Newcastle

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Juntou suas armas e munição, colocou na mochila e desceu. O ideal seria alugar um carro e dirigir, isso certamente deixaria um rastro. Bufou, irritada, tentando encontrar outra alternativa, enquanto amaldiçoava o fato de todo e qualquer negócio estar conectado à internet.

Antes de pegar estrada, iria ao The Library novamente. Precisaria de um pouco de coragem vendida em garrafas e com alto teor de álcool. Ver Hans, que estava sempre sorrindo e feliz, como ela gostaria de se sentir novamente. E talvez, topar com Beatrice também não fosse má ideia.

— A visita cancelou? — Ela sorriu, confirmando. — Vai embora?

— Vou em Newcastle rapidinho. — Comentou, bebericando sua cerveja artesanal. — Só um copo, não posso ficar bêbada.

Ele assentiu, virando para atender os outros clientes que chegaram no meio tempo em que foi até seu apartamento. O bar estava um pouco mais cheio. Terminou de beber e saiu em busca do táxi, por sorte, dois estavam disponíveis na fila.

*

Trinta e poucos minutos depois e um pequeno engarrafamento para entrar na cidade, ela desceu do carro velho, pagando e agradecendo ao motorista ranzinza. O plano era deixar rastros e voltar para Durham em segurança. Sacou dinheiro, passou um jantar em seu cartão, e fez uma reserva para uma semana no lugar. Assim que terminou de comer, foi a pé até a rodoviária, onde pegaria um taxi de volta para seu colchão inflável no chão, na cidadezinha. 

Não contava com uma fila de carros completamente vazia, checou o relógio de pulso, tensa, duas da manhã. Claro que ela não encontraria táxi para viajar. E não poderia se dar ao luxo de comprar passagem, já que pediriam algum documento de identificação. Sentou no banco, a mochila preta no colo, com a mão sempre pronta para puxar a arma do coldre. 

O lugar estava quase vazio, exceto por dois atendentes no caixa, as poucas pessoas que circulavam, compravam o bilhete, entravam nos ônibus e partiam rápido. Passaram longos minutos sem ninguém adentrar a rodoviária, até que um homem alto, de cabelo bem cortado e jaqueta de couro apareceu. Seu coração disparou, não era ali que ela queria ter sido notada. Ava levantou, pronta pra fazer o que fosse preciso e identicou o rapaz como um de seus colegas de delegacia. Johnson.

— Ava, não precisa correr. — Disse, suave e ela abaixou a guarda. Um erro.

Ele continuou caminhando até ela, e sem esperar, sentiu uma pontada forte em sua coxa. Antes que ele fizesse outro movimento, chutou o braço dele com a perna boa, lançando a faca para longe. Só então notou que não estava atenta o suficiente para tomar conta dos outros ângulos, não deveria ter bebido e comido tanto antes de fazer algo tão arriscado. Também fazia algum tempo desde que teve uma boa noite de sono, estava fraca.

— Cuidado, Ava! — Mas que porra? Beatrice correu de uma das entradas até perto dos dois, torcendo o braço do homem prestes a sacar uma arma, Johnson grunhiu de dor, ela aproveitou a ajuda lara tomar a arma e o celular que ele carregava em um coldre na cintura, enquanto a mulher mais alta o prendia no banco com uma algema. — Vem. 

Ava guardou os objetos no bolso canguru de seu moletom, mancando até o destino indicado por Beatrice, as duas tentaram não chamar atenção, mas os atendentes estavam boquiabertos, tentando entender o que tinha acontecido. Por sorte, não tinham notado a arma. O cara frustrado, balançava a algema, tentando se soltar e enquanto gritava todos os palavrões possíveis.

Deixaram a estação pelos fundos, onde Beatrice apertou um botão, destravando as portas de um audi preto antigo. Acelerou, enquanto ela jogava a cabeça contra as pernas, tentando acalmar os batimentos cardíacos e estancar o sangramento. Teria sido pega se estivesse sozinha. 

— Você me seguiu? — Perguntou.

— Imaginei que fosse precisar de ajuda, o Hans disse que você estaria aqui. 

— Fofoqueiro. — Ava resmungou, sentindo a dor aumentando. Beatrice acelerou um pouco mais, entrando em uma rua deserta e distante dali. 

— Que bom que ele é fofoqueiro, já que você não é de ferro.

Puxou o jeans azul claro manchado, rasgando o tecido em volta do lugar ferido e amarrou sua perna. Ava estava com a cabeça jogada contra o banco, se sentindo patética. A ideia não era boa, deveria ter pensado melhor antes de sair sozinha para enfrentar um perigo até então, desconhecido.

— Eu sou burra. — Bea terminou o cuidado paliativo e voltou a dirigir.

— Não é não, e o corte não é tão fundo, vai ficar tudo bem. — Estacionou poucas quadras dali, no que parecia ser o subúrbio da cidade. As casas antigas e mal cuidadas, pessoas nas ruas fumando e bebendo, carros abandonados. 

— Onde estamos?

— Eu vou trocar de carro, eles tem câmeras de segurança em volta da estação.

Beatrice saltou, acenando para um homem encapuzado que fumava do outro lado da rua escura. As gotas grossas de chuva começando a cair contra o vidro. Poucos minutos depois, ela e o cara voltaram com um volkswagen golf todo amassado. 

— Valeu, Luke, mando de volta assim que der. — Abriu a porta do carona, apoiando Ava em seu ombro, enquanto guiava a mulher mancando para o novo carro.

— Por que você fez isso? — Perguntou, assim que a mulher voltou a dirigir. — Poderia ter se machucado.

— Imaginei que fosse precisar de ajuda. — Continuou. 

— Não deveria ter vindo. — Beatrice ignorou. — Às vezes, sinto vontade de voltar no tempo e escolher outra profissão. — Resmugou baixinho.

O resto da viagem foi silencioso. Um silêncio agradável, com a chuva e o vento fazendo os efeitos sonoros. Se não fosse pelo incomodo na perna, teria cochilado. 

*

Assim que chegaram em Durham, Beatrice atravessou o carro para ajudá-la. Subiram a escada do prédio tentando não fazer barulho, não queria ter que explicar o motivo de todo aquele sangue em seu jeans.

 — Obrigada, Bea. — Sorriu com o novo apelido. — Eu teria sido pega, se não fosse você. — Finalmentr admitiu.

— Vamos cuidar disso aqui. — Ignorou, olhando ao redor. Ava não tinha nada. Teria que ir até sua casa pegar o que precisava para fazer o curativo. — Ok, você não tem nada que sirva pra isso, certo? — Riu amarelo.

— Não precisa, mais tarde eu resolvo isso. Pode ir dormir. — Beatrice fechou a cara, ignorando o que deveria ser a quinquagésima coisa que Ava falou.

— Eu já volto.

Die for you | Avatrice [ShortFic]Onde histórias criam vida. Descubra agora