Meus sentimentos estão tão bagunçados quanto os cabelos de Enid esparramados em minha cama.
Como eu queria que fosse um assassino ao invés de Enid. Eu já teria resolvido esse problema acabando com ele. Mas não, tinha que ser Enid, justo ela.
Observei seu olhar, suas pupilas se dilataram ainda mais enquanto me observava. Suas mãos caminharam por meu corpo, subindo desde o calcanhar, minha panturrilha, parando em minhas coxas. Por um momento ela manteve as mãos ali, senti um singelo aperto antes de senti-la rumando para dentro da grande blusa que eu usava.
-Enid. -Falei em tom de aviso.- O que está fazendo?
-Sabe, essa é a segunda posição mais próxima que ficamos, depois dos abraços é lógico. -Enid falou em tom de riso.
-Do que está falando?
-Dos nossos corpos, sempre pensei que ficaríamos intimas, mas não por causa de você tentar me matar.
Intimas? Ela já nos tinha imaginado intimas uma da outra?
-Wednesday, não que eu esteja reclamando, de forma alguma, mas você não quer sair de cima de mim? Não que não seja bom você ficar assim, sabe, nessa posição comigo, mas tipo, nesse momento eu estou pensando em coisas que não deveria, então se você não se incomodar... você poderia?
Franzi as sobrancelhas olhando-a, não entendi nada do que saiu da sua boca.
-O que você quer dizer? -Perguntei.
Ela se calou, fechou os olhos e suspirou antes de abri-los novamente.- Você não está excitada também?
Excitada? Enid estava excitada? Porque ela estaria... Ah, não.
Arregalei meus olhos e me levantei de cima de suas coxas, virei meu rosto em direção a janela, não seria educado olha-la com praticamente a parte de baixo quase nua. Não depois da posição que ficamos.
Eu não poderia focar nesses olhos azuis, isso não me ajudaria de modo algum, virei meu rosto entortando minha boca, observei a janela aberta deixando uma leve brisa entrar no quarto.
Não me lembro de te-la deixado aberta antes de dormimos. Será que Enid tinha feito isso?
-Foi você quem abriu a janela? -Perguntei cruzando os braços. Mudar de assunto seria ótimo nesse momento.
Enid se levantou e parou ao meu lado, cruzou os braços igualmente a mim. Lado a lado estávamos olhando a janela agora.
-Pensei que tivesse sido você antes de dormir. Esse lance de frio horripilante da noite é com você. -Ela responde.
Se não tinha sido eu e nem ela, quem poderia ter feito isso?
Enid caminhou até o interruptor e o ligou, clareando o quarto inteiro agora. Olhei em volta a procura de algo que estivesse fora do lugar, mas não tinha nada, estava tudo do mesmo jeito de quando fomos dormir. Exceto por algo.
Um pequeno envelope jogado próximo a janela.
Fui até ele e o peguei.
-O que é isso? -Ela perguntou caminhando até mim.
-Não sei. Não tem nome. -Olhei o envelope em minha mão. Era totalmente preto, sem nada escrito na parte de fora.
-Porque sinto que isso é para você?
-Como sabe que é para mim? Não tem nada escrito.
-Bom, um envelope preto provavelmente não seria direcionado para mim.