Ava estava dormindo na cama de Beatrice pela terceira noite seguida. E apesar da mais alta se esforçar pra que ela se sentisse acolhida, ela ainda se sentia deslocada e incomodando. Na verdade, esses eram sentimentos que a seguiam desde sua adolescência, quando os pais começaram abdicar do tempo com ela por qualquer outra ocupação. Tentava se lembrar o tempo todo que Bea realmente queria dizer todas aquelas palavras.
Afinal, a mulher não ganharia nada com aquilo. Nada mesmo. Sorriu, terminando de arrumar a cama e deixar o quarto. Sua perna já dava sinais de melhora, Beatrice fazia os curativos e colocava seu remédio na mesa, ao lado de uma garrafinha de água com gás, como se fossem grandes amigas da vida toda.
Não tinha mais visto Hans no tempo em que esteve ali, e Bea estava ocupada no escritório, então ela passava a maior parte do dia no sofá sozinha, pesquisando e fazendo pequenas ligações com Yasmine, para trocar as informações encontradas por ambas.
— Bea? — Chamou, antes de entrar no escritório. Estava focada em alguma coisa no livro de registros.
— Hm? — Levantou a cabeça. — Precisa de alguma coisa?
— Sim, preciso fazer alguma coisa, quer ajuda em algo? Posso ajudar o Hans lá no pub.
— Não. — Se adiantou, levantando. — Sua perna ainda não está cem por cento, Ava, e você não pode ficar tão exposta assim.
— Eu sei, mas não tem nada que eu possa fazer, mesmo? Não preciso forçar a perna.
— Você pode só- — Olhou ao redor — Me fazer companhia.
Sorriu, sentando na cadeira livre, ao lado da mesa da mais alta, analisando os pequenos detalhes da sala. Pouca decoração. As cores escuras e a madeira antiga. Bea estava concentrada, calculando números e escrevendo os resultados. Sexy. Ava afastou a palavra, sacudindo a cabeça e tentando focar em outra coisa e ignorar seu pensamento impuro.
— O que é isso? — Bea riu com a pouca capacidade da mulher de ficar em silêncio.
— Todos os dados do nosso último pedido de bebidas alcoólicas, valor pago, lucro, quais foram os produtos. — Assentiu, passando o olho pelas informações. — Você tomou café da manhã? Acha que consegue andar até o carro?
— Claro! — Sorriu largo e a mais alta levantou, voltando poucos segundos depois com um boné e um casaco de gola alta.
— Vamos? — Ofereceu o braço de apoio e deixaram o cômodo.
Hans estava no balcão, servindo um cliente quando viu as duas. Ava sorriu, acenando para ela.
— A Ava caiu no treino. — Bea explicou e ele levantou as sobrancelhas sugestivo.
— Aham, sei. - Bea ia reclamar, quando a mais baixa puxou seu braço.
— Deixa ele. — A dona do pub se fez de ofendida e os três riram.
Deixaram o lugar em direção ao carro, estacionado no beco da saída de emergência. Ainda a lata velha trocada no dia do incidente.
— Onde vamos? — Beatrice deu a partida,
— Bom saber que você confia em mim assim, tão rápido. — Foi irônica. — Não deveria.
— Você confiou em mim primeiro. — Devolveu.
— Vamos comprar um café e dar uma volta, não faz bem ficar tanto tempo isolada.
O caminho foi calmo, confortável, como era sempre que a mais alta estava por perto. Se sentia segura. Bea parou em uma cafeteria, comprou algumas fatias de bolo, chá e café. As duas começaram a comer dentro do carro velho, conversando sobre suas experiências na polícia.
— Me senti meio Sherlock Holmes no meu primeiro caso.
— Pensei que você se sentiam assim em todos os casos.
— Haha, muito engraçada. — Ava terminou seu café.
— Já decidiu se vai me deixar fazer parte disso? Quero dizer, fazer mesmo parte disso. — Fez uma careta. — Ava, eu-
— Eu não vou me perdoar se alguma coisa acontecer com você.
— Não vai acontecer, eu prometo.
— Você não pode prometer esse tipo de coisa, é vidente por acaso? — Bea riu.
— Claro que posso, eu sou boa o bastante pra te garantir que não seremos pegas.
— Ok. Ok. - Respirou fundo, rendida.
— Então, você quer começar por onde? Preciso de todos os detalhes.
— Eu estava nesse caso, James McLean. Ele supostamente teria falecido em um acidente de carro. Mas durante os primeiros passos da investigação, descobri que Jeremy, seu parceiro de diligências, sequer estava no local do acidente, as escoriações eram muito mais parecidas com uma surra que qualquer outra coisa.
— Ele pediu para alguém bater nele ou foi ameaçado?
— Ameaçado. E aí que chegamos a primeira pessoa grande envolvida nisso, Gordon era o delegado da unidade mais próxima a minha delegacia e o responsável por investigar um desvio milionário de dinheiro público. A investigação foi concluída muito rápido, muito mesmo e sem um culpado.
— Eu li sobre esse caso ano passado, mas acho que não vi seu nome.
— Deve ter sido antes das coisas se unirem. Eu estava investigando cada passo do policial Jeremy, até que encontrei diversos vestígios de que o Gordon estava perseguindo os dois. Ele foi o responsável por ameaçar Jeremy e James. Ambos se recusaram a cooperar com a farsa da investigação.
— Ele obrigou Jeremy a assumir a autoria do acidente? — Ava confirmou com a cabeça.
— As pistas iam pipocando de toda parte, Bea, era como se todo mundo soubesse daquilo. Eu me senti péssima, incompetente e incapaz. Entrei na polícia para garantir que as coisas funcionassem principalmente para quem mais precisa, aquele dinheiro era importante pra tanta gente e-
Beatrice segurou sua mão e o ato pensado para encorajar, acabou desconcentrado a delegada.
— Esse momento é o mais difícil. A frustração, o jeito como somos jogadas contra a realidade.
— Sim, eu queria sair e viver minha vida em segurança, voltar a ter a liberdade que eu perdi, mas também queria ira até o fim e prender os responsáveis, qualquer coisa, menos fingir que aquilo não estava acontecendo, então escolhi a segunda opção.
— Em quem você chegou? Conseguiu prender quantos?
— Gordon está preso, mas assim que cheguei no desgraçado, descobri mais alguns nomes grandes, incluindo um colega próximo, Vincent e o vice-prefeito.
— Ok, preciso dar uma olhada em todos os papéis que você tem, tudo bem?
— Claro. E obrigada.
— Só me agradeça quando a gente pegar os últimos desgraçados e você puder voltar, ok?
Sorriu e se deu conta de que ainda tinha os dedos entrelaçados aos de Beatrice. E não queria soltar.
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Die for you | Avatrice [ShortFic]
FanfictionA delegada Ava Silva acaba de solucionar um caso e é transferida para outra cidade, para sua segurança. Mas não é suficiente e ela vai precisar contar uma ajuda inesperada.