𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟑𝟐

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𝐘𝐄𝐉𝐈

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𝐘𝐄𝐉𝐈

Os sons suaves das ondas se quebrando na praia me acalmavam. Apoiei o queixo nos joelhos, tentando me perder na beleza da praia. As gaivotas sobrevoando minha cabeça, o ir e vir da água e a paz absoluta.

Só que eu não estava em paz.

Estava perdida, acabada.

Estava grata que Jane não mais estava presa em um pesadelo eterno de momentos esquecidos, mas sentia terrivelmente sua falta. Sua voz, sua risada, a forma gentil como ela pegava meu rosto, beijava minha testa, apertava meu nariz e, em seus momentos raros de claridade, preenchia-me com sua sabedoria.

Se ela estivesse ali, eu poderia conversar com ela, dizer o que estava sentindo e ela explicaria para mim. Diria o que fazer em seguida.

Estava apaixonada por meu marido, um homem que não estava apaixonado por mim. Um homem que achava que amor te deixava fraco e não conseguia amar a si mesmo. Ele nunca foi capaz de ver suas qualidades; aquelas que guardava bem no fundo a fim de nunca se magoar de novo.

Ele mudara muito desde o dia destinado em que me pediu para fingir ser sua noiva. Lentamente, ele permitiu que um lado mais gentil e carinhoso emergisse.

Jane quebrou as barreiras que restavam. Ela o fez lembrar de uma época em que ele sentia o amor de outra pessoa. Kim Seok-Jin lhe mostrara como trabalhar com as pessoas, sem competir eternamente. Provara a ele que havia boas pessoas e que ele poderia fazer parte de um grupo positivo. Sua esposa e seus filhos lhe mostraram uma versão diferente do que ele acreditava ser uma família. Cheia de apoio e carinho, sem negligência e dor.

Eu queria pensar que tive algo a ver com essa mudança. Que, de alguma forma, de algum jeito, eu lhe mostrara que era possível amar. Talvez não a mim, mas era um sentimento do qual ele era capaz de dar e receber.

Porém, ele não se dava o devido crédito.

Não sei bem quando percebi que tinha me apaixonado por ele. A semente deve ter sido plantada no dia do nosso casamento e crescia toda vez que ele perdia um pouco mais de sua natureza cruel e rude. Cada sorriso verdadeiro e risada fácil aguavam o sentimento, tornando-o mais forte. Cada ato gentil ao tratar com Jane, um dos Kim, ou a mim, alimentara o sentimento incipiente até ficar tão forte que eu sabia que nunca mudaria.

O dia em que Ryujin apareceu foi o dia que eu sabia que o amava. A dor de cabeça o atormentara o dia todo, deixando-o incomumente vulnerável. Não só permitia meu carinho como parecia gostar. Suas brincadeira foram doces e engraçadas, beirando a afeição. Quando ele foi para a cama, mostrara um lado diferente de sua personalidade. Sua voz era um murmúrio baixo no escuro conforme me consolava, suas desculpas soavam sinceras quando ele pedia perdão pela forma como me tratara no passado. Perdão que eu concedera — que eu concedera dias, talvez semanas, antes de ele pedir. Então me colocou mais perto e me fez sentir segura de uma forma que não sentia desde que meus pais morreram. Dormi satisfeita e quente em seu abraço.

Na manhã seguinte, ainda vi outro lado — seu lado sexy e engraçado. A forma como reagiu ao acordar entrelaçado comigo; a forma divertida como mandou Ryujin para fora do quarto, beijando-me até eu ficar sem ar. Sua paixão chiava sob a superfície, sua voz baixa e rouca devido ao sono. Seu comentário sobre expandir nossos limites fez meu coração acelerar, e eu sabia, pela primeira vez na vida, que estava me apaixonando.

No entanto, infelizmente, sabia que ele nunca mudaria o suficiente para permitir meu amor. Que ele nunca iria querer meu amor. Tínhamos um trato. Para sua surpresa, e minha, nós nos tornamos amigos. Seus insultos agora eram brincadeiras, e sua atitude desprezível havia sumido. Entretanto, eu sabia que era tudo o que eu era para ele. Uma amiga... uma colaboradora.

Suspirei conforme enterrei mais fundo meus dedos dos pés na areia fria. Eu teria de entrar logo. Assim que o sol se punha, ficava mais frio, e eu já estava com um pouco de frio, mesmo com a jaqueta. Sabia que seria outra noite em que ficaria andando de um lado para o outro e resmungando pelo pequeno chalé. As chances eram que eu acabaria de volta na praia, agasalhada, andando para tentar ficar exausta e conseguir cair em um sono inquieto e insatisfatório. Mesmo dormindo, não conseguia fugir de meus pensamentos. Dormindo ou acordada, eles eram cheios dele.

Yeonjun

Meus olhos queimavam quando pensava como ele cuidara de mim quando Jane
morreu. Como ele agiu como se eu fosse quebrar igual a um copo se ele falasse muito alto. Quando ele me carregou para sua cama, com a intenção de me consolar, eu já sabia que tinha de deixá-lo. Não conseguia mais esconder o amor que sentia. Não suportava o pensamento de observar seu rosto se transformar naquela máscara fria e arrogante que ele usava para cobrir seu eu verdadeiroquando ouvisse minha confissão — porque era isso que ele faria.

Até ele conseguir se amar, nunca conseguiria amar outra pessoa. Nem mesmo eu.

Impaciente, limpei minhas lágrimas,
abraçando meus joelhos contra o peito.

Eu lhe dera o único presente que restava — eu mesma. Era tudo o que eu tinha e, na verdade, eu estava sendo egoísta. Queria senti-lo. Que ele possuísse meu corpo e conseguisse lembrar daquele momento como eu lembrava de forma tão clara. Ainda era doloroso pensar naquilo, mas eu sabia que, conforme o tempo passava, em certo momento, as beiradas iriam diminuir e se arredondar, e eu conseguiria sorrir ao pensar na paixão. Ao me lembrar de como era a sensação de sua boca na minha. Na maneira como nossos corpos se uniam perfeitamente, no calor de seu corpo envolvendo o meu, e na forma como sua voz soava enquanto gemia meu nome.

Sem conseguir suportar a onda de lembranças, contive um soluço e me levantei, limpando minha calça. Virando-me, parei e congelei.

Ali em pé, na luz da lua minguante, alto e rígido, com as mãos nos bolsos do casaco, olhando para mim, com uma expressão indescritível, estava Yeonjun.

The Contract - YeonjiOnde histórias criam vida. Descubra agora