Medo. Quando temos medo nosso corpo libera adrenalina e essa adrenalina causa sensações que nos prepara para enfrentar o perigo. As sensações são parecidas com fazer sexo pela primeira vez. Primeiro o corpo fica tenso, em seguida a ansiedade nos domina.
Se prestarmos atenção as mudanças que ocorrem durante esses processos são as mesmas. A respiração se intensifica, os batimentos cardíacos e a pressão arterial aumentam, assim como a tensão muscular.
Durante o medo, assim que você consegue supera-lo seu corpo automaticamente relaxa, a mente descansa. É como chegar ao clímax. Alguns segundos antes seu coração acelera como se estivesse em uma maratona, seus músculos se enrijecem, e tudo que você mais almeja é a sensação de alivio. O relaxamento que vem após.
Posso afirmar que essas foram as sensações que me dominaram quando soube que Victor havia pego Enid. Assim como as senti quando Mãozinha quase chegou a morrer. Porém, assim que os vi essa sensação passou, pois eu sabia que eles estavam e ficariam bem.
Durante o caminho de volta a escola resolvi pensar o que tudo aquilo significava. Por mãozinha os sentimentos eram óbvios, agora Enid. Esse estava sendo como uma partida de xadrez, onde meu rei estava encurralado e a única escapatória seria me livrar do xeque usando minha rainha, que seria tirada do jogo com o movimento seguinte. A rainha sendo a voz da minha razão em como eu agia.
Enid era uma garota doce que todos amavam não importasse o que acontecesse. E eu nunca me senti capacitada para falar sobre amor. Sabe, amar tem seus mistérios, porque existem coisas que ainda não foram esclarecidas por mim. Ainda me restam muitas dúvidas. Tenho queixas também. Estas são reclamações a respeito da falta de reciprocidade por parte das pessoas. Durante minha vida vivi no meio do amor intenso dos meus pais, ao mesmo tempo observando como as pessoas ao meu redor agiam. A maioria sempre tendo algo a reclamar sobre o amor, ou como ele havia se dissipado em seu relacionamento sem mais, nem menos. Deixando sempre a sensação de desanimo, tristeza e magoa para trás.
Como sempre eu os julgo como um bando de idiotas. As pessoas vivem dizendo que o coração esta partido depois de uma desilusão amorosa, isso é a mais pura mentira. O coração nada mais é que um órgão muscular oco, relativamente pequeno, que tem a função de manter uma pessoa viva. A única realidade é que; sem ele não existimos.
Colocar a culpa nele depois de uma decepção é a mentira mais idiota que podemos contar a nós mesmos. A culpa certa seria o cérebro, ele sim controla como agimos, o que fazemos, o que pensamos a respeito de alguém. As próprias pessoas são as principais culpadas quando se permitem ser magoadas por alguém.
Quanto mais você pensa em alguém, se entrega, confia nessa pessoa, mais você da a chance dessa pessoa te ferir de algum modo. Basta apenas controlar seus pensamentos, sentimentos, controlar a si próprio basicamente. Não deixar que outro o faça por si. Mas é claro, a única coisa que você mesmo não pode controlar é a maneira que a pessoa irá agir com você. Porém, cabe a você decidir se te afeta ou não.
Eu acredito em Enid. Acredito em seus sentimentos por mim. Minha única briga interna se baseia nesses sentimentos confusos que ela desperta em mim.
Eu sempre agi pela lógica das coisas. Beijar Tyler me pareceu certo depois de tantas investidas por parte dele, mesmo não entendendo bem quando ele dizia que eu dava "sinais" que gostava dele. Novamente, o cérebro controla tudo, até mesmo a parte de criar coisa onde não existe nada. Com ele não existiu decepção, mas sim raiva de mim mesma por não enxergar algo que estava bem a minha frente. O Hyde.
Porquê estou escrevendo sobre ele? Simples. Mesmo ele se declarando eu nunca senti nada, não como me sinto quando se trata de Enid. Nunca pensei que ficaria assim, atormentada de pensamentos por outra pessoa. No começo não fazia diferença seu jeito carinhoso comigo, até porque ela age assim com todos. Mas com o tempo isso mudou algo dentro de mim, e em partes eu sinto uma pequena raiva por deixar que isso acontecesse, porém, por outro até que é bom, de um jeito desgostoso.
