Durham

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Ava costumava pegar o metrô para casa. Gostava de andar e assistir as pessoas por aí, mas desde que ingressou na polícia, perdeu esse pequeno prazer. E se fosse honesta, admitiria que também não gostava de dirigir, aprendera somente para ser aceita na polícia.

Aproveitou o fato de estar em uma cidade nova, o que também tornava o caminho até o prédio antigo muito mais interessante, para pegar o metrô.

Desfez um esquema de corrupção importante e apesar de ter sido transferida para o outro lado do país, sabia no fundo, que não seria o suficiente para manter sua segurança. Apesar disso, ignorou a sensação ruim que estava sentindo naquela terça-feira de clima agradável.

Se despediu dos colegas e saiu para pegar o trem, a sensação de estar sendo seguida e observada aumentando. Ignorou até alcançar a estação deserta, onde o sentimento estranho se provou quase uma premunição. Dois homens pálidos, altos e bem vestidos a observavam do outro lado da plataforma.

Encarou discretamente, tateando a arma em sua cintura, pronta para sacá-la a qualquer momento. Quando uma terceira pessoa surgiu, uma mulher de cabelo preto, preso em um coque no alto da cabeça, dessa vez, há alguns metros do mesmo lado em que ela estava. Levantou, andando apressada para fora. Pegaria um táxi até em casa e não voltaria ao transporte público tão cedo, prometeu a si mesma.

Entrou no primeiro táxi da fila e quase foi alcançada pela mulher. Porra. Porra. Porra. Respirou fundo, fechando os olhos com força.

— Quinta avenida, por favor. — O motorista assentiu.

Desceu apressada, quase jogando as notas para cima do rapaz. Subindo a escadaria do prédio correndo. Não tinha a menor condição de continuar na cidade. Assim que alcançou a própria porta, ligou parar Yasmine. Os objetos ainda nas caixas de mudança.

— Eu fui seguida!

— Como? Ava, você tem certeza?

— Absoluta, eu preciso de carona até o aeroporto essa madrugada. — Prendeu o telefone entre o ombro e a orelha, enquanto trancava o apartamento e jogava as poucas coisas que levaria, dentro de uma mochila.

Tô indo aí.

— Yas, não conta pra ninguém, tenho certeza de que temos alguém infiltrado.

*

Yasmine chegou uma hora depois e tomou todos os cuidados para não ser notada, inclusive, usando um carro alugado. Ava andava de um lado para o outro sem saber direito o que fazer, mas tinha uma intuição forte o suficiente para ter certeza de que não ficaria viva se continuasse em Birmingham.

— Sou eu, Ava. —  Destravou a porta para a amiga, que tirou o chapéu, jogando em cima do sofá de couro marrom. — Pra onde você vai?

— Vou decidir no aeroporto, só preciso sair daqui rápido. E você deveria ir também.

— Eu vou para Paris no sábado, vou me cuidar até lá.

Ava assentiu e colocou a mochila nas costas, deixando o celular e todo o resto de suas coisas para trás, esperando poder voltar pra buscar em algumas semanas. Desceram com bonés, pelo elevador de serviço e deixaram o prédio pela garagem.

Yas dirigiu o Sandero azul alugado até o aeroporto, onde Ava comprou a próxima passagem para qualquer lugar, como pediu a moça que informou o destino do próximo avião. Newcastle seria perfeita, iria descer na cidade e então pegar um carro para Durham, sua casa nova, sem deixar rastros em sistemas. 

— Assim que chegar lá, me manda mensagem, ok? Pega um celular emprestado. — Assentiu.

— Se cuida, por favor. — Deram um último abraço e ela embarcou para a cidadezinha no Nordeste da Inglaterra. 

*

Durham não possui aeroporto, assim com algumas cidades próximas a Newcastle. O destino perfeito. Não teria nenhuma passagem em seu nome e Newcastle é enorme o suficiente pra distrair os desgraçados que estavam atrás dela por algum tempo. O dia já estava amanhecendo quando finalmente desceu do táxi em frente ao prédio indicado pelo motorista. Em frente ao único bar do quarteirão e perto do principal mercado da cidade. A arquitetura românica dava um ar todo especial ao lugar. 

Estava prestes a sentar na calçada e esperar um horário aceitável para bater na porta do apartamento dois, que deveria pertencer ao síndico e se oferecer para alugar o apartamento disponível, quando uma mulher baixinha, de cabelo curto deixou o prédio com roupa de academia.

— Bom dia, posso ajudar? — Perguntou, gentil, enquanto fazia um alongamento rápido.

— Bom dia, meu nome é Ava. Estou só matando o tempo, preciso alugar um apartamento e o Sr. Oliver me indicou esse prédio. — Tentou sorrir e só então percebeu que ainda estava tensa.

— Ah, sim, bem, está frio aqui e a Mary acorda cedo. — Voltou para a porta, segurando para que a estranha passasse. — Meu nome é Camila. — Sorriu, enquanto andava até o fim do corredor e batia na porta.

— Bom dia, Mary, essa é a Ava e ela quer alugar o doze. — Mary também estava usando roupas térmicas de academia. Encarou Camila confusa e depois Ava. A mulher com uma mochila pequena nas costas estava forçando um sorriso, as olheiras enormes e a roupa amassada denunciavam algo estranho.

— Bom dia, Camila, pode ir, eu converso com ela. — Camila sorriu para Ava e deixou as duas no corredor. Ava estava tensa, tentando bolar um plano onde ela não precisaria se identificar para alugar o apartamento. — Então, Ava, vou te mostrar o lugar.

Subiram dois lances de escada até o apartamento, no primeiro andar. Ela agradeceu mentalmente a cada degrau, odiava elevadores.

— São seiscentas libras por mês com tudo incluso, não temos garagem e nem câmeras de segurança. — Ava assentiu, buscando a carteira no bolso. — Posso olhar seus documentos? Vou dar uma checada por motivos de segurança.

— Hm, sobre isso — Tossiu, nervosa. Mary não a deixaria alugar sem a identificação e estava certa. — Eu sou delegada de polícia em Cambridge. — Sacou o distintivo e sua identidade. — Estou aqui para investigar um caso.

— Aqui? Em Durham? Nada acontece aqui. — Riu. — Você acha que pode trazer problemas para o prédio?

— Não, eu serei discreta. — Mary assentiu, verificando os documentos da mulher cansada em sua frente.

A mobilha do lugar resumida ao sofá velho na sala, um aquecedor e um mini frigobar. 

— Se quiser, pode comprar móveis na rua ao lado do mercado central. — Ava assentiu, pagando e agradecendo.

Mary se despediu e ela se sentou no sofá, tirando suas armas de dentro da mochila e posicionando as duas para que pudesse sacar com facilidade, em caso de necessidade.

Die for you | Avatrice [ShortFic]Onde histórias criam vida. Descubra agora