Alex

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Talvez essa seja a situação mais embaraçosa que já passei na vida. Não que ela esteja acontecendo comigo, mas deve ser um pouco desesperador e totalmente triste você ver alguém a quem você confiou o seu amor "na saúde e na doença até que a morte os separe", beijando outra pessoa que não você.

A única reação possível que eu pude ter ao ver o estado que a cliente estava – a cliente tem nome, é Alicia, por algum motivo gostei de saber disso – foi oferecê-la um copo de água. Sua amiga parecia estar perplexa tanto quanto ela. Tanto quanto eu. Tanto quanto nós.

Os olhos dela pareciam transparentes agora que boa parte do seu azul estava tomado por lágrimas. Suas bochechas antes rosadas, agora estavam vermelhas e era nítido o seu esforço para não derramar nenhuma lágrima, tudo bem que não teve muito sucesso, porque elas começaram a cair de forma involuntária.

Eu queria dizer para ela não chorar. Que era muito bonita para estar naquele estado por um cara tão mal caráter. Mas também não tinha nada a ver com isso, é uma cliente e aposto que ela não gostaria de receber conselhos de um garçom.

Os minutos seguintes causaram um estardalhaço danado dentro do estabelecimento. O cabelo ruivo da moça que antes estava sentada a minha frente, voava no ar, parecendo uma chama bem inflamada, enquanto ela andava rapidamente em direção à mesa.

-Alicia, não! – sua amiga levantou logo em seguida no intuito de segurá-la, mas o braço da garota irritada soltou das mãos da amiga desesperada.

-Como você pôde? – ela bateu no ombro do cara que agora estava em pé, sem reação.

Por um minuto eu quis rir. Vê-lo totalmente sem jeito em meio aos olhares julgadores foi algo que jamais vou esquecer e reforço minha ideia de que: jamais vou fazer alguém sofrer desse jeito. Jamais vou amar alguém e depois agir assim, até porque isso não é amor.

-Eu fico esperando você chegar para jantar e é assim que você diz que tem coisas para resolver, Marco? – ela insistia enquanto ele ficava calado, olhando-a, olhando a outra, olhando ao redor. – fala alguma coisa! – ela exigia.

-Alicia, por que você veio para o restaurante jantar? – perguntou.

-O que? – ela pulou no lugar, incrédula.

O QUE? Fiquei incrédulo. Ele está tentando culpa-la por sair de casa enquanto ele deveria estar lá para jantar com ela e não com outra? O cara é inacreditável.

-Como você pode tentar reverter isso assim? – parece que sua voz perdeu a força – eu te entendi o tempo todo. Aceitei seu trabalho. Aceitei ficar noites sozinha em casa. Aceitei tudo. E você estava com ela ou quem quer que seja? – pergunta se esforçando para os soluços não te atrapalharem.

O homem levanta da mesa ao ver Alicia se desfazendo em lágrimas. Envolve ela em um abraço – sinto algo dentro de mim incomodando no meu mais profundo interior – e pega seu rosto com as duas mãos, pedindo desculpa. Naquele momento todos ao redor não acreditavam no que viam. Mas eu rezava para que, assim como eu, as pessoas pudessem sentir alívio com as palavras que poderiam vir em seguida.

-Não, Marco. Isso é imperdoável. – ele se afasta.

Sim, estou aliviado porque temia outra resposta.

-Você está sendo injusta. – fala balançando a cabeça.

-Eu? – ela exclama.

-Depois de tudo que eu fiz por você. Se hoje você não trabalha, é porque tem tudo que tem por causa de mim. Se hoje você tem uma vida da qual não se preocupa com nada, é por causa de mim. Você deveria me agradecer. Deveria relevar coisas bestas, como essas.

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