Despertei com a imensidão da floresta a cima de mim, velando meu sono e me mostrando a verdade imutável. Cada folha verde opaca quase laranja devido a proximidade do outono e o apodrecimento das mesmas, cada corrente de vento gélida e sombria que farfalhava os galos mais leves ameaçadoramente, cada silencio que recebia de volta a cada respiração dada por mim me evidenciavam apenas uma coisa:
Eu não estava mais em Arcádia.
Simples assim, Draco havia permanecido em silencio enquanto eu acabava de me alimentar, e por mais que eu adiasse esse momento, uma hora ele chegou, trazendo com ele o meu trágico destino: Voltar para o mundo real, onde Arcádia e sua magia são meros delírios daqueles que ousaram a conhecer.
Dos que tiveram a sorte de a ver.
" - Se precisar, a floresta irá te defender criaturinha, como já fez antes. Carpe diem Harry, e boa sorte" Foi o que aquele ser com os olhos penetrantes e cabelo de lua disse antes de assoprar um pó brilhante que havia em sua mão em meu sorto, me fazendo apagar na hora.
E agora que estou acordado, preferiria mil vezes não estar.
A presença daquela sensação boa de conforto que só minha mãe oferecia... se foi. A beleza da natureza, o brilho espectral de todos os seres a minha volta... se foram. Os sons harmônicos e tranquilizadores... se foram. Os cheiros convidativos e agradáveis... se foram.
Tudo se foi, menos o que eu mais queria que tivesse rumo...
- Harry Potter seu moleque desgraçado! - Valter gritou quando entrou na clareira que eu me encontrava caído sob o chão úmido.
Já era dia, então não sabia quanto tempo havia ficado fora, mas sabia que isso irritou bastante meu tio. Dava pra ver seu estado alterado pelo jeito que suas sobrancelhas se juntavam, ou as rugas de estresse em seu rosto, ou as narinas dilatadas e os olhos febris. Ou ainda o fato dele ter me alçado do chão puxando meu cabelo sem resquícios de amor, ternura ou mero cuidado.
Acho que na verdade ele nem conhece essas coisas...
Choraminguei de dor me obrigando a ficar em pé, sabendo que se corresse seria pior, já havia tentado antes e aqui me encontro. Não havia lugar do mundo que eu pudesse me esconder dele... a não ser Arcádia, mas não faço ideia de como voltar para lá.
Devo chamar pela natureza? Devo cair de novo e bater a cabeça? Devo entrar em um armário e esperar que ele me leve até lá magicamente? Ou ainda atravessas uma parede e pegar um trem pra felicidade e magia?
Não faz sentido. A realidade que devo aceitar, por mais que corroa o meu coração, é que Draco me expulsou do paraíso pois não sou digno dele, pois sou confuso e turbulento de mais e não mereço a paz.
A alegria não dura para sempre, muito menos a paz... mas esperava que ela pudesse durar um pouco mais.
Contudo, apesar de não merecer a paz, certamente sei que também não merecia a surra que meu tio me deu naquele dia quando voltamos para a cabana e meu rosto foi de encontro ao carpete antes que eu pudesse raciocinar.
Mesmo horas depois eu ainda sentia dor ao respirar e estremecia sempre que ouvia os passos dele no assoalho, como se meus ossos sentissem o autor de sua dor e implorassem para que eu me afastasse.
Mas, o que são mais alguns hematomas para a minha coleção adquiridas tanto do meu tombo na floresta tanto das vezes anteriores que... bom, deixa para lá, o passado é passado, apesar de ainda estar um pouco magoado com Draco.
Confiei nele, em suas palavras ditas e não ditas. E me deixei levar pela sua beleza pensando que o meu salvador me manteria em segurança para sempre... só que esse para sempre durou muito pouco.

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Arcádia/ Drarry
Fanfiction" - Carpe diem Harry - Draco disse mais uma vez beijando minha testa, tocando aqueles lábios macios na minha pele e aquele hálito que sempre me lembra menta e lar me alcançou. - Só consigo quando estou aqui, a seu lado em Arcádia - Admito suspir...