7. Sem propósito

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Sendo a primeira a abandonar o salão de jantar, Arântola buscou forças dentro de si mesma para não estourar como um elástico; se não fosse forte o bastante para se controlar, não teria tempo de chegar ao quarto antes de ela vir. "Droga, se controle", ela pensou enquanto caminhava. Naquela altura, as paredes se tornaram o seu ponto de apoio, evitando que ela desmoronasse. Suas pernas iam atrofiando a cada passo, e cada vez mais distante parecia estar o seu quarto. Foi com muita dificuldade que a jovem pálida cruzou o corredor, ao qual logo mais seus irmãos passariam. Mas tudo se complicou quando pôs os pés no salão do trono; suas pernas já não respondiam aos seus impulsos para se manter de pé, e foi aí que ela desmoronou. Foi questão de segundos para que as suas pernas enganassem o seu caminhar.

Sem forças para dar um único passo, ela caiu de bruços no chão do salão do trono. "Não... não pode vir... não pode", disse a si mesma em pensamento enquanto se arrastava pelo chão. O desespero tomou conta de sua mente que lutava para não ruir, mas a ruína era insistente em arruína-la. "Calma... Arân... Você consegue..." continuou a falar consigo mesma enquanto tentava arrancar com os dentes as teias de aranha que saíam de suas mãos. "Se acalme... se acalme... tudo vai ficar bem... tudo vai ficar bem..."

Com a mísera força que lhe restava, ela se arrastou até os pés da escada e tentou usá-la como ponte de apoio para se levantar. Mas não conseguiu. E sentia que a cada movimento mais as suas forças evaporavam em uma ebulição de medo e desespero. Foi nesse momento que Demétrio surgiu e, ao vê-la, correu para ajudá-la.

— Arân... por Cron, você está bem? — gritou indo direto até ela. E num impulso a virou em sua direção, e o que viu o deixou em choque — Pela madrugada, o que é isso?!

O rosto dela estava irreconhecível, metamorfoseando-se numa visão grotesca e macabra. As feições humanas distorceram-se, fundindo-se com a monstruosidade de uma aranha. As pupilas dilataram-se, transformando-se em olhos múltiplos e brilhantes, refletindo a escuridão de um abismo insondável. Suas narinas expandiram-se como aberturas sinistras, emitindo uma presença insidiosa.

A pele, outrora suave e pálida, tornou-se uma carapaça exoesquelética, revelando um padrão assustador de manchas que lembravam o corpo de aracnídeos venenosos. Uma teia fina de fios negros começou a se entrelaçar ao redor de seu cabelo, transformando-o em tentáculos que ondulavam como patas de aranha à espreita.

Seus lábios desfiguraram-se, adquirindo um contorno ameaçador, enquanto presas afiadas se projetavam de sua boca em um reflexo macabro de mandíbulas venenosas. O terror estava gravado em cada detalhe daquele rosto que oscilava entre o humano e o aracnídeo, uma metamorfose sombria que desafiava toda compreensão da natureza.

— D-Demer... Me leve para o meu quarto... Não posso controlá-la... mas posso contê-la... — disse ela em um breve discurso ao qual usou todas as suas forças restantes.

Apesar de bem curta, essa frase foi esclarecedora para Demétrio. "Então o monstro atrás da porta era você", ele pensou com um olhar terrivelmente preocupado.

— Demé... — ela esticou a mão em direção ao rosto de Demétrio, porém só conseguiu tocá-lo com a ponta do dedo indicador. Foi um toque leve, porém áspero como a língua de um gato e que grudou em sua pele por um mísero segundo, como se sua pele tivesse se enroscado em espinhos de amoras selvagens.

— Perdão. Vou te ajudar — ele enfim respondeu. — Mas já vou avisando que é bom você ter uma BOA — ele a pegou no colo — explicação para isso.

Kronedon - O Ciclo Ancestral [1° Livro Da Saga Ancestral]Onde histórias criam vida. Descubra agora