Alícia

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De origem francesa o nome "Alícia" é uma variação para "Alice" e significa "A verdadeira." Meu nome nunca mentiu. Tenho 24 anos e ao longo de todo esse tempo a verdade esteve comigo, bom... assim eu espero.

Sim, sou casada. O nome dele é Marco. Ele é encantador. O primeiro contato com ele é marcante, devo admitir, mas a convivência é terrível. De início éramos como melhores amigos. nos divertíamos, conversávamos, gostávamos da nossa presença, mesmo quando ficávamos em silêncio um com o outro.

Hoje tudo isso mudou. Marco dorme poucas noites em casa, não retorna as minhas ligações e na maior parte do tempo vive trancado no escritório. Eu quem cuido da casa, dos afazeres e, na maioria das vezes, mesmo morando na mesma casa, quase não nos vemos.

Nos mudamos para o centro de Copenhagen desde que nos casamos, o que soma dois anos até então. Temos uma visão incrível do porto e nosso maior hobbie era passar horas contando os navios que atracavam. Eu sei que é chato, mas era algo que gostávamos de fazer. Usávamos a varanda para outras coisas também, mas isso não vem ao caso.

Trabalho em um escritório no centro da cidade. Não preciso do emprego, mas faço, isso porque na maior parte do tempo eu só quero ficar distante desse apartamento que tanto me sufoca, é como se as paredes se fechassem ao meu redor, me deixando sem saída, sem chance de escape.

Subo as escadas e passo pelo corredor, imediatamente sinto o vendo frio que vem do escritório de Marco e presumo que ele tenha aberto a porta, dobro o final do corredor e dou de cara com ele fechando a porta atrás de si.

-A janta já está pronta. Você vai descer? – ele me olha e balança a cabeça.

-Não. Tenho algumas coisas para resolver, a empresa anda completamente desorganizada, não sei porque contratei pessoas para fazerem as coisas no meu lugar. – diz irritado, passando por mim.

-Isso não te impede de jantar, Marco. – falo me virando para ele que só vira metade do corpo para me olhar – eu sei que é o seu emprego. Mas você pouco tem ficado em casa e... – agora ele já estava com o corpo todo virado para mim. Me olhava e balançava a cabeça incrédulo.

-Quando você passou a reclamar do meu emprego mesmo? –sorriu sarcástico.

-Não é que eu esteja questionando seu emprego, eu apenas... – ele me interrompe.

-Você deveria estar agradecida por não precisar trabalhar por causa dele. – ok, facas passaram por todo o meu corpo me fazendo sangrar, o sangue veio em forma de lágrimas que tomaram meus olhos e fizeram meu rosto queimar.

Não tive forças para dizer mais nada. Marco se aproximou de mim e, como de costume, beijou a minha testa e acariciou minhas bochechas. Não era a primeira vez que ele usava do seu emprego para me ofender e dizer que eu deveria agradecê-lo por algo. Na verdade, eu tenho o meu próprio emprego para não precisar depender dele e, em algumas das vezes que usei isso de argumento, ele apenas me respondeu com "porque você quer". Sim, porque eu quero.

Depois que afastou os lábios de minha testa, me olhou nos olhos e sorriu sem mostrar os dentes. Era um pedido de desculpas, eu via nos seus olhos, mas não mais como antes, esse apenas era um pedido de desculpas mascarado com "eu não deixo de ter razão, Alicia." Então eu simplesmente engoli a dor como se o seu sorriso fosse capaz de curá-la como antes era.

Ele deu meia volta e saiu, me deixando ali no corredor. Sem fome, sem chão, sem alma, porque ela foi embora com suas palavras e tantas outras que ele já me disse antes.

...

A campainha toca e eu hesito um pouco antes de abrir a porta, não estava esperando visitas. Ao abrir a porta me deparo com Georgia. Eu poderia lhe perguntar o que estava fazendo aqui, mas seria falta de educação e talvez ela se sentisse como eu me senti uma hora atrás.

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