Alicia

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2 meses depois

Não aconteceu muito desde que eu tive a reação impulsiva de beijar Alex naquela noite. Para falar a verdade, eu estava desesperada. A ideia de ser mãe estava consumindo toda a minha cabeça e eu a tinha a ponto de explodir. Alex era a única pessoa que conseguia mudar isso quando estava presente.

Estou no quinto mês de gravidez e isso é bastante, levando em consideração que o tempo parece estar correndo de mula. Olho ao redor e o quarto de Bella – sim, é uma garotinha – está quase pronto. Algo dentro de mim ainda me deixa nervosa e completamente angustiada. Talvez seja o fato de que já estou no meu quinto mês e Marco não sabe da existência do bebê.

Sim, estou sendo irresponsável, eu sei. Por outro lado tenho muito medo do que ele pode fazer por eu ter escondido isso por tanto tempo. 

Um chute forte me faz desligar dos pensamentos.

-Calma, filha, eu estava arrumando as coisas. – minto para mim e para ela. Mais um chute e sorrio, percebendo que minha filha sabe quando estou sendo mentirosa. Nunca vou poder dizer "na volta compramos" para ela.

Ando até a cozinha e suspiro ao ver o papel preso a um imã na geladeira, é o pedaço de papel contendo o número que Alex me deu muitos meses atrás. Nunca mais peguei o telefone e disquei seu número. Nunca mais te liguei. Georgia me disse que o viu saindo com uma mulher do restaurante algum dia dessa semana. Revirei os olhos, não tenho nada a ver com isso. 

Morri de ciúmes. 

Perco a fome quase que instantaneamente ao lembrar disso. Percebo que ele mexe muito mais comigo do que eu pensava que mexia e isso me faz engolir em seco. Eu amava a companhia de Alex, mas não queria machuca-lo. Dizem que pessoas confusas magoam outras incríveis e isso é verdade. Talvez ela esteja conseguindo corresponde-lo mais do que eu e é isso que importa.

Balanço a cabeça pois mais uma vez estou criando cenários que podem ser irreais e sabotadores.

Mordo a panqueca que coloquei sobre o prato e bebo um gole de suco de laranja para empurrar a massa que rodopiava na minha boca e eu não conseguia engolir por estar ansiosa, nervosa, angustiada com algo que eu nem sei o que é.

Preciso sair para comprar algumas roupinhas do enxoval de Bella, mas não tenho disposição, mesmo assim me forço a ir. Termino de comer, coloco os pratos na lavadora e saio.

...

O carrinho já estava começando a ficar pesado de tantas roupinhas, sapatinhos e acessórios que peguei. Se pudesse, levaria a loja inteira. Continuo andando em linha reta até meus joelhos falharem e me darem a sensação de caída. 

Caída para o último círculo do inferno.

-Você está incrivelmente bonita. – o elogio poderia ter feito meu coração pular de alegria, mas da boca que veio, fez meu coração apertar dentro de uma caixa de anel.

Era ele. Marco. Ali, me vendo de costas. Sigo andando e evito olhar para trás, evito virar. As lágrimas começam a se formar em meu rosto e eu sinto meus pulmões não conseguirem segurar o ar dentro deles por muito tempo.

Ouço seus passos apressados acompanhando os meus. O que ele está fazendo em uma loja de artigo infantil?

Então ele surge a minha frente. Me olhando dos pés a cabeça.

-Por quanto tempo pensou que conseguiria esconder a gravidez de mim? – estou paralisada.

Ele continuava bonito. Agora muito mais do que antes. Atraente, completamente, mas só de olhar para sua cara, o asco me cresce cada vez mais.

-Não escondi nada de você. – empurro o carrinho e ele segura-o, impedindo que eu passe.

-E o que é isso? Posso me arriscar a chutar com quantos meses você está, Alicia?

-Faça as contas. – digo.

-Quais as contas que devo fazer? Há quanto tempo você vem saindo com aquele canalha?

Espera: ele não está pensando que o filho é dele. Ele está pensando que é de Alex.

Gargalho. Gargalho sinceramente e vigorosamente.

-Qual a graça disso tudo? – ele pergunta irritado. Seu olhar furioso me faz parar de rir e trancar o maxilar. Eu conhecia aquele olhar. Eu agradeci por estar em público agora.

-Por quanto tempo você sumiu da minha vida depois de quase tira-la? Hum? – pergunto.

Ele franze a testa.

-Essa criança não é de Alex. Esta criança é sua.

Sua postura se desfaz e sou capaz de vê-lo apertar com força uma das araras de roupas.

-O que? – ele se interroga com voz baixa e calma. Incrédulo.

Seus olhos se voltam para o carrinho e ele percebe que a maioria das roupas possui brilhos, são roxas, lilás e laranjas, o que o faz deduzir de que será uma menina. Ele não tem forças para perguntar, então assinto com a cabeça.

-Sim. É uma menina. O nome dela será Bella. – digo quebrando o muro invisível que nos separava.

-Você pensou em esconder essa gravidez de mim por quanto tempo, Alicia? Até nome você decidiu sozinha, porra! – perguntou, voltando ao tom irritado.

-Eu não pensei, não pretendi.

-Não pretendeu? – ele pergunta soltando o ar pelo nariz.

-Não.

-São cinco meses, porra! – ele pega uma das roupas e levanta, amassando-a com uma das mãos e arremessando de volta no carrinho. – são cinco meses que você está carregando um filho meu e não teve a coragem de me contar! 

-O que você queria que eu fizesse? Que eu fosse toda feliz te contar no seu escritório? Espera: você estava mesmo no escritório? – sorrio irônica.

-Você não vale nada!

-Eu não valho nada? – me contenho para não gritar.

Algumas pessoas ao redor já estão observando a movimentação diferente entre nós dois. Deixo o carrinho ali e dou meia volta, me dirigindo até a porta de saída da loja.

-Eu vou te processar! Você está fazendo algo ilegal! Você não merece esta criança. Você vai se arrepender, Alicia! – ouço-o esbravejar de dentro da loja e todos me olharem.

Saio apressada e corro em direção ao banheiro mais próximo. Entro em uma cabine, me tranco e pego meu celular. Minhas mão estão trêmulas e não consigo discar nenhum número, apenas um, por osmose.

-Alô? – a voz dele soa ao fundo e, pela primeira vez em dois meses, eu senti paz novamente.

-Alex? – o primeiro soluço rasga minha garganta e, após ele, outros dez vem.

-Alicia? Alicia, o que aconteceu? O que houve? Alicia, onde você está?

-Alex, eu estou na Carter's da avenida principal. Na verdade, estou em um banheiro do outro lado da rua.

-O que aconteceu? – ele pergunta e eu ouço barulho de chave, como se ele tivesse pego alguma.

-Ele me viu, ele me encontrou hoje.

-Marco?

-Sim, Alex, ele. – volto a chorar desesperadamente.

-Calma, não saia daí, eu já estou indo. Estou no restaurante, é perto, não se preocupe. Você quer que eu fique na ligação?

-Por favor.

-Tudo bem, eu estou aqui, não vou a lugar algum sem antes ter você no carro comigo. 



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