me poupe, Kira! Foram seis vidas perdidas! 'Seis!'" enfatizou enquanto se recompunha. Fez isso com maestria, tanto que nem parecia pesar 240 arrobas. Era ágil demais para uma raposa de 5 toneladas.