O dia finalmente havia chegado. Ava estava estudando o mapa desenhado por Yas, pela milésima vez. Assim que o desgraçado terminasse o discurso, ela iria se aproximar e ameaçar expor provas sobre ele ali mesmo.
— Ei, vai funcionar. — Bea levantou seu rosto pelo queixo, beijando sua boca com carinho.
— Precisa funcionar. - Sorriu amarelo.
Estavam no quarto reservado por Yas, em nomes diferentes. Muito mais luxuoso que o pequeno quarto que dividiam em frente ao píer. Mas ambas secretamente preferiam a proximidade que um cômodo menor podia proporcionar. Especialmente aquele.
— Tem certeza que precisa desse computador? — Se sentiu mal em mentir. Não precisava.
— Sim e ele não vai querer falar comigo se perceber que não estou sozinha. - Levantou, esfregando as mãos.
— Eu poderia ficar escondida. — Suspirou. — Mas você está no comando. Assim que eu terminar, desço pra encontrar você.
— Certo.
— Ok, quebra a perna. — Ava abraçou Bea com força por um bom tempo, tentando se convencer de que em algumas horas seria perdoada e poderia abraçá-la de novo.
Prenderam as armas nos coldres e deixaram o quarto em direção ao elevador. O discurso estava no fim, Yas já estava posicionada para gravar e ela iria se separar de Bea no próximo andar.
A porta do elevador abriu no andar do quarto de Charles e antes que a porta fechasse, Ava chamou um última vez.
— Bea, eu estou apaixonada por você. — A porta fechou, rápido demais, antes que pudesse ouvir sua resposta. Não conseguiu evitar que algumas lágrimas caíssem, mas se recompôs.
Saiu da caixa metálica tomando coragem, até encontrar o olhar do loiro de meia idade entre vários outros velhos brancos e poderosos.
Caminhou decidida, parando o mais perto que os seguranças dele deixaram, o suficiente para ser ouvida.
— Você tem alguns segundos para me seguir ou algumas provas vão rodar naquele telão. — Tentou ser convincente, blefando na maior cara de pau. O homem folgou a gravata, ficando vermelho e deu um passo a frente. Todos os veículos tradicionais ali, seria sua morte política.
— Vamos ver do que essa Senhorita precisa, um momento, senhores. — Virou para o segurança e sussurrou: — Não quero ser seguido. Me esperem do lado de fora.
Ava caminhou até a porta dupla do depósito, malas, objetos, caixas e os dois. Além das câmeras escondidas de Yas bem posicionadas.
— O que você quer?
— Que você assuma o que fez. Se não o fizer, vai ficar bem mais feio pra você. Vamos expor provas.
— Que provas você tem?
— Vincent te traiu. — Mentiu esperando que colasse e pela cara que o vice-prefeito fez, colou.
— Aquele bastardo! O que ele disse?
— Disse? Ele nos enviou documentos, fotos e vídeos de conversas muito interessantes.
— Então o que você quer aqui? Dinheiro? Posso pagar muito bem por isso.
— Mais do que você tentou pagar a Jeremy e o parceiro dele que você mandou matar?
— Muito mais! Fico feliz que você tenha pensado nessa opção, expor essas provas não vão te trazer nenhuma segurança, sabe como é, acidentes sempre podem acontecer. — Ava cerrou os olhos, queria esganar o maldito. Mas manteve a atuação.
— Então, antes disso, que tal derrubar aquele traidor? Você só precisa vazar algo para mim e eu garanto que ele será preso.
— Espera, isso é bom demais para ser verdade! Você não está blefando, está?
— Claro que não! Como eu saberia disso tudo se estivesse? Não estou na delegacia há mais de um mês.
Antes que ele continuasse questionando, um estrondo alto vindo do lado de fora assustou os dois, que sacaram a arma mais próxima imediatamente.
Ambos hiperventilando com o susto, as armas firmes, prontas para qualquer coisa. Ou quase. A porta abriu com um baque, e Jeremy apareceu atrás de Charles.
— Você está trabalhando com ela? — Perguntou ao rapaz com uma aparência péssima. Estava magro, como se estivesse há dias sem comer. Os olhos fundos e a roupa suja, inclusive de sangue. Ava imaginou o estrago que ele deve ter feito com os seguranças de Charles.
— Eu nem sabia que ela estaria aqui! Pensei que já estava morta!
— Ela sabe fugir bem. — Riu sem humor. — O que você quer?
— Você arruinou minha vida, minha família não acredita em mim, todo mundo que eu amo me vê como um assassino corrupto! — Ele levantou a arma, apontando para Charles.
— Jeremy, não faça nada estúpido! — Ava pediu, a arma também apontada para Charles, que alternava sua mira entre os dois.
— Vocês dois são uns merdas, sabe o que vai acontecer comigo? Nada! Todas as gerações da minha família são poderosas, todas. — Ele riu alto, virando para encarar um Jeremy desequilibrado. — Você só está sofrendo as consequências por ser um estraga prazer, igual ao seu amiguinho que virou pó. Não se preocupe que logo logo você vai se juntar a ele! — Virou de volta para Ava, se aproximando em passos curtos. — Você pensa que é quem? Acha está num quadrinho de super-herói?
— Você vai queimar no inferno! — Jeremy gritou antes de atirar, mas dois disparos foram ouvidos. O vice-prefeito caiu com os olhos vidrados, de cara no chão, morto na hora e em sua frente, Ava sentiu uma dor aguda no ombro, caindo no chão também, os olhos começando a pesar.
O desgraçado apertou o gatilho na queda, atingindo seu corpo, o ex-policial caiu de joelhos, chorando e pedindo desculpa.
— Ava! — Bea finalmente alcançou o lugar, desesperada, tentando entender que caralhos havia acontecido. O barulho dos disparos ainda ecoando em sua cabeça. — Meu Deus, Ava, o que você fez? — Correu para perto da mulher, levantando seu corpo, tirando seu casaco e pressionando contra o ferimento.
— Me desculpa. - Sussurrou.
— Shhh, deixa pra falar comigo mais tarde, ok?
— Não, Bea, me desculpa agora, por favor!
— Eu te desculpo. Agora fica quietinha, tá bom? Vai ficar tudo bem.
— Bea- — Fez um último esforço para tocar o rosto da mulher em sua frente, mas seu corpo falhou e ela apagou.
— Ava, ei, fica comigo, por favor. Eu também estou apaixonada por você! Ava! — A investigadora estava chorando tanto que sentia seu corpo tremendo, o peito apertando, rasgando.
Yas entrou desesperada, o celular no ouvido, gritando com a ambulância para se apressarem, assistindo uma Ava mole nos braços de uma Beatrice em desespero.
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Die for you | Avatrice [ShortFic]
FanfictionA delegada Ava Silva acaba de solucionar um caso e é transferida para outra cidade, para sua segurança. Mas não é suficiente e ela vai precisar contar uma ajuda inesperada.