Stinky

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A primeira semana em Brighton foi de trabalho, estavam fazendo o que mais fizeram nos últimos dias: assistir horas e horas de gravações das câmeras de segurança na velocidade cinco, pausando sempre que alguém suspeito aparecia. Na mais importante até então, Charles, o vice-prefeito, estava saindo da delegacia, acompanhado de dois homens, que Beatrice estava tentando descobrir as identidades.

— Bingo! Um deles já foi acusado de receber propina e é um ex-policial, Liam Brady. — Virou seu tablet para uma Ava impressionada com a rapidez da investigadora. 

— Sherlock Holmes, uh? — Bea riu, negando com a cabeça, antes de continuar sua pesquisa.

— Não sei o que seriam de vocês sem a gente. — Se gabou. — Olha o outro, o cara está afastado e sendo investigado por corrupção ativa de outros membros da corporação. 

— Nossa! Mas é só gente boa! — Riram. — Espero que a gente consiga colocar todos eles na cadeia.

— Não conta muito com isso, ok? Nesse ponto da minha vida e tendo visto tudo que eu vi, acho que o máximo que a gente pode conseguir é que sua segurança seja restaurada, expondo esses merdas com provas, nenhum deles vai poder tocar o dedo em você. Vamos começar por aí.

— Eu queria ficar brava com você agora, mas é bom ter alguém realista por perto. — Sorriu desanimada. 

— Isso não é uma premonição, você é bem capaz de prender esses caras. Só não quero te ver frustrada, caso o curso normal da impunidade seja seguido.

— Você acha que eu sou?

— Eu sei que você é. — Sentiu seu peito acelerando, a boca secando e precisou desviar o olhar para o computador em seu colo antes que perdesse o resto de juízo que tinha, quando se tratava de Beatrice. — Que dia sua amiga chega? Vou falar com a Dora pra conseguir um quarto pra vocês.

— Tá me expulsando daqui, é? Ela deve chegar mais tarde, tá vindo de barco, coitada. — Respondeu sem tirar os olhos da tela, quase chegando ao fim do último arquivo de vídeo.

— Sério? Sempre quis viajar de barco. — Respondeu animada e Ava fez uma careta. — Não me diga que você não gosta? A gente pode alugar um aqui mesmo. — Sugeriu divertida.

— Não, obrigada! Não quero pagar para ficar enjoada.

Ava continuou tentando encontrar alguma coisa suspeita até o player informar que o vídeo havia terminado de ser exibido. Nada sobre Vincent ainda.  

— Acho que terminamos por hoje. Vou caminhar na praia, quer ir? — Perguntou insegura, e Ava assentiu. 

— Sim. Claro. — Sorriu. Bea sempre tentava encontrar uma desculpa para deixarem o quarto, sabia que a delegada gostava da vida lá fora, de ver pessoas desconhecidas fazendo coisas normais. Ela sempre mudava o humor pra muito melhor durante e depois das pequenas saídas.

*

— Às vezes é difícil acreditar que você tá fazendo tudo isso sem pedir nada em troca. — Sussurrou, olhando para a paisagem nublada. — Você já fez isso antes?

— Ava, eu entrei na polícia pra isso, mas entendo que seja complicado de acreditar quando tem tanta gente que só pensa em si no mundo. — Beatrice respondeu.

— Você é tão- inferno! 

— Eu sou tão "inferno"? — Franziu o cenho tentando entender se aquilo era uma coisa boa ou ruim.

— Maravilhosa! Chega a ser irritante! — Ela sorriu, puxando Ava para um abraço e ficaram assim alguns minutos, assistindo a dança das ondas ainda fortes da ventania de fim de tarde. A cabeça em seu peito, a respiração tranquila, como se tudo estivesse indo muito bem, obrigada. E naquele momento, estava.

*

As duas voltaram para o hotel e foram até a academia pequeninha do lugar. Precisavam estar em forma e Ava não se exercitava desde que foi ferida. Bea estava batendo no saco de pancadas, focada em acertar as sequências com precisão, os braços a mostra graças a regata de basquete. Ava estava quase babando, sem conseguir começar a de fato correr há quase trinta minutos.

— Vai ficar caminhando aí o dia todo? — A investigadora provocou gritando, para sobressair o rap que soava das caixas de som.

— Estou pegando leve. — Bea riu.

Sabia que era boa em meia dúzia de esportes e o boxe era um deles, pensou que Ava pudesse estar impressionada com seus golpes, já que sentia os olhos queimando sua pele, mas a delegada estava mais interessada em como os músculos de seus braços se moviam durante os movimentos, do que de fato com os socos desferidos no saco.

*

A investigadora estava dormindo quando Yasmine finalmente bateu na porta. Três vezes, contavam sete segundos e mais duas vezes, a batida secreta das duas. Ela deu um salto animada, acordando uma Bea sonolenta às três horas da manhã.

Pulou em Yas, abraçando a amiga com força para soltar logo depois.

— Peixe! — Yasmine riu. 

— Essa é a minha recepção? Vai me chamar de fedida?

— Vai tomar um banho e dormir, a gente conversa mais tarde. 

— Beatrice? — Perguntou indiscreta, apontando para Bea, que ainda estava tentando se situar. 

— Isso, é um prazer finalmente te conhecer. — Sorriu, estendendo a mão para cumprimentar a melhor amiga de Ava. 

— Certo, certo, hora do banho.  

Se despediram, Yas pegou a chave do quarto e seguiu para seu tão aguardado banho. Depois de alguns dias viajando com pescadores em um barco de pesca, era tudo que ela precisava. 

— Pensei que fosse dormir com ela hoje. — Voltou a deitar.

— Acho que ela precisa de um pouco de privacidade depois da viagem com sei lá quantas toneladas de peixe. — Sentou na cama, se cobrindo com o lençol. — Você quer que eu vá? Meu Deus, Bea, me desculpa, eu só me acostumei tão rápido a estar perto de você que parece natural, mas talvez não seja e eu estou aqui vinte e quatro horas-

— Shhh, Ava, calma, eu adoro estar vinte e quatro horas com você e seus mini surtos desesperados sobre qualquer coisinha, relaxa. — Não sabia bem se ria ou se chateava, mas ficou aliviada em ouvir aquilo. O coração aquecendo aos poucos quando ela finalmente processou a frase inteira.

— Tá vendo? Irritante! — Bea sorriu. 

— Pode ficar aqui, aliás, eu espero que fique. — Sussurrou antes de voltar a dormir, deixando a delegada pensativa por mais alguns minutos.
 

Die for you | Avatrice [ShortFic]Onde histórias criam vida. Descubra agora