We're friends

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O quarto tinha uma pequena sacada, com duas cadeiras e uma mesinha minúscula, de frente para o mar. Beatrice ainda não tinha voltado e Ava estava pensativa. 

Precisaria encontrar pessoalmente o vice-prefeito no hotel mais caro da cidade e arrancar alguma prova do homem. Isso poderia resultar nela ferida, ou pior, em Yasmine ou Beatrice feridas. Na melhor das hipóteses, apenas feridas.

Pensar nisso fez seu coração apertar tanto que sentiu dificuldade para respirar. Levantou em um salto, precisando tomar um ar. Andou até a sacada, sentando em uma das cadeiras e respirando fundo, as lágrimas rolando sem permissão.

— Ava? — Beatrice se aproximou, estava segurando o saco de compras, que soltou em cima da mesa e se apressou para verificar o quarto, preocupada. — Você está bem? — Se ajoelhou em frente a mulher pálida, respirando como se estivesse acabado de correr uma maratona.

— S-sim, só- — Soluçou e Beatrice levantou, puxando sua mão e envolvendo seu corpo trêmulo em um abraço apertado.

— Shh, vai ficar tudo bem, vai dar tudo certo, ok? Confia em mim.

— Se acontecer alguma coisa com você-

— Não vai acontecer nada. Vamos resolver tudo, certo? Estamos trabalhando duro pra isso.

Alguns minutos mais tarde, muitas idas e vindas das mãos de Bea em suas costas e cabelo, sua respiração voltou ao normal.

— Estou melhor. — Admitiu.

— Vamos sair, beber alguma coisa, dançar, uh? — Sugeriu, soltando Ava, que sentiu falta do contato imediatamente.

— Foda-se, vamos!

A primeira noite em Brighton e a primeira festa em muito tempo, estava um pouco aflita de estar no meio de tanta gente, mas a iluminação baixa e o boné a ajudavam um pouco com a sensação de insegurança. Além da mão de Beatrice em sua cintura, guiando seu corpo no meio de toda aquela gente, até a última mesinha vazia, no canto perto da pista de dança.

O bar do hotel estava cheio, provavelmente graças ao frio. Muitos turistas aproveitavam os preços baixos da cidade na temporada de inverno. O barulho das ondas quebrando contra as pedras e o vento forte balançando os vidros grossos do lugar, podia ser ouvido entre uma música e outra.

Em pouco tempo, ambas estavam levemente altas, ignorando a regra de não ficarem bêbadas por um bem maior, precisavam relaxar e aquela altura, só com uma ajudinha líquida.

— Quer dançar? — Fez que não com a cabeça.

— Eu vou ficar aqui assistindo você. — Bea sorriu, levantando em direção ao bar, para buscar duas águas e mais um drink, antes de se aventurar na pista.

Ainda no caminho, uma mulher lindíssima a parou, sugerindo algo em seu ouvido. No mesmo instante, Ava travou o maxilar sem perceber. De repente, não queria mais estar naquele bar. Beatrice deixou as águas e drinks na mesa e foi em direção a pista de dança, com a mulher animada.

Ela tentou não encarar as duas durante os três minutos mais longos de sua vida, mas era impossível. Os dentes travados e os dedos vermelhos de tanto apertar a garrafa de água.

Assim que terminou a música, Bea se despediu da mulher e voltou a mesa.

— Bem?

— Sim. — Soou amarga, levantando em um pulo. — Eu quero voltar, tô cansada.

— Tudo bem. — Não questionou, apesar de não entender o motivo de sua mudança de humor.

— Você pode ficar. — Beatrice não tinha considerado essa opção.

Ava não esperou resposta, levantando e deixando o bar. Bea a seguiu, sem entender, tentando acompanhar os passos apressado da mulher.

— Ava? Ava? — Gritou ofegante, parando antes que ela chegasse a escada que dava para o quarto delas.

— Pode voltar pra lá.

— Me diz o que aconteceu, você viu alguém, alguma coisa? — Negou, colocando o cabelo para trás.

— Vou subir e dormir, ok? Tá tudo bem, sério. Pode voltar lá e curtir mais um pouco, você merece. — Se esforçou para suavizar a voz e se curvou para deixar um beijo na bochecha da mais alta, como fez no carro, tentando convencer melhor.

Beatrice queria questionar mais, mas sentiu necessidade daquele espaço, alguma coisa na forma que ela via Ava estava mudando e ela não poderia permitir que isso acontecesse. Não queria misturar as coisas.

Tentou se distrair com a moça do bar, mas a coitada estava falando sozinha. Ela mal conseguia prestar atenção em duas frases seguidas, totalmente aérea. 

— Você deveria falar pra ela.

— Hã? — A mulher sorriu.

— Falar o que você sente.

— Falar o que? Pra quem? — Riu nervosa.

— A moça que estava com você.

— Nós somos amigas. — Justificou, virando o resto de sua tequila em um gole.

— Você sabe o que você quer?

— Sim, quer dizer- — Tossiu, tapando o rosto com as mãos. — Talvez não.

— Lição de casa, descubra o que você sente e então, seja honesta com ela e com você mesma.

Sorriu triste, se desculpando e agradecendo a conversa antes de voltar para o quarto. Ava já estava dormindo, coberta até a cintura, um livro caído em seu peito. Tirou o objeto, tomando o cuidado de marcar a página aberta com o marcador largado na cama e puxando a coberta mais para cima, antes de ir tomar banho.

*

Ava acordou primeiro, saindo para olhar o mar da sacada. Estava um pouco menos frio que no dia anterior. O fim do inverno prometia uma primavera quente. Pegou o notebook para analisar as imagens da câmera de segurança do prédio de Vincent e algumas horas de gravação da delegacia, assistindo o máximo possível, antes de seu estômago roncar. 

Não queria fazer barulho, então só esperou mais um pouco, enquanto divagava sobre a noite anterior. Estava levemente bêbada, será que Bea a perdoaria pela falta de educação? Sua mão começou a suar um pouco e ela precisou as esfregar no jeans claro. Estava confundindo tudo. 

Só podia. Era carência, não era? Tudo bem que Yasmine também havia sido muito solicita e estado ali para ela quando estava sozinha e em uma cidade nova, ainda sim, nem uma pontinha de interesse na amiga. Então, por que com Bea estava tudo tão confuso? 

Levantou tão irritada que nem notou que Bea já estava fazendo o café delas. Respirou fundo, se acalmando antes de se aproximar de fininho, tentando achar as palavras certas pra se desculpar por ter sido uma esquisita, na noite anterior e a investigadora deixou tudo mais fácil, como sempre, sorrindo compreensiva, mesmo estando muito confusa.

— Bea, bom dia. — Falou baixo, tocando o ombro da mais alta, que virou e a surpreendeu com um beijo casto na testa. 

— Bom dia, Ava, dormiu bem?

Die for you | Avatrice [ShortFic]Onde histórias criam vida. Descubra agora