Marco

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Faz algumas semanas que tenho tentado falar com Alicia e não consigo. Ela anda me ignorando de todos os jeitos e, para não dizer que estou atrás dela por ainda sentir alguma coisa, estou precisando porque alguns papéis eu não consigo assinar, apenas ela, filha da marquesa, é responsável por isso, mas parece que esqueceu os compromissos.

Pego meu celular mais uma vez e olho a sua tela. Não tem uma mensagem sequer dela. Moro de frente para uma universidade de medicina aqui de Copenhagen. Estou na janela respirando fundo e digitando outra mensagem para ela quando meus olhos são chamados atenção para um borrão conhecido saindo da faculdade.

Eles agora são capazes de focar no garçom que me segurou na noite anterior. Um universitário talvez ou entregador em tempo vago também?

Sabe que porteiros são ótimos em fofoca quando você da algumas coroas dinamarquesas a eles? – ou até mesmo quando não da. – o porteiro do prédio em que morava com Alicia, me disse e descreveu as características do homem com o qual ela saiu acompanhada naquela noite e eu não podia deixar de reconhecê-lo agora que estou vendo da janela do meu apartamento.

Desço as escadas com rapidez, mas assim que chego à entrada do prédio, ele já arrastou e com a BMW preta bem citada pelo porteiro. Preciso tirar uma palavrinha com este canalha.

Volto para o apartamento e fico trabalhando de casa. A cada problema resolvido no trabalho, um copo de whisky, sempre gostei, é uma distração muito boa. Meus olhos se voltam para minha foto com Alicia que, por algum motivo, ainda está pendurada na parede a minha frente. A raiva que me consome em seguida é difícil de explicar então eu simplesmente arremesso o copo na direção do quadro que estraçalha no chão, misturando seus vidros aos do copo, agora também estraçalhado.

Pego o celular mando uma mensagem para Alicia.

"Eu vou acabar com ele." Enviei. "você perdeu totalmente a noção de classe, Alicia." Enviei. "Você está louca." Enviei. "Está pondo em risco nossos negócios, os negócios de sua família." Enviei. "De nossa família." Enviei. "Você está sendo egoísta." Enviei.

Resmunguei comigo mesmo e fui buscar outro copo. Parei no meio do caminho e decidi que virar a garrafa de uísque seria melhor – muito melhor. As gotas do álcool caiam em minha camisa social e eu já não respondia muito por mim. Quando Alicia costumava ser minha, ela sempre me ajudava em alguns momentos em que eu me sentia perdido, como agora.

Mas, hoje, Alicia é o motivo da minha perdição. Ela está pondo em risco nossas coisas por uma decisão egoísta. Do jeito que o filho da puta saiu sorrindo para o celular, aposto que estava conversando com ela. Aposto que ia encontra-la. Se ele já não estiver indo para lá, ou pior, se não tiver chegado.

Volto para trás da porta do consultório e vou em direção a porta de saída. Deixo a garrafa de bebida em cima da mesa de centro e pego as chaves do carro, batendo a porta em seguida. Ligo o carro e saio cantando pneu, eu não estava bem para dirigir mas a força da raiva me motiva a muitas coisas tanto quanto a disciplina me motiva ao trabalho. Não demorou para que eu chegasse ao apartamento de Alicia. Os sinais vermelhos me ajudaram bastante e, se ultrapassei alguns, pouco me importa, dinheiro não falta.

Como eu previ. A BMW estava parada na porta do prédio de Alicia. Dei um sorrisinho e parei o carro de forma brusca, desci e apertei o botão para travá-lo. O tal garçom estava encostado no carro, com os braços cruzados, olhando para frente e sorrindo. Olho na direção para a qual ele olhara antes e vejo Alicia descer as escadas.

Eu diria que não vi Alicia, mas sim um fantasma, porque assim que seus olhos encontraram os meus indo em sua direção, ficou mais pálida do que cadáver.

-O que você está fazendo aqui? – ela sibilou. Eu sorri. O garçom, no entanto, me olhou e olhou para Alicia, perdendo completamente o sorriso que carregava consigo antes.

Eu vou acabar com isso. Agora.


All of usOnde histórias criam vida. Descubra agora