Capítulo 18 - Remus Lupin

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21 de Novembro de 1992

"Remus Lupin"


Estar naquele lugar novamente era como reviver as mais felizes e excruciantes memórias da sua vida. Cada rua e viela era recheada de lembranças que ele lutou em esquecer para que deixassem de doer, cada loja e restaurante lhe lembrava momentos que, na época, pareciam pouca coisa ou nada de muito grandioso, mas que naquele momento lhe traziam o amargo sabor da saudade.

Ele evitou sair do seu quarto no Cabeça de Javali, apenas olhando a rua através da janela. Hogsmeade era como uma casa alegre recheada de fantasmas. Uma armadilha de sentimentos.

Ele abriu completamente as cortinas naquela madrugada. Os vidros das janelas estavam frios, as ruas escuras estavam completamente vazias e o seu quarto era o único com luzes acesas. Respirou fundo e olhou em volta.

Seu quarto, que já era tão pequeno, estava cheio das mais variadas coisas. Papéis estavam espalhados por sua minúscula escrivaninha, desenhos de seres fantásticos estudados por Newt Scamander e anotações sobre eles estavam espalhados pelas paredes, certificados de qualificações estavam emoldurados e pequenas plantinhas eram os pontos verdes no meio daquele caos. Pastas cheias de papéis estavam na apertada prateleira à cima de sua cama e algumas roupas estavam jogadas em um pequeno montinho perto da porta.

Seu quarto era um verdadeiro reflexo de que sua vida tinha se tornado nos últimos dois anos.

Ele estava cansado. Olheiras pesadas ornamentavam seus olhos castanhos e suas cicatrizes ficavam mais aparentes pela palidez. Por alguns segundos, pensou em desistir de arrumar tudo aquilo e dormir por mais algumas horas, mas, na parede a sua frente, o bilhete confirmando a presença de Harry em Hogsmeade flutuava alegremente, como um real lembrete do quão importante era resolver sua vida.

Ele suspirou e arregaçou as mangas do pijama, porque tinha que parar de fugir. Ele tinha sido medroso por muito tempo.

Duplicou as pastas e catalogou todas as suas anotações e resumos, deixou a pequena escrivaninha limpa e regou as pequenas plantinhas. O montinho de roupas sujas flutuou até o banheiro e, com um aceno simples de varinha, começou a se lavar sozinho.

Já era de manhã quando ele terminou tudo o que precisava e o sol frio entrava através de sua janela aberta depois de tanto tempo que passou fechada e coberta com cortinas escuras.

Ele se encarou por tempo demais no espelho do banheiro. Suas mãos estavam apoiadas no mármore gelado da pia e um suspirou lhe escapou enquanto água pingava de seus cabelos recém lavados. Encarou a si mesmo por tempo demais e piscou, sentindo seus olhos lacrimejarem. Suspirou pesadamente antes de olhar quase clemente para cima.

— Vamos, Prongs – pediu — Me dê uma forcinha – voltou a olhar para o espelho, soltando a pia e passando as mãos pelo cabelo — Eu preciso daquela sua coragem insana, ou vou fugir de novo – ele suspirou antes de rir fracamente para o espelho e saiu.

Ele se vestiu calmamente. Roupas escuras e sobretudos tinham se tornado muito comuns em seu guarda-roupa nos últimos anos em que passou longe de sua casa em Glaur Eguros.

Ele tinha uma hora e meia antes que chegasse o horário que tinha marcado de se encontrar com Harry no Três Vassouras e ele decidiu dar uma volta, pela primeira vez, no vilarejo. Aproveitar que era um dia em que o sol não estava totalmente escondido pela névoa do fim do outono e tentar afastar um pouco da sua palidez e aspecto quase-morto.

Remus desceu as escadas que separavam o escondido e suspeito restaurante dos quartos para hospedagem. Não havia muitas pessoas no Cabeça de Javali naquele horário – as pessoas costumavam ir à noite, quando todos estavam dormindo ou cansados demais para notar as coisas que aconteciam do lado de dentro.

Blood Moons - Segundo LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora