Não falei para Eugene sobre a carta. Caso ele soubesse era bem provável de querer ficar de vigia naquele lugar, e tudo que eu menos queria era que ele se machucasse novamente. Dado as circunstâncias se machucar seria o de menos, parecia que esta pessoa gostava de desmembrar, isso sim.
Enquanto fazíamos o caminho de volta para a escola fiquei pensando em quem seria essa pessoa. Os alunos já haviam entrado, e toda aquela aglomeração já tinha sumido. Fiquei tanto tempo dentro daquele lugar que já estava quase escurecendo, por esse motivo já não tinha tanto movimento do lado de fora. Por ser lua cheia os únicos que estavam do lado de fora eram os lobos, e essa noite estavam uivando mais do que o costume.
Talvez fosse pela garota morta.
Enid não estava no meio, então segui em direção ao quarto. Ela devia estar me esperando. Erro. Ela não estava no quarto. Onde ela estaria? Já estava quase anoitecendo e eu gostaria de vê-la antes que ela se juntasse aos lobos.
Fui tomar um banho para tirar o cheiro de morte que estava em mim. Não que eu me importasse, mas não seria agradável para ela esse cheiro.
Assim que estava pronta, ao sair do banheiro percebi que Enid já estava de volta.
-Me desculpa, acabei me atrasando. -Falou mexendo as mãos em frente ao corpo.
Não respondi, parecia que tinha algo a incomodando. Enid não parava quieta, não somente suas mãos, mas os pés também não paravam de se mexer. Com o silencio que reinou consegui ouvir os uivos dos lobos, estavam bastante altos nesse momento.
-Você não vai se transformar também?
Ela negou com um balançar de cabeça. Endi não me olhava, seu rosto estava virado para seu lado do quarto. Estranhei sua atitude, algo que ela estava fazendo bastante hoje era me encarar e agora nada de seus olhos azuis estarem em minha direção.
-Você está bem?
-Como foi sua conversa com Eugene? -Mudou de assunto.
-Isso não importa agora, eu quero saber de você.
Ao invés de me responder ela abaixou a cabeça, percebi que suas unhas cresceram e ela agarrou a própria blusa.
Tinha algo de errado.
-Enid? Porque não vai com os outros lobos? Está tudo bem se quiser ir.
-Eu não quero isso.
Do que ela estava falando?
-Não quer se transformar? Porque você não iria...
-NÃO.
Me assustei com seu grito. Agora ela estava me olhando, percebi suas presas grandes a ponto de as pontas estarem para fora. Era impressão minha ou ela estava se segurando?
-Desculpa, eu não queria gritar.
Concordei sutilmente. Talvez esse momento estivesse sendo difícil para ela.
-Você quer conversar?
Negou. Se ela não queria se transformar e nem conversar o que ela queria então?
-Algo aconteceu?
Em vez de me responder ela caminhou até minha cama e se sentou na ponta. Esfregou as mãos sobre a roupa suspirando, logo suas unhas diminuíram. Levantou o olhar para mim e me estendeu a mão.
-Você pode vir aqui?
Não entendi seu pedido, mas caminhei até ela. Assim que parei em sua frente Endi se levantou novamente. Suas mãos subiram por meus pulsos, deslizando lentamente por minha pele. Me causando um arrepio.
Me perdi em seu olhar, suas mãos desceram de encontro a minha cintura, ela me puxou junto de si, pressionando o meu corpo contra o seu. Uma de suas mãos subiram até minha nuca, se deslizou em uma caricia sutil e levantou meu rosto para perto do dela. Ela abaixou os lábios, quase roçando-os nos meus.
-Passei quase o dia todo querendo isso.
Seu hálito é suave e muito doce. Ela me beija delicadamente do queixo até o canto da boca. Seu beijo é obstinado, sua língua e seus lábios ondulam os meus. Suspiro, e minha língua encontra timidamente a dela. Ela me envolve nos braços e nos vira em direção a cama. Suas mãos deslizam por minha coluna até a cintura e depois a bunda. Permanece ali por um tempo, em seguida ela a aperta mantendo-me colada a ela.
Suspiro de novo em sua boca. Mal consigo conter os sentimentos que me percorrem. Só sinto meu coração acelerado, quase saindo pela boca. Minhas mãos tremem, involuntariamente agarro sua nuca, entrelaço os dedos por seu cabelo e os puxos. Sua mão me aperta com mais vontade. Ela me conduz para trás, até que sinto a cama atrás dos joelhos. Sutilmente ela me deita sem quebrar o beijo.
Sua coxa se encaixa entre as minhas, sinto uma fricção que me causa arrepios. Rodeio sua cintura com a perna, forçando mais sua coxa contra mim. Meu corpo se move involuntariamente, rebolando contra ela.
Suspiramos juntas. Ela morde meu lábio inferior, puxando-o entre os dentes.
-Quero tanto prova-la. -Sussurra.
Não sei o que fazer ou falar. Sua boca caminha por meu maxilar, pescoço, sinto suas presas deslizarem junto a língua por minha pele. Um gemido escapa por meus lábios.
Cerro a mandíbula, querendo evitar que mais sons saiam. Sua mão adentram a blusa que visto, estremeço ao sentir suas unhas deslizarem por meu abdômen. Enid agarra meu seio esquerdo, massageando-o por cima do sutiã que visto.
Nunca quis tanto tira-lo como agora.
Agarro com força os lençóis. Meu quadril continua se movendo contra sua coxa. Estou toda molhada.
Sua boca se afasta junto a todo seu corpo do meu. Abro meus olhos, não entendendo o que está acontecendo.
-Me desculpa. -Enid me beija uma ultima vez e se levanta me dando as costas.
Me apoio pelos cotovelos para olha-la. Seu corpo parece estar tremendo, suas garras estão novamente para fora.
-Enid? -Sussurro. Minha voz está rouca.
-Preciso ir.
Sem mais nem menos ela sai do quarto me deixando na mesma posição.
O que eu faço agora?
Com raiva me jogo de volta a cama. Meu corpo parece estar pegando fogo, meu coração ainda está acelerado igual a minha respiração. Sinto que preciso de outro banho, desta vez gelado.
Fico deitada até que eu me acalme, do jeito que estou é possível que eu vá atrás de Enid e a traga de volta em uma coleira. Ela não poderia se transformar em outra hora?
Me sento, olho em volta do quarto. Preciso de algo para me distrair, vou até minha escrivaninha e pego a maquina de escrever. Isso poderia me relaxar. Assim que me sento um estrondo é feito na porta.
Quem era agora?
Assim que abro a porta não vejo ninguém, antes que eu a feche algo me chama atenção. Outro envelope preto no chão. O pego e entro novamente.
Ótima hora para chegar.
"Clara Wednesday Addams.
A hora do nosso encontro chegou, estava apenas esperando o momento certo. Assim que vi nossa querida loba saindo sabia que tinha chego a hora, achei que você iria se juntar a ela, sabe, meu trabalho ficaria mais divertido assim.
Pena que ela não conseguirá chegar lá a tempo. Me encontre na caverna, quem sabe se correr consiga salva-la.
Ps: Não está sentindo falta de algo? Ou melhor, o pedaço de um corpo?
Te aguardo ansiosamente."
Droga. Onde infernos estava mãozinha?