"Cupido tirando
Dos ombros a aljava
Num campo de flores
Contente brincava"
A primeira coisa que me lembro foi do cheiro. Mesmo com os olhos fechados e ainda recobrando a consciência lentamente voltando para o mundo tangível e sensível, o cheiro era algo que se sobressaía aos meus sentidos como nada antes que minhas narinas haviam experimentado ou ousassem sonhar. Uma mistura perfeita de menta, flores silvestres e mel, mas de um jeito fantástico, tudo isso combinava e não soasse enjoativo.
Uma mistura muito excêntrica, mas de certo modo, especial.
Na verdade, se fadas existissem, esse certamente seria o cheiro dos seus perfumes que encantariam os outros seres, de tão belo e agradável que era. Ou é o que eu acho...
A segunda coisa que me recordo é da acústica que ecoava em meus ouvidos. Não era como antes onde qualquer barulho me dava dor de cabeça como se estivessem fora de sintonia.
Como se eu estivesse fora de sintonia com as vibrações do universo a minha volta. Como se tudo soasse errado... Como se toda a minha vida fosse uma música errada.
Na verdade, era como se tudo fosse harmônico e ressonando no meu próprio coração como se as ondas sonoras e vibrações do próprio ambiente conseguissem me tranquilizar e padronizar o Tum Tum do meu peito. Conseguissem me trazer uma paz que muitos desejam, e uma felicidade que não presencio desde que meus... Bom, já faz muito tempo.
Era incrivelmente insano como eu conseguia escutar tudo com extrema clareza, até aquilo que eu não deveria ser capaz de ouvir.
A conversa amena que se dava a alguns metros a minha esquerda.
O barulho de agua corrente tranquila um pouco atrás de mim com um ocasional turbulência devido a algum peixe.
O vento farfalhando as folhas de uma árvore a cima de mim fazendo suas folhas dançarem.
Uma família de corujas na árvore do lado saudando a noite.
O chilrear das cigarras que o faziam sem medo de outros predadores.
Era como se eu pudesse simplesmente sentir tudo sem nem ao menos ter aberto os olhos. Por isso, por um segundo que fosse, não tive medo. Me deixei levar por essa onda de novas sensações amenas e contagiantes e esqueci completamente de ontem. Esqueci de quando meu tio me bateu mais uma vez ao ponto de eu ter tanto medo que preferi enfrentar a tempestade e a floresta do que sua ira.
Preferi os fenômenos da natureza imprevisíveis e cruéis do que a falta de humanidade do próprio homem.
Também esqueci da minha trágica queda a qual a cicatriz ainda se punha a arder na minha testa. Um sinal me trazendo para a realidade muito diferente dessa idealização que me deixei devanear enquanto meus olhos se mantinham fechados.
Isso me motivou a abrir minhas pálpebras e olhar ao redor, me sentando apreçado e pronto para o combate, motivado pelo medo e autopreservação, mesmo que ela não me levasse muito longe por ser demasiadamente fraco e despreparado.
Pelo menos eu ainda era bonito... pra compensar um pouco. Fraco, desnutrido e sujo, mas certamente lindo.
Mas, enfim. Não há palavras para descrever a surpresa e o sentimento que me consumiu quando olhei ao redor e finalmente enxerguei tudo. Era como se visse o mundo pela primeira vez. Como se antes eu fosse cego, e agora simplesmente tudo... era incrível.
Sob o manto da fosforescência enquanto a lua acabava de dar o seu show naquela noite e o sol ameaçava a subir no palco, tudo parecia diferente e magico. As flores ao meu redor cintilavam em um tom violeta azulado, este que também se refletia na cachoeira de água límpida que era análoga ao espelho da alma que armazenava um pouco da beleza dos cosmos a cima de nós, principalmente das estrelas que lutavam contra a claridade para se manterem um pouco mais entre nós, visíveis e incrivelmente belas.
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Arcádia/ Drarry
Fanfiction" - Carpe diem Harry - Draco disse mais uma vez beijando minha testa, tocando aqueles lábios macios na minha pele e aquele hálito que sempre me lembra menta e lar me alcançou. - Só consigo quando estou aqui, a seu lado em Arcádia - Admito suspir...