Alex

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Georgia caiu na cadeira ao meu lado, aliviada por Alicia não precisar passar por nenhuma cirurgia. Confesso que também estou aliviado. Todos os exames deram normal, apesar da pequena fratura na costela e a concussão na cabeça.

Algumas horas depois já estávamos dentro do quarto grande do hospital onde Alicia ainda seguia dormindo. Sentamos cada um de lados contrários nas poltronas ali dispostas e olhávamos fixamente para o anjo ruivo que dormia diante de nós.

-Não sei como ele teve coragem. - Senti que Georgia fez um grande esforço para falar.

-Ele não vale nada. - Retruquei me recostando na poltrona e cruzando os braços.

-Ela deve denunciá-lo, eu farei de tudo para que ela o faça. - Diz convencida.

-Isso precisa partir dela, Georgia, é o certo a se fazer, mas não sabemos se ela está preparada para passar por todo o trâmite que é isso, principalmente agora que está nesse estado.

-Eu sempre soube que esse casamento iria para o ralo antes mesmo de acontecer. – suspirou pesarosa.

Alicia franziu a testa e grunhiu. Ambos, eu e Georgia, pulamos das poltronas e nos colocamos à frente dela para que fossemos os primeiros a serem vistos por ela. Assim aquele mar azul se abriu com dificuldade e fitou a mim e a sua amiga.

Ela passou a mão sobre a testa e resmungou ao sentir a textura áspera do curativo ali feito. Chegamos mais perto dela com cuidado para não assustá-la e Georgia disparou a primeira fala.

-Como você está se sentindo?

Alicia abriu um pouco a boca mas não disse nada, parecia estar processando algo, quando terminou de olhar ao redor, seus olhos se tornaram marejados e a primeira lágrima escorreu. Várias outras sucederam a primeira e então ela caiu em um choro profundo. Os soluços saíam de forma involuntária da garganta e seus ombros tremiam, agora envolvidos no abraço da amiga.

-Está tudo bem, calma, estou aqui – Georgia me olhou de relance – estamos aqui. – ela corrigiu.

Balanço a cabeça em negação. Não porque neguei a frase que ela disse. Sim, estou aqui, estou aqui para tudo que Alicia precisar e farei a promessa de jamais sair de seu lado. Mas me nego a ficar parado olhando todo o seu sofrimento, odeio pensar que esse agressor filho da mãe está solto que, provavelmente, não será preso por ter influência política e conhecer os donos da lei. Mesmo com todo esse sentimento de impunidade e impotência dentro de mim, me disparo para perto das duas e passo a mão na cabeça de Alicia, fazendo carinho em seus cabelos.

-Alicia, está tudo bem, não vamos te deixar sozinha. Estamos aqui com você. – queria poder dizer mais, mas infelizmente foi a única coisa que consegui dizer, não queria que ela percebesse a raiva em minha fala.

-Onde ele está? – ela engoliu um soluço e proferiu suas primeiras palavras.

Georgia sentou-se à frente da amiga.

-Não sabemos ainda, amor. – ela acariciou o rosto de Alicia. – mas breve saberemos.

Alicia assentiu, ela não acreditava nas palavras de Georgia pelos mesmos motivos que eu não acreditava que algo de justo seria feito contra esse canalha mas, mesmo assim, ela aceitou as palavras da amiga.

Eu olhava para Alicia e admirava seu rosto. Suas bochechas vermelhas após as lágrimas, seus lábios perfeitamente desenhados, lindos, mesmo com um corte no lábio inferior. Estava completamente perdido nos seus olhos azuis curiosos que, vez ou outra, olhavam para mim e depois para a extensão do quarto atrás de mim.

Georgia nos olhou e pulou da cama.

-Bom, eu vou buscar um café para o futuro doutor que aqui temos. Enquanto isso, ele pode ficar de olho na paciente mais bonita que esse hospital tem o prazer de atender. – sorriu se dirigindo rapidamente até a porta, antes mesmo que eu pudesse me prontificar a buscar o café em seu lugar.

O silêncio tornou-se ensurdecedor, até que eu o quebrei.

-Como você está se sentindo? – uma pergunta idiota.

Se ela quiser disparar um tapa na minha cara como resposta, estarei aceitando.

-Anestesiada, eu penso. – disse me olhando nos olhos. Sua expressão era de seriedade.

-A médica disse que amanhã, talvez, você tenha alta.

-Preferia ficar aqui. – ela retruca. – aqui ele não me procuraria.

-Você pode ficar no apartamento de Georgia por hora, até achar algum outro lugar para ficar. - digo.

-Não quero ser um incômodo.

-Você não vai incomodá-la, eu tenho certeza disso mas, se não estiver se sentindo bem para ficar na casa dela, você pode ficar na minha.

Ela estreitou os olhos.

O que eu pensei quando dei essa possibilidade? Como eu espero que ela queira ter contato ou confiar em qualquer outro homem, depois do que ocorreu? O quão burro eu fui? Precisaria contornar a situação, não queria deixa-la desconfortável.

-Tudo bem.

Opa.

-Tudo bem o que? – me assusto com a resposta rápida demais.

-Eu posso ficar na sua casa. – ela observava todos os meus movimentos.

-Eu não quero que você se sinta desconfortável com nada. Não quero que você pise em ovos, eu sei o quanto essa situação foi perturbadora para você, só quero que você se sinta bem onde quer que esteja. – sou interrompido pela maciez dos seus lábios nos meus, seguido de um gemido de dor vindo dela. Sua reação foi se afastar, mas meu coração ainda batia muito forte para que eu pudesse achar palavras.

Solto um sorriso sem jeito, surpreso, talvez.

-As vezes você fala demais, Alex. – ela dispara, levando as mãos para perto das costelas e apertando ali, fazendo uma careta.

-Essa costela está fraturada. – ela me olha.

-Qual costela?

-Essa. – levo as mãos até a costela fraturada e aperto delicadamente ali, ela contrai o corpo e morde o lábio inferior, cravando as unhas em meu antebraço de forma leve.

-Que droga. – resmunga.


Oi, meus amores, eu sei que sumi, mas agora eu voltei e vou liberar dois capítulos hoje. Liberei esse agora pela manhã e, mais tarde, eu libero o outro. Beijos <3 estava com saudades.


All of usOnde histórias criam vida. Descubra agora