Alícia pt 2

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Agora eu estava dentro do carro acompanhada de Alex e Georgia

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Agora eu estava dentro do carro acompanhada de Alex e Georgia. Alex dirigia em silêncio, algumas poucas vezes trocava olhares comigo, mas nada além disso. Por mais que Georgia fingisse estar alheia, ou muito chocada com a notícia, eu sabia que ela queria me abraçar, gritar, dizer que vai escolher o enxoval do bebê e que quer ser madrinha – ela vai me forçar a ser madrinha, pelo menos essa vai ser uma preocupação a menos na minha enorme lista de preocupações que já ronda minha cabeça.

Alex deixa Georgia em casa. Ela insiste em querer ir para a casa dele e passar a noite comigo. Digo que estou melhor – mentira, continuo tremendo mais do que vara verde – aceno para ela e seguimos viagem, o apartamento dele é um pouco distante, mais para o litoral norte de Copenhagen.

-Como está se sentindo? – ele quebra o silêncio entre nós.

-Não sei. – passo a mão na barriga e essa é uma sensação estranha para mim, me compadeço de algo que nem sei o porquê de estar compadecida.

Tiro a mão rapidamente da barriga. Ele percebe. Solta o riso pelo nariz e volta os olhos para mim quando paramos no sinal vermelho.

-Você não fazia ideia, né? – pergunta.

-Não. Achava que os enjoos eram por conta das medicações – resmungo.

-Então você já tinha se sentido mal antes?

-Sim, na noite em que você precisou sair para fazer um trabalho da faculdade.

Ele parece ficar bravo, mas não muito.

-Alicia, poderia ter acontecido algo com vocês.

Não entendi muito bem o uso do plural, mas logo caio em mim, mais uma vez. Acho fofa a forma como ele fala vocês.

-Não queria preocupar. – disparo.

-Você poderia ter falado com Georgia.

-Liguei para ela e ela estava em um encontro, Alex. – ele não responde nada.

Georgia merece dar certo com alguém, já faz anos que ela não conhece um cara legal depois de Ryan.

Ficamos em silêncio. Minhas pernas doem. Resmungo e ele percebe.

-O que foi? – pergunta atencioso, como sempre.

-Estou com dor nos pés. – falo.

-Venha.

Olho para ele sem entender o que quer dizer.

-Coloque suas pernas aqui no meu colo, você pode estirá-las.

Fico sem jeito. Pergunto a mim mesma se não seria mais fácil eu coloca-las no console do airbag. Enfim, decido aceitar colocar em cima das pernas dele. Ele ajeita o banco, empurrando para trás, dando espaço para eu colocar as pernas ali.

Ficamos em silêncio mais um bom pedaço do caminho, quando estamos quase chegando, Alex resolve quebrar o silêncio. Ele é especialista nisso.

-Qual nome você está pensando em dar ao bebê?

Sinto um soco no estômago. Por um bom tempo desse trajeto eu estava tentando esquecer que agora eu gestava um ser. Alex me lembrou, não por maldade, mas lembrou. Isso era algo que eu não queria lembrar.

-Não sei ainda. – respondo.

Ele volta o olhar para frente e estaciona o carro. Desce primeiro e em seguida me ajuda a descer. Agradeço e entramos em casa. Alex me pergunta se preciso de algo e digo que não – desta vez não preciso mesmo – ele assente e vai para o quarto, faço o mesmo, indo para o meu.

...

Dois meses se passaram desde a descoberta da gravidez. Marco não sabia, nem iria saber. Por mim, essa criança cresce e não vê o respectivo pai pintado de ouro.

Alex estava sendo tão presente que, as vezes, eu pensava que, se esse filho fosse dele, com certeza seria feliz por ter um pai bom e ótimo.

Na noite que passou, eu senti fortes cólicas, não conseguia me movimentar muito e, quando estamos grávidas, parece que a bexiga sai do lugar porque toda hora é vontade de fazer xixi. Passei as mãos na cabeça e soltei o ar pela boca. Sustentei minhas mãos nos joelhos e resmunguei. Alex abriu a porta de seu quarto, colocando metade do corpo para fora.

Estava sem camisa, quase uma obra de arte, se não uma. A cólica até deu uma pontada maior.

Ri sem acreditar na minha própria dor. Levanto os olhos para Alex e balanço a cabeça. Ele vem até mim e passa seu antebraço por baixo dos meus joelhos, sustentando minhas costas com seu outro braço. Me carrega até a porta da cozinha e entramos.

Alex me põe no chão e entra na cozinha antes de mim. Me sento na bancada em formato de U, ele fica no meio do semicírculo. Está preparando alguma coisa.

-O que está fazendo? – me viro, agora ficando de frente para ele.

-Estou fazendo um chá de camomila, vamos ver se ajuda nas cólicas. – diz.

Sorrio sem mostrar os dentes. Olho minha mão e visualizo a cicatriz. Lembro que quando nos conhecemos, estávamos na mesma posição. Eu em cima da pia da cozinha, ele ao meu lado, suturando a minha mão. Ele percebe minha fixação na cicatriz.

-É uma bela cicatriz. – diz.

-Sim, ficou melhor do que eu imaginava que ficaria.

-E mais do que eu imaginava que poderia fazer. – ele diz descontraído.

Alex vem para minha frente e prendo a respiração, agora ele está quase no meio das minhas pernas, alguns centímetros distante. Nossos olhos se encontram, ele coça o pescoço.

-Preciso pegar um pote aqui neste armário. – ele aponta para o armário abaixo das minhas pernas. Abro mais elas e ele hesita um pouco antes de abrir as portas, mas logo faz, se abaixando para pegar o pote e subindo em seguida.

Alex fica a menos centímetros de mim, de uma forma que é possível sentir a sua respiração. Descompassada tal qual a minha.

Por um breve segundo perdemos o foco. Quero dizer a ele que a água está fervendo. Quero dizer que está na hora de colocar a camomila que está no pote. Quero que ele me beije. Quero que sua respiração se junte a minha. Quero sentir seu corpo tão quente quanto a água em ebulição. Quero muitas coisas, mas quando ele está quase perto de mim, para me beijar, o que eu mais quero fazer é xixi.

Droga.

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