Capítulo 6

17 2 0
                                    


O papo estava fluindo de um jeito perfeitamente incrível. Alex vez ou outra – várias vezes – arrancava sorrisos meu e eu estava adorando rir tanto. Ele era incrível.

Meu celular vibrou a primeira vez em cima da mesa e eu não olhei, pensei que tinha sido uma mensagem mas, pela forma que o segundo vibra foi intenso, sabia que era uma ligação. Relutei um pouco para atender mas Alex fez um gesto com a cabeça mostrando não se importar e assim eu deslizei o telefone, atendendo quem quer que fosse.

-Alô?

-Alô, Alicia. – Marco diz do outro lado da linha e eu mudo completamente a expressão, fazendo com que Alex deduza quem é, imagino.

-O que você quer? – perguntei.

Ouvi um riso abafado no telefone, sabia que ele viria com alguma gracinha desnecessária.

-Você deveria estar me tratando melhor, tem algum tempo que não me vê. – dispara.

-Só tem, aproximadamente – falo olhando o relógio em meu pulso – doze horas que não te vejo. Aliás, eu não estou com tempo para esse tipo de conversa. O que você quer? – insisto.

-Estive na portaria do seu apartamento para pegar algumas coisas minhas que ainda estão no escritório e o porteiro disse que você não estava em casa e que eu não tinha mais acesso ao apartamento. Que você trocou a chave de segurança. – ele bufou do outro lado do telefone. – onde você está?

Onde eu estou? Isso não era da conta dele.

-Onde eu estou não é da sua conta. Você precisa saber só que não estou em casa e isso lhe basta. – digo.

Ele para um pouco ao fundo da ligação e eu penso ter desligado mas, assim que eu estou prestes a encerrar a ligação, ouço sua voz ao fundo.

-Está em uma festa? – suspiro irritada.

-Não que eu deva dar qualquer tipo de satisfação a você, mas não, não estou.

-Desde quando está gostando de sair com garçons?

Essa última frase me pegou em cheio. Olhei ao redor e nunca senti tanto medo. Ele me seguiu? Ele chegou antes na frente do meu prédio e se escondeu para que eu não visse? O porteiro disse as características do meu acompanhante?

Alex me olhou e sibilou "está tudo bem?" eu balancei a cabeça, fazendo sinal de positivo com o polegar.

Não, não está. Limpei a garganta.

-O que você quer afinal? – não dei a ele o gosto de confirmar com quem eu estava, só quero saber como ele descobriu.

-Ele está trabalhando te servindo ou você realmente desceu tanto o nível? – desliguei o telefone. Não ia esperar o próximo insulto.

Alex olhou a minha reação e logo estendeu o braço, segurando minha mão. Seu polegar acariciava as costas da minha mão e eu sentia uma mistura de ódio e como se uma corrente elétrica passasse da minha mão para meu corpo.

-Era ele? – eu sabia a quem ele estava se ferindo.

-Sim.

-Ele está zangado com você? O que ele te disse? – ele parecia preocupado.

-Não se preocupe, Alex... – falei – ele não estava fazendo parte do nosso encontro até agora, logo, ele não fará. Voltemos a você, me fale mais sobre como é tentar desenhar um coelho em um arbusto. – ele riu e eu relaxei na cadeira.

...

O caminho de volta para casa foi um pouco silencioso. Eu estava morrendo de sono e já não conseguia achar sentido nas palavras que saíam da minha boca. Amanhã precisaria acordar cedo para correr, como de costume. Alex parou o carro e eu logo percebi que já havíamos chegado. Antes que eu pudesse sair, ele desceu e arrodeou o carro, abrindo a porta do carona para mim.

-Obrigada. – sorri e fechei a porta atrás de mim.

Encostamos nossos ombros na porta do carona e ficando de frente um para o outro.

-Foi incrível. – ele disparou. – nem vi a hora passar.

-Você é uma ótima companhia. – assumi.

-Se eu te elogiar mais uma vez você vai achar que estou apaixonado por você.

E não está? Fiquei decepcionada com esse comentário, mas logo ele se superou.

-Então, lá vai mais um elogio. – gargalhei.

Era um palhaço mesmo. No sentido bom.

Fico esperando o elogio, mas ele não vem. Vem algo mais que inesperado. Não estávamos no clima para um beijo. Quer dizer, eu não considerava a hipótese de ter um beijo no primeiro encontro. Acho que se eu fechasse os olhos por um minuto, viria Marco na minha mente e provavelmente empurraria Alex longe.

Mas não foi um beijo. Foi algo que eu tomei como se fosse. Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e pôs a mão no meu pescoço. Sorriu para mim e com o polegar acariciou aquele lado da minha bochecha. Beijou minha testa e desceu a mão pelo meu braço.

-Acho que durante todo esse encontro eu não te disse o quanto os seus olhos ficam lindos e brilhosos quando se enchem de expectativa. – disparou, me olhando de forma penetrante.

Arfei, mordendo o lábio inferior e sorrindo sem jeito.

-E com o que eu estaria com expectativa afinal? – perguntei baixo mas o suficiente para que ele ouvisse.

-Não sei – ele se aproximou. – talvez você queira muito algo que eu venho querendo desde o momento em que você me disse que era de touro. – ele sorriu.

-Você gosta de signos? – franzi a testa.

-Você não? – ele retrucou.

-Não sei o que eles significam, afinal. – digo.

-Ah! – vi sua expressão mudar – então vou tirar essa das listas de cantadas que eu pensei para você hoje.

Ele ensaiou as cantadas? Ele não existe.

-Mas ouvi dizer que meu signo é muito teimoso e determinado. – disparo.

-Também sou de touro. – ele retruca. – teimoso também e determinado mais ainda.

Nossos olhos estavam unidos e as respirações também. Eu mencionei que agora ele estava com as duas mãos segurando meu rosto? Não? Pois ele está.

-Estou determinada a fazer algo que eu estava teimando em não fazer. – digo quase que em um sussurro.

-E o que você estava teimando em não fazer, Alicia Angelle? – pergunta.

-Beijar você. – retruco.

-Eu não vou teimar então. – ele beija une nossos lábios e me da um selinho longo. Beija minha testa. Roça a ponta do seu nariz na ponta do meu nariz e, mais uma vez, me dá um selinho longo. Sua língua pede passagem nos meus lábios e eu sedo.

Eu estava nas nuvens e, se ele não estivesse me segurando com tanta firmeza no rosto, talvez eu já estivesse no chão porque não sentia minhas pernas.

Cessamos o beijo e ele voltou a me olhar, com um sorriso no rosto.

-Vou teimar em não me apaixonar por você. – ele diz.

-Eu não vou nem teimar.

Rimos. Voltando a nos beijar.


All of usOnde histórias criam vida. Descubra agora