Ava já estava há uma semana na cidadezinha. Uma semana de tédio. Saía para correr duas vezes ao dia, muito mais para matar o tempo que qualquer outra coisa. Tentava não esbarrar em ninguém, quanto mais passasse despercebida, melhor, mas estava morrendo por uma conversa sobre qualquer coisa. Diminuiu as idas ao bar, já que Hans parecia ótimo em perguntar e ela não queria precisar ser desagradável com o rapaz.
Estava voltando de sua segunda corrida do dia, quando foi vencida pela vontade de tomar um vinho no bar. Aproveitou o fato de ser uma quarta pelo menos três graus abaixo da temperatura habitual de Durham. E acertou, o The Library estava quase vazio. Hans acenou para ela, sorrindo como sempre. Pelo menos estava rodeada de pessoas agradáveis, mesmo que não pudesse manter o contato do jeito que gostaria, era bom ser tratada bem nas poucas interações que se permitia.
Pediu uma garrafa pequena de vinho rosé e uns petiscos para matar o tempo, assistindo as pessoas caminhando empacotadas em várias camadas de roupa passando lá fora, principalmente as famílias que quase a faziam sentir falta dos pais caóticos.
— Ava, a Beatrice quer falar com você. — Hans se sentou em sua mesa, com um paninho no ombro.
— Eu? — Ele assentiu. — Ela disse o motivo?
— Não, mas ela é ótima, não precisa se preocupar. — Preocupada não era bem a palavra. Estava quase levando uma unha até a boca, quando Hans voltou a falar: — Pode subir, ela está te esperando.
Assim que o homem levantou da mesinha para dois, ela fez o mesmo movimento, virando o último gole de vinho da garrafa e indo em direção a escada. Estava morrendo de curiosidade. O que a dona do pub queria com ela?
— Beatrice? — Deixou duas batidinhas na porta que estava aberta, como da última vez.
— Oi, Ava. — Sorriu, levantando da cadeira. Foi a primeira vez que prestou atenção nela. E uau. Ela estava usando roupas folgadas, mas ainda assim, dava pra notar que não se tratava de alguém sedentária, muito pelo contrário. — Imagino que esteja curiosa.
— Um pouco, sim. — Sorriu nervosa e Beatrice quase riu, se arrastando para voltar a falar. — Você vai me dizer ou não? — Sem conseguir segurar a risada, se apoiou contra a madeira da mesa, as mãos nos bolsos da calça. — Perdão, talvez eu esteja mais que "um pouco" curiosa.
— Eu sei quem você é, Ava. — Franziu o cenho e Beatrice sacou o próprio distintivo, porém com o símbolo de Londres e cargo de investigadora. Seu coração acelerando como se fosse sair do peito a qualquer instante. — Sabia que conhecia você de algum lugar quando precisou usar meu celular. — Checou o distintivo e parecia muito verdadeiro. — Precisei ir até Cambridge uma vez e vi você na delegacia.
— Quanto tempo faz isso? Nós nos falamos? — Beatrice riu novamente.
— Não, tudo bem se você não lembrar, eu estava bem diferente na época.
— O que você está fazendo aqui em Durham? — Estava paralisada, os braços cruzados em sinal de desconforto. O cérebro se esforçando para lembrar da mulher em sua frente.
— O mesmo que você. — Gelou. Então Beatrice sabia? Por que caralhos ela estava tão desinformada? Odiava ficar em desvantagem. — Syd Morgan. Precisei tirar uma licença. Quando me disse seu nome naquele dia, não foi difícil encontrar notícias com rosto.
Syd Morgan foi um policial morto por colegas, por se recusar a encobrir um escândalo. Ela lembrava por alto de alguns detalhes, mas não teve tempo de prestar atenção no caso, estava trabalhando em seu primeiro grande caso, na época.
— Qual a chance da gente estar na mesma situação, na mesma cidade?
— Eu cheguei primeiro. — Riu. — Você precisa de ajuda?
— Todo mundo aqui é tão solícito, meu Deus. — Sorriu. — Mas sou meio loba solitária.
— Bem, você sabe onde me encontrar se precisar. — Sorriram uma para outra.
— Obrigada, de novo.
Acenou, deixando o escritório de Beatrice. Estava confusa e frustrada, queria lembrar. Mas fazia mais de quatro anos e sua memória nunca foi tudo isso. Riu sozinha, voltando para mesinha. Hans veio até ela, com a maior cara de quem queria saber do que se tratava e ela precisou improvisar uma desculpa.
— Não foi nada demais, hm, Hans, eu queria ficar e conversar mais, mas tenho uma visita chegando, até outra hora, tá?!
Deixou o pub apressada, depois de deixar as notas para a conta em cima da mesa. Precisava falar com Yasmine sobre isso. Subiu as escadas pulando de dois em dois degraus e ligou o notebook que já estava configurado para ser usado com segurança há alguns dias, ela carregava consigo um pen drive com um sistema protegido, desenvolvido por um hacker de sua confiança, poderia plugar em qualquer máquina e se comunicar com Yas através de um servidor privado.
Ligou para Yasmine, que atendeu no segundo toque.
— Yas, euacabeideencontrarumainvestigadoradelondresquemereconheceu. — A morena riu do outro lado.
— Você vai ter que repetir, dessa vez, respira.
— Encontrei uma investigadora de Londres, que me reconheceu, qual a chance?
— Quê, quem? Ela é confiável? Melhor você vir pra França. — Foi a vez de sua amiga disparar.
— Beatrice, uma das investigadoras do caso Syd Morgan. E não sei se é confiável, mas ela me ofereceu ajuda.
— Lembro desse caso, falando em oferecer ajuda, o Michael e disse que o Vincent deve ter sido o responsável por entregar a nossa localização.
— Ele deu alguma informação útil? — Yasmine confirmou.
— Vincent vai a Newcastle amanhã.
— Que coincidência — Riu irônica. — Então eu preciso ser vista lá.
— Tá louca?
— Relaxa, Mine, eu sei me cuidar. Vou deixar algum rastro, sacar um dinheiro e voltar pra cá.
— Sozinha, Ava?
— Não posso me esconder pra sempre. — Yasmine continuou tensa. — Preciso saber quem mais está com ele e se tudo der certo, gastar mais do tempo deles na cidade errada.
— Se cuida e me avisa quando voltar. O voo dele deve chegar às seis da manhã. Acha que consegue fazer isso antes e voltar?
— Sim, Senhora. Vou sair de casa agora mesmo.
— Se cuida, ok? Não esquece de mandar notícias.
— Vai ficar tudo bem, Newcastle é aqui do lado.
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Die for you | Avatrice [ShortFic]
FanfictionA delegada Ava Silva acaba de solucionar um caso e é transferida para outra cidade, para sua segurança. Mas não é suficiente e ela vai precisar contar uma ajuda inesperada.