Inverno

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"Já se afastou de nós o Inverno agreste,

Envolto em seus úmidos vapores;

A fértil primavera, a mãe das flores

O prado ameno de boninas vestes."

Eu, Harry James Potter, nasci em um inverno severo. Não daqueles bonitos de filmes natalinos onde a neve fofinha abraça o manto verde da terra e lhe sauda por um ou dois dias mais assiduamente antes de voltar a se derreter para as flores retornarem a sua luta para nascer e os pássaros a cantar. 

Certamente não foi nesse cenário de inverno idealizado que nasci.

 Mamãe costumava me contar sobre a monstruosa tempestade que se punha a cair pela janela enquanto a luz do lampião eu dava o meu primeiro sopro a vida antes de começar a chorar sem descanso. Uma neve grossa de afugentar os animais, um vento impiedoso que agia como uma força viva da natureza arrancando tudo pelo caminho, incluindo a esperança dos aldeões do reino. E os trovões que pareciam as espadas cortantes de deuses que batalhavam pela ruína do mundo. 

Era uma noite onde parecia que o próprio diabo estava a solta. Um monstro que devorava o mundo e me dava boas vindas de um jeito bem peculiar. 

No entanto, contrariando todo esse cenário gélido e impessoal, eu nasci com puro fogo nas veias, e com energia para motivar um exército. Eu irradiava esperança, sonho e... fofura. Vejam bem, eu já sou bonito e fofo hoje em dia, agora imagina um mini eu bebê. 

Eu era adorável com meus cabelos arrepiados e sem rumo, além da minha visível inquieto... Mas acho que posso ter puxado isso dos meus pais. 

James Potter era um jovem nobre cavalheiro honrado e querido por todo o reino, mas que abdicou de toda a glória, riqueza e o próprio trono para se casar com a simples e vorás camponesa de família humilde, Lily, a qual havia acabado de chegar a flor da idade. 

Ele a conheceu em uma de suas visitas a um povoado de suas terras. A atendente sorridente e  ruiva que lhe serviu um copo de cerveja gelada, não desviou o olhar do seu apesar da classe social, e lhe apontou a direção de uma hospedaria para se proteger do sereno antes de continuar viagem. 

Em menos de dois anos eu já havia nascido, o fruto desse amor puro e sem igual. Que deixou a todos nervosos por ser proibido. 

Mas meus pais não ligaram, pois sabiam, desde a primeira troca de olhar, que um pertenceria ao outro pelo resto de suas vidas. 

Quem me dera achar algo assim no mundo. Mas nunca conheci ninguém. Nunca sai da minha cabana, nunca foi no máximo até a vila vizinha, e creio que nunca irei além com os meus próprios pés. 

Bom, voltando a história, eles compraram um terreno grande que pegava as entranhas de uma floresta paradisíaca, construíram uma cabana simples e aconchegante, onde viviam em perfeita harmonia com a natureza e seu próprio amor comungado em família. 

A vida do casal não poderia estar mais completa, vamos dizer assim. 

Mas algo sempre me incomodou. Não conseguia viver nessa paz como eles. Não conseguia ver beleza em... nada. Eu sabia o que era o amor, e até podia sentir suas faíscas, mas nunca conseguir mergulhar nele. 

Se via alguma flor bonita, logo tratava de a arrancar. O canto dos passarinhos me davam dor de cabeça. E olhar o sol se por erra entediante... 

Além disso, lembro-me de sempre ter medo da floresta que rodeava nossa cabana. Desde pequenino sabia que existem coisas do mundo que são assustadoras. Coisas que causam calafrios até nos nobres guerreiros e que devora a sanidade até das mais valentes criaturas. 

Arcádia/ DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora