Com o tocar da sétima badalada, todos aqueles cuja fome se fez presente se desprenderam de suas tarefas, deixando o cuidado para com o mundo no piloto automático e se dirigiram ao salão de jantar para se deliciar com um saboroso banquete. Ayumi, a matriarca, foi uma das primeiras a descer para o salão. Não demorou muito e logo a mesa da Família Real teve seus assentos preenchidos pelos nove herdeiros de Ayumi. Sim, os nove irmãos já haviam chegado e como em qualquer outra família, conversavam com entusiasmo e uma animação contagiante.
Foxy comia e dava tapas na mão de Kronet sempre que ele tentava pegar um pedaço de um frango frito na bandeja de prata. O frango está muito apetitoso, crocante e muito bem temperado e era evidente que Foxy não estava satisfeita em dividir aquele belo frango com o irmão. Era estranho esse comportamento, ela mais se parecia com um cachorro rosnando quando alguém tenta pegar a sua ração.
— Au! Vem cá, Foxy? Você vai comer tudo isso aí sozinha? — ele apelou, acariciando as costas da mão onde a ruiva o arranhou.
Ela não respondeu, apenas olhou para ele de "rabo-de-olho" enquanto mastigava uma quantidade questionável de alimento. Olhando para ela, Kronet teve uma visão clara do que é de fato a gula. As bochechas dela estavam parecendo duas bolas de bilhar, resultado do exagero de comida que ela enfiou de uma vez na boca. "Essa menina ainda vai ter uma congestão ou coisa do tipo", ele pensou e bebeu um gole de cerveja.
Porém, nem todos desfrutavam de uma alimentação em exagero. Ayumi, com certeza, era esse alguém. A deusa, na ocasião, estava muito entretida conversando com Hiroto e também com as gêmeas May e Mayrin, pois estes se sentaram próximos à mãe, que por sua vez se sentava na ponta da grande mesa. O assunto parecia estar bem agradável e os olhos de Ayumi brilhavam cintilantes enquanto olhava para o pequeno Hiroto. De longe se via que a doce e meiga Ayumi se derretia de amor pelo filho. Um amor maternal ao qual os outros filhos julgavam ser excessivo. E que às vezes gerava especulações de que Hiroto era o seu filho predileto. Mas não passavam disso: especulações. Mas seja especulação ou não era mais do que suficiente para gerar conflitos entre irmãos, principalmente com Éron, que não perdia a oportunidade de insultar e também descer o braço no irmão mais novo. Hiroto apanhava, pobre garoto não tinha coragem o bastante para se defender e na maior parte das vezes não contava das surras que levava para a mãe, pois tinha medo das ameaças de Éron.
Mas, por incrível que pareça, naquele dia, Éron não estava olhando para ele com ódio. Sim, vez ou outra ele olhava para a mãe, e consequentemente via o irmão caçula, que tinha os cabelos alabastrinos como os seus. Porém, os do irmão eram mais longos e tinham franjas escorrendo por sua testa até a altura das sobrancelhas. O garoto de rosto angelical e de expressão alegre e radiante sorria juntamente às gêmeas, May e Mayrin.
Entre olhadas de uma ponta a outra, o Deus observava a semelhança gigante entre May e Mayrin: os olhos, o formato do rosto, a cor de pele; tudo era igual. Ambas eram brancas e com os cabelos assustadoramente pálidos como as penas de uma garça. Notou que elas conseguiram se passar uma pela outra com facilidade, isto é, se os seus cabelos fossem do mesmo comprimento. Pois, May tinha os cabelos longos e bem lisos, enquanto Mayrin usufruía de um cabelo também liso, mas os dela eram curtos.
E foi exatamente pensando nessa semelhança que ele olhava para elas e também para Arântola, e é claro, para Foxy. Elas estavam sentadas do lado oposto ao dele, sendo elas as últimas a ocuparem as cadeiras daquele lado da mesa. Ainda havia no mínimo sete cadeiras desocupadas após o assento de Arântola, e cerca de oito estavam vagas do lado de Éron, que dividia aquele lado da mesa com Demétrio, May e com a simpática Ofany, a qual estava à sua direita, se deliciando com o saboroso jantar.
Vez ou outra, Ofany espiava de maneira disfarçada para Éron, e não pôde deixar de notar o olhar acusador e afiado ao qual ele dirigia para Arântola. Ofany, apesar de ser um tanto ingênuo, não chegava a ser tolo ao ponto de não notar que esse olhar que recaía sobre Arântola era um olhar de mais puro desprezo, e estava evidente que a pobre Arântola estava mais do que desconfortável com essa situação.
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Kronedon - O Ciclo Ancestral [1° Livro Da Saga Ancestral]
RomansaAyumi é uma deusa bondosa e muito poderosa, que vê sua vida ser abalada após selar um acordo com um fantasma de seu passado que não lhe deixou alternativa a não ser aceitar. Entre as condições do acordo estava a de ser mãe dos filhos de seu pior ini...