Éden efêmero

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Acho que uma das histórias que já li e que mais me fascina é a de Sísifo e o seu castigo dado por Zeus. 

Bom, talvez o que mais me impressiona nessa história grega clássica seja o fato dela ser restritamente proibida, como toda história (seja em livro ou em tradição oral) que destrone o poder supremo da igreja por contar sobre vários deuses. E o que é proibido, também é mais tentador.  

Viver nessa época que vivo é complicado... nunca vi algo diferente, então só posso ter esperanças de que no futuro as pessoas vão ter liberdade plena para ouvirem a história que quiserem e acreditarem no que mais os convir... Por enquanto, isso não existe. Por enquanto, histórias como a de Sísifo vivem apenas nas lembranças de poucos que se arriscam pelo conhecimento, ou em livros raríssemos como o que encontrei no sótão da minha casa. 

Depois que desbloqueei aquele limite que coloquei entre mim e o exemplar devido à suas verdades reveladores e imbatíveis sobre Arcádia, pude o folhear melhor, mergulhando nos mistérios e aventuras dos heróis e semideuses gregos. 

O que posso dizer é que agradeço que os monstros que sei que rondam a minha floresta não tenham três cabeças, ou uma cabeça de touro ou coisas assim... São outro tipo de monstro, talvez tão assustadores quanto por não serem míticos. Mas, qual seria a diferença entre mito e realidade? 

Como sabemos o que é fato e o que não é?!

Enfim, o que me mais cativava na história se Sísifo não era ato em si que ele teve que realizar, mas o seu simbolismo. A figura mitológica queria ser livre, algo subjugado apelas para os deuses do olimpo. Um privilégio divido herdado pelo sangue ou concedido em centelhas a poucos de acordo com honrarias e mérito. 

Mesmo assim, Sísifo queria ser livre. Sísifo queria ser o deus da própria vida. 

Vendo essa rebeldia, Zeus resolveu o punir, fazendo-o como exemplo para as demais almas humanas que ansiavam o mesmo que ele. Seu castigo, portanto, foi empurrar uma enorme pedra montanha à cima. Todavia, devido a fadiga e a exaustão, sempre no fim das horas solares quando o mesmo estava quase alcançando o cume... Sísifo titubeava e a pedra rolava morro a baixo para que recomeçasse de novo no dia seguinte. E depois de novo, de  novo, de novo!

Sempre com a esperança de alcançar o alto do pico. 

Sempre com decepção e raiva quando a pedra retomava ao vale. 

Sempre nesse ciclo, que era tanto uma prisão mental quanto física para a alma livre. 

E certamente isso tem muito significado... 

Arcádia pode ser um lugar bubônico almejado pelos gregos como refúgio. Um lugar perfeito de harmonia, paz e produtividade... No entanto, a maior parte da nossas vidas não passamos em lugares assim, seja mental ou fisicamente. A vida real não é bela e benevolente o suficiente para que possamos desfrutar dos seus bosques, da sua vida, da sua magia simples e constante oculta entre nós com o nome de "amor". 

Não. A vida real é cruel e sádica. Ela te faz todos os dias se cansar, ir até o extremo com a esperança vã da conquista. E depois? Ela te rouba tudo isso e ainda te faz assistir sua pedra retornar a base do monte. Te rouba... Tudo. Mesmo assim, você continua. 

A vida, por mais que desejemos, não é Arcádia. É como na montanha se Sísifo, onde liberdade é escassa e os deveres são imensos. Castigado pelas nossas escolhas, pelas dos outros ou ainda por escolha nenhuma, apenas consequência. 

Não é justo. 

Contudo, isso não significa que você vai deixar de tentar. Pode parecer tolo. Aliás, por que empurrar a pedra por mais um dia se você sabe que o destino dela é a base de novo?! No entanto, isso é a mais pura expressão da esperança, essa virtude tão bela e paradisíaca que conservamos em nosso ser. Não se pode simplesmente desistir e não fazer nada, nosso instinto de sobrevivência não nos deixa. Não se pode desistir só porque o sistema é errado... 

Arcádia/ DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora